segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O Segredo da Ordem - parte 3.1

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O terceiro nível cuida da iluminação. Aqui está o segredo central da ordem, e agora você já pode entender o que significa segredo, que é meio, método,  alavanca, ferramenta, e que central se refere à via que passa no meio em nosso modelo, entre as outras quatro vias (veja no símbolo, o modelo geométrico tridimensional das vias ). Vamos começar logo pelo nó mesmo, o mais mal entendido de todos, para esclarecer logo, o que é iluminação. A palavra iluminação tem gerado muita confusão. No ocidente, devido a péssimas influências, a palavra tem sido confundida com a definição oriental, mas ainda assim incorreta, o que é pior. Na verdade palavras (em sânscrito, páli,  chinês, japonês, etc.) que normalmente se traduzem no ocidente como "iluminação" significam "despertar", "acordar", outras seriam melhor traunidas como "libertação" ou até "emancipação". E estas palavras no oriente ainda significam várias coisas, a depender da tradição que a está utilizando, e este despertar tem um objetivo final que geralmente é atingir a liberação final chamada nirvana. Só que nirvana também é definido de maneira bem diferentes por cada tradução, religião e subdivisões. E ainda muitas dizem que nirvana é indefinifinivel, indescritível, que não há como saber como é  (portanto muitos desses orgulhosos que dizem que estão numa busca mais elevada nem sabem qual o seu alvo, sequer entendem o que estão buscando, estão entregues à própria cegueira e desejos). Então o que interessa para nós antes de tudo é saber o que é iluminação, qual o real significado dessa palavra, o que queremos dizer com ela, como descrevemos essa realização, qual a definição de iluminação, qual a definição ocidental, do dicionário, qual a definição geral, qual a definição específica que nós utilizamos. Ora, se iluminação é o nosso alvo mais elevado, temos que tê-lo bem claro em nossa mente.

Em nossa ciência iluminação é um esclarecimento especial que vai sendo gradualmente recebido (pois é longo) e leva a pessoa à auto-análise, ao auto-conhecimento (chamado coloquialmente de interno) e ao conhecimento direto (chamado de externo), finalmente, das verdades fundamentais e das necessárias para o processo alquímico completo até a iluminação no sentido tradicional. A obra em negro ou putrefação; a obra em branco ou a purificação; a obra em amarelo, a transformação dos metais em ouro; e a obra em vermelho, a culminação do processo, o casamento alquímico, a pedra filosofal, a iluminação. Esta que é a mãe de todas as ciências tem alguma razão para ser segredo hoje em seu sentido espiritual? Não. A parte medicinal avançou bastante na fitoterapia, na alopatia, na medicina; a parte química dos materiais também; a parte psíquica também, em várias escolas da psicologia, mas em particular na analítica; e a parte espiritual? Por que se continuar dizendo que é secreta? Esta postura só está contribuído mais ainda para a difamação da verdeira alquimia, para que falsos mestres, charlatães e interesseiros apresentem suas falsidades como sendo alquimia e todos acreditem, porque não sabem o que é alquimia de fato, muito menos que toda ela é simbólica,  que todos os processos materiais são a representação de um processo mental-espiritual. Que esses quatro processos tão alardiados e interpretados das maneiras até mais absurdas são um código para a alquimia espiritual.

O que é isso? É o que se resume na síntese alquímica: Ex Deo nascimur, in Christo morimur, per Spiritum Sanctum reviviscimus (De Deus nascemos, em Cristo morremos e pelo Espírito Santo revivemos). Os quatro processos alquímicos estão nessa frase resumidos, é isto que significa alquimia espiritual, renascer do Espírito e ser transformado (transmutação alquimica) pelo poder de Cristo em nós, até que venhamos a formar Cristo em nós, até a plenitude do conhecimento da verdade. Se você já leu as epístolas de Paulo deveria saber do estou falando.

