sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O Grau Rosacruz -parte 4

No passado houveram três meios cogitados para a salvação, eles são modernamente chamados de via do cultivo da personalidade, via da separação da personalidade e via da união à divindade.

O primeiro pode ser equiparado ao cultivo do eu, ou cultura do eu. Foi o caminho dos filósofos (da via da razão) e dos yogins (ou via a partir do corpo).

O segundo é confundido com o "negue-se a si mesmo", mas não é esse. Separação da personalidade é, para uma parte, a negação do eu, é afirmar que o eu não existe, é abandonar a falsa idéia de eu, etc.. Este foi o caminho seguido por muitos yogins também, incluindo os budistas, alguns taoístas, os jainistas, e também foi seguido pelos empiristas, incluindo alguns taoístas, etc.. Mas esta separação também podia ser mecânica, isto é, não negava a existência de um eu na pessoa, mas propunha a separação dele, deixando o corpo e tudo relacionado à matéria, e indo ligar-se a um "Eu real", ou uno ou absoluto etc., ou simplesmente atingindo "o nirvana", para estes, um estado de "não-eu". Esta via foi seguida também por muitos desses citados, incluindo os ascetas e faquires. Ou ainda podia ser, para outra parte, vista como um meio de, deixando o corpo material, em um corpo espiritual, ou mental, etc., ir às dimensões superiores. Os hermetistas e outros ainda também utilizaram essa via.

É óbvio que esses caminhos não tem relação lógica com salvar-se e de fato não podem salvar a pessoa da existência nesse mundo baixo, da decadência, nem dos níveis mais inferiores ainda que esse (mas não cabe aqui discutir isso agora, nem as evidências dessa obviedade). Todos eles foram e são bastante úteis como meios de atingir certos conhecimentos. Tanto que uns são utilizados pela psicologia,  por exemplo, até hoje, de outras formas,  mas se trata exatamente da mesma coisa, separação do engano de um falso eu e ou, muito mais comumente, cultivo do eu ou da personalidade. E isto tem tido sua utilidade nas patologias e até certo ponto no geral também. Ainda podemos encontrar a ferramenta hermética utilizada em alguns campos da ciência, na parapsicologia por exemplo, e muitas ordens se utilizam disso como modo de obter experiências  (ainda que suas interpretações sejam erradas e incompletas) que leva, a ter consciência de dimensões mentais e as vezes até espirituais. Enfim todos esses meios ainda são usados para objetivos diferentes, mas sabemos que não nos leva à salvação, à libertação, à iluminação...

O terceiro talvez seja o mais simples e famoso, que é unindo-se o eu e ou a personalidade a divindades através basicamente do culto a elas, feito de várias formas. Essa via é usada por muitos como alguns xamânicos; os paganistas, politeístas, animistas, panteístas, etc.; as religiões antigas como da Grécia antiga, Roma, Esparta, Egito, Congo, e em toda África, Índia, Mongólia e China, na verdade, também pelos famosos astecas,  maias, etc.. Os livros filosóficos mais antigos da Índia já advertiam "você se unirá a tudo aquilo que ama [ou adora] e presta culto" e por isso há o mandamento "somente ao Senhor teu Deus adorarás e somente a ele prestarás culto". Não é uma exigência egocêntrica de Deus, é o modo dado pelo eterno para livrar-nos do mal de, por engano ou má consciência, nos ligarmos a ídolos, falsos deuses, espíritos impuros, etc.. 
Já nesse caso é claro que não passa de um grande e terrivel engano, que no máximo pode servir nesta vida como um tipo de cultura da personalidade, por exemplo. É muito óbvio para nós aqui que estes meios são, em suas esmagadora maioria, dirigidas para "divindades" erradas, gerando não apenas enganação, mas ao seu fim, condenação. De forma alguma poderiam gerar qualquer libertação, pelo contrário, só aumentam as obrigações inúteis que distraem e que ligam a pessoa a esse mundo e ao teatro que estão representando sem saber e finalmente à mesma dimensão inferior a que estes espíritos estão indo invariavelmente.

Estes meios ainda que no passado pudessem conduzir à  libertação (e de fato não podiam) hoje estão mais do que obsoletos. Pois o ser humano tem degenerado, corporalmente, psíquicamente e espiritualmente a tal ponto que não pode produzir de si coisa alguma, nada pode ser produzido por força própria do ser humano em questões espirituais,  absolutamente nada, o ser humano é completamente impotente em relação a seu espírito e alma (onde mesmo os poucos resultados sao temporais e exigem muito esforço  e superação) no que tange à eternidade e ao pleno conhecimento da verdade. O ser humano mal consegue por sua vontade e esforços permanecer consciente, atento, alguns minutos no presente apenas, sua mente por si só vai a mil lugares; suas emoções também não estão sequer parcialmente sob seu controle, é tão reativo como qualquer outro animal; não pode sequer ficar consciente nos sonhos sempre que queira, nem sequer lembrar o que quer, na hora que quer,  informações que estão ali em sua mente, mas ela as libera segundo suas próprias regras, o eu não tem controle senão temporário ínfimo,  sobre tudo isso. Imagine, se nós não podemos manter nossa consciência nem no sono, o que garante que a manteremos ou que despertaremos mais ainda depois da morte? O que garante que ela estará onde queremos que esteja, que veremos e vivenciaremos o que esperamos.? É preciso uma força realmente espiritual, que tenha o poder, só o que é espiritual pode atuar no espírito, o resto é engano.

Mas existe uma quarta via, que até utilizou, historicamente falando, em alguns momentos, essas outras, mas mais para beneficiar os que nela se encontravam. Nesta via o eu (não importa se seja considerado transitório ou essencial) é transformado de forma correta, ou seja, de volta aos padrões originais, da natureza original, não da decadente, isto é, não dessa natureza mortal. Ela é chamada de via trasfigurística por alguns ou via da transmutação por outros. É a via alquímica. E aqui sim, agora temos a via do "negue-se a si mesmo", pois não é simplesmente a negação do eu não tendo um substituto, uma realidade para colocar no seu lugar; não é uma afirmação de que o eu não existe, é dizer o que é que existe, o que é que ocupa legitimamente esse lugar, no retorno à natureza original, na cura humana.

Nós não siplesmente expulsamos o eu ou o negamos. Nós o deslocamos, colocamos no seu lugar, que é a cruz. Mas não por nosso esforços, não por nossas mãos, e sim através da aceitação, recepção, crescimento e desenvolvimento do real, do eterno em nós, que é Cristo em nós, que é o botão de rosa que vai desabrochando em nós. Onde? Na cruz. O eu vai para seu devido lugar, que é na cruz, e o eu é nossa cruz, Cristo é a rosa. O eu é crucificado, mas quem faz essa obra é Cristo em nós, nós não temos capacidade de irmos para a crucificação, nós apenas tomamos a nossa cruz e seguimos a Cristo negando a nós mesmos,  como ele fez, e o Cristo gradualmente tomará o lugar do eu. Esse é o processo trasfigurístico da rosacruz verdadeira, chamado transmutacão alquímica. É assim o processo. Pois "ele deve crescer e eu devo diminuir", até  que "não viva mais eu mas Cristo viva em mim", e que "Cristo seja tudo em todos"...

sábado, 14 de dezembro de 2019

O Grau Rosacruz - parte 3

Uma maneira de descrever os sete graus dessa via é pelo que a pessoa deve predominantemente aprender em cada  um deles. É uma sequência de aprendizados que devem ser praticados em toda sua capacidade e possibilidade, cumulativamente, por cada grau:

1. Esclarecimento
O estudo intelectual, tudo que precisa ser estudado, analisado, lido, relido, anotado, ouvido, assistido, etc.. Iluminação também significa esclarecimento, a para informação não é iluminação, ela precisa ser processada: relacionada a outros conhecimentos, analisada, racionada, meditada, ponderada, entendida, compreendida, possuída. Mas é preciso aprender a aprender, aprender a estudar, desenvolver a atenção voluntária a concentração consciente, despertar capacidades atrofiados e adormecidas da mente e da consciência; nossa mente tem capacidades cognitivas que muitos sequer imaginam, e nossa consciência é infinita. Este tipo de estudo é típico de todas as vias da ordem.

2. Purificação
Eliminação de todos obstáculos à visão da realidade, à visão espiritual e a visão das demais dimensões da existência. Falando assim parece uma aprendizagem egocêntrica visto que o objetivo é pessoal e o benefício também parece pessoal, mas quando olhamos o que são esses obstáculos entendemos que são algo que nos torna inimigos uns dos outros, inimigos de nosso próprio espírito e inimigos de Deus. Estes obstáculos são pecados, erros, iniquidades, egoísmos, medos infundados, enfim, tudo que envenena nossa mente e obstruída nossa consciência nos fere, fere a outros e não agrada ao Onisciente, nos afasta dele, nos separa de nossa consciência. Consciência gera poder. O ditado "Deus não dá asas a cobras" é muito certo nesse ponto. Purificação é deixarmos de ser as cobras que aprendemos a ser, abandonar a natureza de serpente pela qual substituímos nossa natureza original; significa justamente a cura, o reestabelecimento da mente ao seu estado normal, sem essas influências que não vêm da natureza original, que não vem de Deus. Há um modo de isto se realizar aqui, muito diferente dos esforços de outros caminhos, pois a purificação de fato e definitiva não pode ser feita por nós, nós não temos esse poder, ela é feita na medida em que reconhecemos essa natureza estranha em nós e entregamos ao médico, o cirurgião que sabe como tratar, remediar e finalmente extrair completamente o tumor, a doença, o parasita, uma a uma, e de fato nos libertar do desvio ao qual estávamos submetidos. É um trabalho em parceria,  ou seja, ele não invalida os meios psicológicos dos quais dispomos na ciência, nem os meios empíricos que dispomos, mas os corrige e otimiza. Temos algo a fazer aqui, é por isso que é um aprendizado, é isso que estudamos e ensinamos aqui. Só que precisamos entender que todo esse "trabalho" que fazemos é falho e reversível, na verade sintomático, só o trabalho cirúrgico do especialista é que pode de fato nos curar. Você, não sendo médico, teria a arrogância de negar o trabalho do cirurgião e se atreveria a fazer você mesmo uma  cirurgia, em você mesmo? Então esta é a grande diferença entre esse e os outros caminhos, esta e outras vias: nós temos um cirurgião, um médico, um especialista,  que tem essa habilidade, está sabedoria, este poder. Este cirurgião é Cristo em nós... Cristo não é apenas o único especialista em salvar o espírito, ele é também o único cirurgião que pode curar e salvar a sua alma corrompida. Por isso damos muita importância a esse aprendizado.