O que era segredo no século XVII foi por uma necessidade, pois tanto os católicos quanto os protestantes perseguiam os anabatistas e todos os cristãos que se submetiam apenas à ordem Deus sendo guiados apenas pela bíblia e pelo Espírito Santo. Os dons do Espírito Santo eram vistos como obra do demônio; a pregação e ministério de não-ordenados era vista como heresia; não submeter-se a uma autoridade eclesiástica era uma subversão; a psicologia ainda no seu nascedouro (com nome de alquimia espiritual) era tida como uma prática pagã ou uma arte demoníaca. O provável autor desse lema da alquimia, Valentin Andrae, que escreveu As Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkeuntz (que não tem nada a ver com as ordens modernas que usurpar esse nome) era um teólogo, filho de pastor luterano, que foi um pregador, como seu pai, até o fim de sua vida. Por que esconder isso? O verdadeiro cristianismo está sendo perseguido novamente? Ou é motivo de vergonha para alguns que estão em algumas ordens? Parece mais provável a segunda opção. A única justificativa plausível encontrei numa ordem que já nasceu completamente já desviada pelas influências do movimento "nova-era", mas que pelo menos nisto se justificou, assumindo ser uma ordem cristã para levar a salvação de Cristo, também para pessoas de tendências esotéricas, não religiosas, ou decepcionadas com a religião. Uma outra esconde o "cristianismo" por vários graus até a pessoa ser levada a encarar graus tidos como cristãos. Mas não sei até que ponto podem ser chamados de cristão os que mostram Cristo apenas como um mestre, um homem que ensinou um método que, se bem praticado, levaria a salvação (ou seja, se dizem cristãos e não são). O que isso tem de cristianismo? Nada. O que tem diferente de outras religiões? Nada novamente. Algumas são assim, outras se dizem ora gnósticas, ora cristãs, e não são nem uma coisa nem outra, os auto-intitulados mestres mentem e os discípulos desinformados tem preguiça de pesquisar, ler e estudar.

Em nossa ciência, portanto, iluminação é um conceito alquímico: o casamento alquímico, a reunião da alma com o espírito,  da mente então já santificada e purificada com o espírito já restaurado, renascido. Como isto deve acontecer é o que ensinamos, e auxiliamos o estudante em sua jornada da transformação da alma, em Cristo (transmutação alquimica).

E em nossa tradição iluminação é ser iluminado: é receber luz, de onde há luz, de quem tem luz, recebemos luz, daquele que é luz... Isto é o significado tradicional, o resultado neste sentido iluminação é isto que vai desde o esclarecimento (por livros, por outras pessoas, etc.) que inclue o processo de salvação e regeneração até a inspiração e ou revelação (do e pelo Onisciente) que vai desde as coisas mais simples e cotidianas até o conhecimento completo da verdade que inclue a reintegração, o retorno à natureza original. E então sim, aí ocorre o despertar completo da consciência propriamente dito que é tomar consciência de outras realidades, é a consciência penetrando em níveis tanto mais sutis quanto mais abrangentes de sua própria realidade e possuir como seu conteúdo próprio tanto um senso muito mais abrangente e o sentido dessa realidade passageira quanto o da realidade eterna, ou seja, do real. A luz vem do Pai da luzes, e a luz é o verbo, o logos, que tudo criou e em quem tudo existe, que veio a nós para habitar em nós e é a vida eterna.

Nossa definição abrange todo o significado, de todo o processo (tanto o científico quanto o tradicional). Que é desde receber luz inicialmente até ser todo iluminado, todo luz, eternamente. É isto que precisa ser bem entendido, pois a maioria das pessoas que dizem estar buscando a iluminação chegam até a sentir que buscam algo superior às outras buscas religiosas ou pessoais, mas se você perguntar o que é que elas estão buscando terá uma resposta muito vaga. Elas não sabem de modo algum o que estão buscando, não têm idéia, nenhum referencial, nem podem definir o que buscam, se perguntarmos e insistirmos que expliquem ouviremos finalmente apenas no máximo um sincero "eu acho" ou continuarão enganando a si mesmas e dizendo que não há como explicar (mas creio que expliquei bem até aqui, então...) ou que você não é capaz de entender ou que isso é para poucos...