3. Meditação
Saber meditar e saber o que é meditar é muito mais difícil hoje, quando isto se tornou popular, do que antes quando a maioria nem sabia direito o que é meditação, nem que existem maneiras diferentes de meditar.  Porque meditar é fácil e muitos já o fazem sem sequer saber. Tanto na definição chamada ocidental da palavra quanto na definição oriental. De maneira sucinta meditar é refletir, por a atenção concentrada em algo e com esforço refelexionar, raciocinar, fazer relações, processar dados sobre este algo. No oriente sucintamente falando também, ao contrário do que se pensa, meditar não é muito diferente disso, a palavra que eles usam, mal traduzida como meditação para nós, é concentração em sua tradução correta (e sobre determinado objeto único,  como respiração ou mandala é apenas um treinamento para isso, um exercício); a única diferença marcante é que esta atenção concentrada em algo é geralmente, por técnica, feita relaxadamente,  isto é sem tensão, é enfatizado o não-esforço ou o chamado esforço correto, uma medida correta. De fato as definições todas que são dadas hoje, esse mundo de informação (e engano e charlatanismo incluso) só dificultam, não apenas entender o que é, mas também conseguir meditar. E sem meditar é impossível estudar de fato, porque sem ela, é possível até fazer observações, ler e decorar textos e até certo entendimento, mas e impossível ter compreensão e apropriação do conheciemnto sem meditação. Como é  possível apreender algo sem concentração, sem atenção, sem vigilância? Meditar é, em uma palavra, vigiar. A meditação correta engloba as duas definições acima, é isto que precisamos aprender, porque nossa atenção e concentração com esforço tem limite de tempo e alcance, precisamos ampliar muito esse alcance, tanto em capacidade, quanto em duração quanto em profundidade, ou seja, detalhamento. Já pensou, por exemplo, ler, escrever ou estudar prazeirozamente por doze horas seguidas sem cansar? Já pensou observar um fenômeno de seu interesse e perceber todos os detalhes, causas, condições e consequências? Já pensou compreender o significado de palavras ou fenômenos ou equações aparentemente sem sentido e sem relação? Tudo isso, não só é possível, como deveria ser o normal, pois são capacidades normais da mente. É como desenvolver e aguçar essas capacidades que aprendemos e treinamos nessa fase. A meditação cristã porém ainda vai muito mais além, uma das coisas é a satisfação na lei, na palavra, no conhecimento e na revelação de Deus. É quando esta reflexão, esta concentração, esse procedimento cujos detalhes são aprendidos nessa jornada permitem que estes significados brotem e se ramifiquem, e a pessoa veja claramente ao ponto de sentir uma alegria libertadora, ao ponto de ver revelar-se o que antes parecia oculto e aquela falta é preenchida, aquela necessidade, antes até oculta, agora é exposta e satisfeita, aquela sede é constantemente saciada. A meditação enquanto resultado é o vai desde a compreensão intelectual até a intimidade com o Senhor, a unidade com ele.

4. Oração/Devoção/Rendição
Essa etapa é crucial. Como dizem uns, passamos do natural para o sobrenatural, isto é, para o que está além dessa natureza e até além da natureza original, para o contrato com o criador da natureza, o Onisciente. Trata de como termos uma relacão pessoal e direta com Deus. Não que antes alguma pessoa que ora não tenha, mas que agora deve aprender profundamente e de todas as maneiras como se comunicar com Deus. Orar é conversar com Deus, é se relacionar com Deus e existe uma forma correta, a forma como Deus gosta que nos comuniquemos. A comunicação não pode ser unilateral, não somos apenas nós que falamos com Deus, ele também fala conosco, ele quer falar conosco, temos que aprender a ouvir, escutar, entender Deus. Se amamos a Deus queremos agradá-lo, não vamos nos comunicar de qualquer jeito, sem cuidado ou levianamente, etc.. Quando amamos alguém procuramos agradar, por que com Deus seria diferente? Também vamos aprender como cultuar a Deus corretamente de forma que o agrade (ao contrário do que muitos pensam, Deus não se agrada com qualquer coisa, ele pode tolerar e perdoar e até atender, mas não significa que a forma de devoção esteja de seu agrado), é preciso conhecer a Deus e saber como ele aceita ser cultuado, como é o culto racional do qual Deus se alegra. E é preciso saber como se entregar a Deus, como é esse sacrifício vivo e agradável a Deus que é a auto-realização total a vida de Cristo em nós, a vida no Espírito, o andar na presença de Deus. Aqui vai entender o que é entregar-se a Cristo e porque deve ser uma entrega completa, vai saber o porquê da entrega, como ela é para nosso benefício, não um favor para Deus, ele não precisa disso, mas é para nossa salvação e restauração, para nossa libertação, pois éramos escravos (da matéria, do pecado, da carnalidade, da morte, dos vícios,  das necessidades, das limitações humanas, da vontade do inimigo, etc.). Vai entender o que opera em nós nessa rendição. Aqui vai compreender e levar a cabo o que é negar-se a si mesmo, tomar a cruz e seguir a Jesus (vai entender como esses três são sinônimos didáticos e como proceder em atitudes, fala, mente, ações, enfim, na prática).

5. Testemunho e Ensino
Agora há bastante experiência e estudo, entendimento e compreensão. A luz não pode ficar escondida, isto seria um crime, é preciso levar a luz ao mundo. Essa é a grande missão. Todo cristão é feito não apenas filho e herdeiro de Deus. É também recebida responsabilidade, dons, talentos e encargos. Todo cristão, é feito também testemunho, voz, embaixador e sacerdote de Deus. Seu maior ensino é o testemunho verdadeiro de sua vida e de suas palavras. Mas também há grande parte do ensino que é  a sua própria narração de seus testemunhos, de sua própria experiência.  E grande porte do ensino depende da experiência e do estudo, da pesquisa aprofundada, com informações que no geral as pessoas que não estudam não têm. Mas ainda não só isso basta, precisa aprender a ensinar, a ouvir, a ter uma organização na transmissão das idéias,  uma didática, e métodos de transmissão eficazes na aprendizagem. Essa é a parte do ensino que cabe a nós. Não estamos diante dos tribunais para que Deus coloque as palavras em nossas bocas, embora ele possa colocar, mas segundo a vontade do Senhor,  não a nossa, não substituindo a nossa parte, devemos nos preparar, essa é  nossa parte, não podemos fugir disso preguiçosamente dizendo que o Espírito fará tudo. Ele certamente fará, mas não fazer nossa parte é negligencar as formas de nos ensinar que Deus nos deu facilmente, como estudar a Bíblia, por exemplo. O povo de Deus erra por quê? Por falta e conheciemnto, está escrito. O ensino envolve por sua vez tem que envolver estudo teórico, prática e realização. É preciso reconhecer a realização e para isto é preciso ser experiente também nisto. O esino intelectual, envolve aprender gradualmente o ler, o estudar e o meditar; o ouvir, o escutar, o entender, o compreender, o apropriar-se; a prática,

6. Fazer o Bem.
Muitos de nós se acham capazes de fazer o bem e até de sempre fazer o bem. Ao que estamos nos referindo quando dizemos que fazemos o bem? Nem sabemos que bem devemos fazer, nem ao todo, nem em parte. Pensamos que somos bons? Já outros querem relativizar o que é o bem,  chegando até extremos de fazer isso não apenas em termos de ações, morais, mas também éticos e de saúde. A situação é tão absurda que a noção de bem e mal, uma vez posta em questão, gera dúvidas até sobre a possibilidade ou não de suas existências. O embaraço chega a tanto que pode ser comparado a tolice de alguém que por saber que os números são abstração, dizer que eles não existem e que a matemática por isso não pode ser uma ciência exata. É exatamente esse tipo de raciocínio infantil que sustentam os considerados maiores filósofos e críticos da moral a partir da época moderna, e ainfantil admirados e idolatrados por isso. Definitivamente isto não é um pequeno problema. Não saber o que é exatamente bem e mal, não perceber com exatidão isso, e até perder a noção ética e moral disso na pós-modernidade é um dos grandes problemas da humanidade, é uma grande ignorância, e porque não dizer uma grave deficiência mental. Pouco há a ser dito desse estágio, porque a maioria está muito envolvida com uma ilusão de ser bom ou pior, de ter uma natureza boa ou da não existência de bem e mal. Aqui se aprende o que é bem e mal com exatidão matemática, o que é relativo, e seu limite, e o que não é relativo; o que é bem independente de qualquer coisa. Nesse estágio temos que passar por dois choques de realidade, (1) ver nossa natureza humana e o que nem sabíamos que somos e então (2) aprender a fazer o bem que acreditávamos já saber fazer. É preciso conhecer a natureza original, para nos libertarmos da natureza corrompida e consequentemente do seu vício de entendimento e de sua percepção incorreta de que as coisas e o universo são amorais, e perceber até sua arrogância em crer que moral é uma coisa da mente humana. Aprende a ver por si mesmo que tudo é moral (e tudo tem propósito e significado justamente porque vem de um significador moral e não o contrário). E aprende a atitude correta. De amor. E esse amor é agape, é incondicional, é sem julgamento, é o amor que ajunta, que é a forca de coesão em tudo, que reconhece o barco em que todos estamos e se doa sem distinção, incondicionalmente. Esse amor é chocante e incompreensível para quem não conhece Deus e que não se entregou completamente a Deus ainda. Este amor gera um serviço, ele é ligado a seu fruto, não siplesmente causa, ele é ação, uma vontade irresistível que invariavelmente se tranforma em ação e mais ação. Esse amor quando mira o alvo se define: é querer com todas as forças a felicidade, a salvação e a libertação do outro. É uma vontade irresistível de que o outro também acorde. E isso é impossível se a pessoa não acordou, pelo menos um pouco, do sono da ilusão do mundo, da ilusão deste mundo. O bem aqui é em sentido completo. É dar de tudo e qualquer que seja o necessário para o bem. Então é preciso conhecer o que é o bem. E isto é muito difícil para o gênero humano entender, é isso que vamos aprender aqui, o que é e como fazer. O bem se dá, não julga. "Daí a todo que te pedir", é consciência plena disso, é doação total, em estar pronto para doar sempre e querer estar doando, é saber como, o que, quando, quanto doar, saber o que é realmente o bem e fazê-lo.