Esta arrogância dos que dizem não procurar a salvação, mas sim a iluminação, tem uma razão de ser. Que são idéias plantadas propositadamente elevando o orgulho dos que concordam com tais idéias, cauterizando a consciência, impedido que constinuem sua busca em direção à verdade desconhecida (pois é bem mais agradável e parece mais seguro para o enganado que tenha um alvo que pareça mais nobre e já descrito como sendo conhecido por outros, supostos mestres, ilulminados, avatares, grão-mestres, etc. de percepção insuperável e inalcançável por quem não os segue cegamente). Mas de onde aprenderam o que devem buscar? Naturalmente todos os seres procuram viver e estender essa vida, mesmo pessoas em profunda miséria ou doenças não querem morrer, nem deixar de existir, todos querem existir e em melhores condições do que as que estão. Isto é o natural e comum a todos. É um instinto. Inclusive o excesso desse instinto é perfeitamente compreensível e até comum: muitos fariam de tudo para sobreviver mesmo nas piores condições de vida, e mesmo aqueles nas melhores condições de vida ainda querem mais e uma vida ainda melhor. Salvação e iluminação naturalmente, como entendem  (como uma somatória e ou resultado de práticas, experiências, méritos próprios e esforços pessoais) na ordem natural das coisas, não na ordem original, não vai muito além do que a sublimação de um instinto, ou do instinto de sobrevivência, auto-preservação e ou do impulso de buscar melhores condições de vida, de buscar prazer. E o resultado é ainda nesta natureza, não se libertam, se prendem a novas e exóticas ilusões e até alucinações, continuam no mundo da mente corrompida e confundem práticas psíquicas com espirituais,  confundem realizações mentais com espirituais, confundem mente com consciência e por isso prosseguem com seus enganos. Mas o que nasce da carne (exercícios,  práticas, esforços, méritos, etc.) é carnal e o que nasce do espírito (da consciência pura e do Espírito Santo de Deus) é espiritual.

Esse instintos podem ser desviados numa direção ou noutra, serem sublimados (o que pode não ser ruim a depender de como e em que são sublimados) ou, por outro lado, levados a atitudes desesperadas,  isto depende muito das condições a que a pessoa esteja colocada, de sua interpretação das experiências, mas também, em uma pequena parte, depende de suas escolhas, de como encara sua experiência.

Por isso muitos buscadores da iluminação podem se decepcionar com nossa ordem, se seu anseio não for sincero ou se eles não suportarem o auto-conhecimento, a auto-descoberta, o que há para ser realizado... Porque a luz quando brilha discipa as trevas, quem esconde algo nas sombras sempre se machuca. E talvez uma das primeiras luzes que machuque é a luz que vem sobre eles mesmos, sobre o que pensam de si mesmo e o que gradativamente vão percebendo que verdadeiramente são. Se ver, como realmente é, machuca muito, se não souber como olhar e se identificar com o que vê (por isso é preciso aprender a ver, interpretar, analisar e abandonar o que é prejudicial). Esta fase, este nível, é  para os que não apenas aprenderam e viram, mas amadureceram no despertar e autoconhecimento da primeira fase, e na entrega, dedicação e confiança da segunda fase. Mas também muitos serão magoados até por saber o que é de fato iluminação, nem todos vão querer seguir para este alvo (o desta via, chamada pistis sophia (sabedoria confiante, ou sabedoria da fé, conhecido como caminho da fé, ou caminho da religião por outros, ou caminho crístico, etc.) e vão seguir pela via da ciência, da filosofia, da psicologia (via da experiência), etc..

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