7. Ensinar a fazer o Bem
Note que aqui foram listadas algumas coisas que as pessoas costumam pensar que já sabem, que já fazem, mas que realmente não sabem completamente e nem sabem como fazer isso com excelência e se fazem é apenas por alguns instantes de sua vida. Fazem infelizmente bastante para se sentirem bem, bons, nobres; para aumentar a auto-estima ou a falsa percepção de si próprios. Muitos pensam que atingirão a iluminação, a "evolução", ou a salvação por fazer "o bem", ou pior, obras de caridade. A maioria no mundo pensa que alcançará a salvação pelas boas obras. Interessante. Que relação tem uma coisa com a outra? Nenhuma, não tem lógica alguma isso, mas a lavagem cerebral que aqueles que crêem nisso exerce sobre a sociedade é tremenda, e eficiente. Aposto que você já pensou assim algum tempo. Eu já pensei. Só que temos que encarar os fatos, boas obras não salvam, nem iluminam, e evolução sequer existe, não passa de invenção. Quanto antes se abandonar essa falsa lógica da troca melhor. O outro fato é que o ser humano só tem uma pequena noção de bem, muito pequena mesmo e apenas imediata. É como um jogador iniciante de xadrez, o experiente calcula muitas possibilidades e até de muitas jogadas à frente, o iniciante mal calcula a consequência imediata de sua jogada. Melhor diríamos se falassemos que o ser humano não consegue fazer o bem. Mas que tal se aprendêssemos a viver para o bem, para fazer o bem e ensinar a fazer o bem? E se tudo na nossa vida fosse voltado a essss momentos? E se vivêssemos para apresentar a salvação, a libertação e a regeneração aos seres? E se fizessemos isso usando justamente o que mais temos prazer em fazer, usando nossos dons e talentos? É isto que vamos vivenciar nessa fase. Acontece que já recebemos essa missão, que já recebemos dons e talentos, que já fomos capacitados para isso. Coube a etapas anteriores descobrir tudo isso, Coube a etapa logo anterior a esta aprender como, aprender a aplicar, aprender como se usa quais sejam os dons e talentose, na sua verdadeira missão, no seu propósito de vida. Cabe-nos agora, que aprendemos e que somos experientes, ensinar outros a atingirem o mesmo, com excelência. Na verdade na maioria dos aprendizados das fases anteriores as pessoas apenas pensam que sabem ou seguem conceitos errôneos de amor, bem, iluminação, etc.. Esclarecimento, purificação e meditação são exemplos claros disso, todos acreditam que sabem o que é, mas geralmente não sabem ou seguem visões erradas do que acreditam ser e de como se realiza isto. Nesta etapa todas as confusões, dúvidas e relativismos foram deixados para trás. A comparação aqui é como uma flecha já em direção certeira ao alvo sem nenhum obstáculos que a possam impedir. O caminho é certeiro, o alvo é certo, e o atirador é perfeito. Então a flecha simplesmente vai, a cada instante sua alegria nessa jornada e sua certeza da trajetória, do alvo e do ponto onde atingirá, apenas aumentam. A pessoa vive em função desse amor que vivencia em completa entrega realizando sua própria vontade mais profunda em plena compreensão e satisfação. O ensino aqui pode ser de várias maneiras, mas invariavelmente sua vida é toda ensinamento... Sem vivenciar a fase anterior é muito difícil compreender ou imaginar essa fase. Mais difícil ainda é entender como é que quando abriu mão e sua vida, de sua felicidade de seus objetivos e passou a viver para o outro, justamente agora encontrou sua verdadeira vida,  felicidade, objetivo. Mas mais uma vez é preciso encarar os fatos, a realidade é que assim acontece. Não vive mais para si, vive para Cristo, em Cristo e por Cristo. Então encontrou sua verdadeira vida, este é um fato, esta é a realidade. Até que Cristo se tornou tudo neste e vive então para que Cristo se torne tudo em todos e passará a eternidade conhecendo este infinito...


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

O Grau Rosacruz - parte 2

A graduação mais tradicional da rosacruz pode ser tanto aquela em três graus quanto a subdivida em sete. Esta forma em três equivaleria mais ou menos aos nossos três níveis. Então temos três níveis subdivididos em sete graus. A diferença é que essa é uma das graduações em nossa ordem que começa a partir do segundo nível porque nossa ordem aceita no primeiro nível pessoas de todas as crenças e religiões como pesquisadores e estudantes e a rosacruz só aceitava cristãos verdadeiramente convertidos. O que acontece agora é que se apessoa é cristã já, ou ao estudar história, cristianismo, bíblias, essênios, etc. decide se tornar cristã, se verdadeiramente  se converter, ela deve entrar nessa graduação, não que seja obrigatório, mas que essa é a graduação dentro da tradição cristã. Se entrar nela pode decidir por esta somente ou seguir a outra que vinha seguindo em paralelo (se não entrar ela segue a via que vinha seguindo desde o começo...). Na graduação rosacruz a pessoa estudará a fundo, teologia, cristologia, soteriologia, paracletologia, etc.. Além disso aprenderá os níveis de significados e tipologias usadas pelos escritores da Bíblia, compreendendo os significados que antes pareciam ocultos. Aprenderá também a praticar a fundo o cristianismo verdadeiro, até os últimos objetivos e últimas consequências; praticando a alquimia rosacruz, que não é nada mais que a alquimia espiritual, que é o método de transmutação da alma ensinado por Jesus e seus apóstolos e que está totalmente descrito no evangelho, ainda que não tão obviamente para muitos, sem a necessidade de qualquer outra revelação posterior.

Esses três graus vão equivaler aos três níveis a partir do segundo em nossa ordem, isto é, o segundo nível completo com seus três graus, o terceiro nível completo com seus três graus e, caso alcance, o grau (sétimo neste caso) de realização acima do terceiro nível (chamando por uns de completa iluminação, por outros cristalização completa, por outro de transfiguração completa, etc.). Se a pessoa já for comprovadamente convertida pode entrar já no segundo nível, desde que apenas nesta graduação especial chamada graduação da Confraria Rosacruz. Como são esses graus?

Uma forma tradicinal de se classificar os graus é quanto às realizações:

1. Discernimento e Conhecimento
Através do conhecimento, esclarecimento, aprendizado consciente e prática o estudante percebe por si mesmo sua condição real e a real condição desse mundo decadente. Consegue discernir muitas ilusões às quais estava relacionado e acostumado a ver como realidades. Reconhece as realidades mentais e conscienciais e assume uma nova atitude de consciência desperta momento a momento, como um cientista observador, como um vigilante sobre uma torre. Desta observação acurada surgem conhecimentos e experiências reais... Surge nele então o anseio por libertação (das ilusões, limitações, condicionamentos aprisionantes, condições decadentes, etc.) e por conhecimento, por conhecer de fato a verdade. Ocorre também, devido ao reconhecimento, o arrependimento genuíno, a vontade autêntica de mudar de direção, agora para o caminho de Deus, que é a conversão: voltar em direção a Deus, abandonando a via do mundo e toma o caminho contrário, para Deus, este é o sentido da palavra arrepender, mudar a direção, e converter, verter para Deus. Então por essa decisão e pela fé em Jesus Cristo, pela confiança, ocorre o renascimento espiritual.

2. Comunicação
Aprende maneiras de se comunicar diretamente com certas dimensões do ser (as superiores), uns dizem com as partes mais internas ou superiores de sua consciência outros dizem com seu anjo da guarda, mas de fato é com o Espírito Santo, enfim com o próprio Deus (anjos e partes do ser são mensageiros e receptores respectivamente); aprende como ouvi-lo sem dúvida, como entender, como obedecer suas instruções...

3. Entrega de Si Mesmo e Novo Nascimento
Verifica seu grau de entrega, de sua vida, e entrega completamente, a Cristo, não só como seu Salvador,  mas também como seu Senhor, aquele que conduzirá todo o processo interno. Cada parte de sua vida é entregue a este comando (o ego para de tentar ser o Senhor é torna-se um servo de Cristo, um secundário, em tudo), nada deve ficar, tudo deve ser entregue, nenhum comando mais pode ser seu, apenas a vida do Cristo deve ser sua vida agora. Deve entregar tudo. Cristo deve crescer e o velho homem deve diminuir e morrer, a cada instante, num processo contínuo. Aqui começa sistematicamente a operação da cruz no estudante.

4. Nova vida e Consciência Espiritual
Em decorrência do processo anterior começa a se desenvolver uma nova vida e nova consciência espiritual, entendimentos (muitas intuições, tomadas de consciência e compreensões) e experiências  (comunhão, visões, dons, fenômenos, etc.) realmente espirituais. Ter consciência espiritual é tomar consciência dos princípios espirituais, não apenas dos fatos e dimensões espirituais (que não pode também ser mais confundidos com experiências, fenômenos e dimensões mentais).

5. Transmutação
Aqui se encaminha para o seu aprendizado o processo de transformação da alma. Cristo foi gestado, nascido e agora o neófito já alimentou-se suficiente com o leite da salvação, dos rudimentos e fundamentos da fé verdadeira (pistis, confiar, crer e ter convicção); agora, não deixando os fundamentos, mas deixando os rudimentos de obras mortas, parte para a obra à qual foi destinado por Deus e se alimenta do alimento sólido como verão crescido até a medida é a estatura, do homem original à imagem e semelhança de Deus, Cristo Jesus.

6. Viver para a Libertação de Muitos
Deus nos salvou para as boas obras. A primeira e toda a obra é crer no Deus único e no filho de Deus, aquele que ele enviou. Esta é a obra da salvação, mas Deus quer que cheguemos ao pleno conhecimento da verdade. Para isto há mais a fazer, sem o amor a Deus e ao próximo isto é impossível. Deus nos fez agora todos sacerdotes dele, embaixadores dos céus na Terra. Ele nos enviou agora para pregar, ensinar e curar como fez nosso mestre, é  assim que devemos fazer, viver para isso, para que assim essa obra completa chegue a ser realizada por muitos. É o que uns chamam de voto do bodhisatva (orientais chamam assim o não entrar para o descanso eterno sem ter levado a libertação a muitos), permanecer ensinando e trabalhando para a salvação de muitos, para a edificação da igreja de Cristo e para que muitos também cheguem a essa iluminação e até a restauração e reintegração final junto ao Pai.

7. Reintegração
Tornou-se um morador de dois mundos conhecendo as duas naturezas, fez sua obra, isto é, cumpriu a vontade do Pai, o propósito de sua existência terrena, e largou o fardo completamente, então retorna à natureza original, finalmente, com a morte do corpo e retorno ao estado original aguardando com os santos o dia da ressurreição plena e a vida eterna com Deus.

Este é um processo há muito estabelecido, procurei fazer uma descrição o mais correta e sucintamente possível, mas segundo o que veio em minha memória e pelos meus estudos. Existem outras formas de descrever, muitos usam uma forma mais alegórica e alguns até mais fisiológica, ms essas formas de descrever geram muitos erros e práticas erradas, por isso procuro descrever o mais literalmente possível. Os termos que descrevem essas realizações tem variado de acordo com as escolas e grupos ao longo do tempo, mas o que importa é o que eles definem. É claro que estas realizações são muito mais complexas do que o que se pode dizer com uma palavra ou expressão ou com essa pequena explicação. Nós também classificamos os graus em processos de aprendizagem. Veremos no próximo item.


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domingo, 1 de dezembro de 2019

OS SEGREDOS DA ORDEM - parte 3.4 e final

3.4

As pessoas têm pensado mil coisas sobre o que nossa ordem é, sempre comparando com outras, pois exitem ordens religiosas, ordens esotéricas, ordens profissionais (ordens de médicos, ordem dos advogados, ordem dos músicos, ordem de psicanálise, etc.), ordens militares, ordens místicas,  ordens acadêmicas, enfim, são muitos os tipos de ordens, mas não somos de nenhum desses tipos, embora sejamos uma ordem de terapeutas e pesquisadores.

O que essas pessoas não entendem, primeiramente, é a que nos referimos com o termo "ordem" (para isso veja o texto "A Ordem"), e que ordem como entendemos não pode ser organizada segundo nosso entendimento, gosto ou desejo, que ordem é um padrão, uma ordenação conforme a vontade e plano do Onisciente. E esta é uma ordem de estudos e estudantes, que procura seguir esse padrão. Ordem no sentido religioso ou místico não é assunto para ser tratado aqui, pois por essas serem alvo de nossas pesquisas não nos torna uma delas. Porém as semelhanças ou aparentes semelhanças que teríamos com algumas delas já foi assunto tratado e outro texto. E para esclarecer sobre de onde podem vir essas impressões (principalmente por parte de pessoas de fora ou que apenas iniciaram os estudos) é só ler esse texto até o final e tirar suas próprias conclusões. Apesar da via da fé ser chamada de via religiosa isto pode ser uma confusão, a via é uma das formas de adquirir conhecimento da verdade, uma via indispensável entre as outras quatro, mas se "religião" se referir ao verdadeiro significado da palavra isto pode ser verdadeiro para alguns de nós também. Nesse estudo o que nos interessa saber é como somos uma ordem de terapeutas visto que essa via é a da mais elevada e definitiva terapia.

Também as pessoas não entendem que tipo de terapia é este e acham que deve ser apenas "para quem precisa de terapia": eles não compreendem que ser humano já é uma necessidade de terapia, é quase um sintoma, todos precisam de terapia, para libertar-se do mal da ilusão sobre esse mundo, sobre essa vida e sobre si mesmo; para escapar desse estado desviado, caído,  decadente, que está indo as últimas e finais consequências degenerativas (tanto enquanto universo quanto enquanto indivíduos).

É como se estivéssemos submetidos a uma máquina pela qual nos transportamos por aí, e o combustível e manutenção dela nos tomasse bastante tempo, e ainda esse combustível variasse desde um ótimo até as piores substâncias que destruíssem a máquina aos poucos, combustíveis adulterados, falsos combustíveis. É exatamente isto que acontece. O corpo é a máquina à qual estamos submetidos, o transporte por aí é toda a vida no mundo, aparentemente sem saída, como se só existisse esta vida e este mundo; os combustíveis são as experiências e alimentos, as experiências vão desde sentimentos, sensações, percepções (exteriores ou interiores) até todas as inter-relações pessoais, interpretações da realidade, fenômenos, etc., e os alimentos são exatamente como descrevi os combustíveis.

A ordem enquanto teurapêutica cuida disso tudo, da saúde, do corpo, da nutrição, da interpretação, da psique, etc.. Mas é um cuidado completo da saúde,  ou seja, corporal, mental e espiritual, e ainda, que não foca tanto nos sintomas, doenças, males, efeitos aparentes, mas, mais especificamente, foca nas causas, muitas vezes ocultas, dos tais. Assim corporalmente falando devemos nos tornar terapeutas naturais de nós mesmos, e consultar terapeutas bem graduados, com mais experiência que a nossa.

Não que não hajam médicos na ordem, pelo contrário, onde há médicos estes devem ser consultados e onde não há procura-se os médicos locais, caso necessário; lembrando que a alopatia é uma das filhas da ordem, não só a nutrição, a fitoterapia e todas as medicinas naturais. Todas as medicinas verdadeiras se complementam. Mas que, em nossa ordem, enfatizamos o organismo como um todo e que se as causas das chamadas doenças não forem alteradas, de pouco adianta cuidar dos resultados. As doenças são sintomas de desequilíbrios, da perda de saúde, seja em algum aspecto, seja como um todo. Saúde não é ausência de doença, mas o contrário, doença é ausência de saúde. Saúde é o estado ideal e possível de equilíbrio orgânico-mental-consciencial.

Isto é o que são os terapeutas hoje, como ciência e filosofia. Mas historicamente, o que são enquanto tradição e religião? O início dos terapeutas se perde no tempo, os registros mais antigos já com esse nome vem da comunidade de Qumran, os essênios (ou os puros ou os terapeutas...) dos quais faziam parte as familias de João Batista e de Jesus. Seus escritos (dos essênios) contém desde tratados medicinais até os textos bíblicos. Essa comunidade judaica, com caracaterísticas bem próprias, vivia em grande parte separado dos outros, no deserto, mas isso não significa que todos os adeptos se retiravam das cidades. Nos evangelhos vemos Jesus fazer severas críticas aos judeus fariseus e saduceus, mas não vemos nenhuma crítica a outros grupos como os nazarenos, essenios e nem mesmo aos zelotes. Há muitas evidências que João Batista fazia parte dessa comunidade e muita probabilidade que Jesus tenha passado algum tempo, pelo menos, com eles também. Há muitas referências nas falas e nos hábitos de Jesus que remetem a essa comunidade (para mais detalhes e sobre provas arqueológicas,  veja os textos específicos sobre isso.). Aqui vamos apenas exemplificar com umas poucas, ainda que ainda que não as principais.

Essa comunidade tinha coletâneas de várias sabedorias, de muitos povos, comprovadamente da hermética, e direta ou indiretamente das indianas, hindu e budista (a parábola do filho pródigo, por exemplo, é comum a ambas as tradições, cristã e budista), e, provavelmente da chinesa (conhecimentos médicos,  alquímicos, filosóficos,  etc.). E, muito provavelmente, daí compuseram grande parte de sua sabedoria curativa, tanto da medicina corporal como da mente, sua psicologia. Conta-se que povos de lugares distantes levavam seus enfermos em longas jornadas a procura da cura essênia. Provavelmente sua moral extremamente amorosa e bem severa ao mesmo tempo, e suas leis, influenciaram silenciosamente desenvolvimentos filosóficos posteriores.

O que temos hoje de sua herança provém em parte da tradição indiretamente, através de escolas (como algumas de alquimia, por exemplo) que transmitiram parte de sua sabedoria e uns poucos fragmentos escritos sob sua influência; mas também, hoje temos os achados de Qumran, uma biblioteca com vários livros e textos completos, inclusive da Bíblia constituindo estes uma de suas maiores provas científicas de autenticidade e inalteração existentes hoje. Nesses textos por exemplo temos tratados de cosmologia, de leis, de medicina, por exemplo, que confirmam algumas partes da tradição chegada até nós.

Outro dado importante sobre os essênios é o messianismo, eles se retiraram do meio meio dos judeus corrompidos (o estopim da separação foi aceitarem um rei por decisões políticas e não as tradicionais estipuladas pela lei, portanto, um reinado ilegítimo, ilegal). Forma para o deserto plantar e viver suas vidas a esperar o Messias. A tradição messiânica do antigo testamento, confirmada nos evangelhos, era o centro da tradição essênia, que já a vivenciava pela fé no Messias que, naquela época, ainda viria. Diferente dos fariseus e saduceus que interpretavam (e seus descedentes interpretam até hoje e esperavam) um Messias homem somente, para ser rei e libertador do povo judeu apenas, um guerreiro e sacerdote de rituais de sacrificio e não um pacificador, os essênios eram extremamente pacíficos e adeptos da não-violência (o que me lembra: se alguém lhe bater numa face ofereça também a outra... se alguém lhe roubar a túnica dê também a capa, etc.). Esta é, no meu entender, a maior razão para se retirarem (Jesus também dizia "não resistai ao mau"): numa cidade violenta como a Jerusalém da época em meio a crueldade dos soldados romanos e sacerdotes judeus, dos ladrões e assaltantes, dos zelotes revolucionários, etc., seria difícil a comunidade sobreviver sem reagir à  violência. Por essa razão até os filhos de outras seitas judaicas eram levados para viver com essênios os,  para sobreviverem, mesmo que longente dos pais. Os essênios eram também, vegetarianos,  excetuando, talvez, que comiam peixe, uma necessidade para quem vivia ali onde só havia deserto, mar e o que plantavam. Entendiam os sacrifícios como símbolos messiânicos não mais para aquele tempo (o que nos faz recordar "misericórdia quero, não sacrifício"), enfim, Jesus viveu como um judeu e muito provavelmente ao modo de judaísmo essênio.

Os essenios, dizem uns autores, são descendentes diretos dos nazarenos. Em atos dos Apóstolos Paulo assume que ele, antes fariseu,  pertencia realmente aos chamados de seitas dos nazarenos. Os essênios também costumavam se retirar para longas orações e jejuns, e segundo alguns autores teriam recebido influências dos orientais também, quanto ao modo de meditar (diferente do judeu geral que era apenas na leitura da lei) que incluía os grandes temas universais, e sobre Deus diretamente (Jesus também se afastava normalmente para orar e meditar, virava a madrugada orando), também os hábitos de purificações com banhos e batismos. Também tinham uma ceia dos ágapes, vestiam linho branco e muitos eram celibatários e não se casavam, diz-se que nunca cortavam o cabelo e a barba, sobre isso, sabidamente, pelo menos alguns, mantinham o voto nazireu. E se intitulavam os "pobres de espírito", na verdade "que se inclinam em espírito" (diante do Espírito de Deus), se traduzido diretamente do aramaico seu nome (anabey ruah) ou em grego "anavei", iluminado.

O processo de terapia antigo, das ciências antigas e dos essenios, incluíam todos os meios, desde que fossem éticos, possíveis para chegar a cura. Os pais da medicina (Hipócrates, Galeno, Herófilo, Dioscório, Paracelso,  etc.) também não estavam preocupados se a medicina se restringiria apenas à alimentação ou fórmulas naturais, pelo contrário, desde minerais até compostos organicos em preparações químicas bastante completas já são encontrados em seus tratados; isto é bem claro em toda obra de Paracelso. Mas também não era padrão separar o ser humano em partes, nem a cura do corpo separado da alma ou vice-versa, nem das diversas partes do corpo em separado sem considerá-lo com um todo. Enfim, o modo de cura tradicional tem essa diferença básica do modo acadêmico: o ser é tratado como um todo de partes sempre inter-relacionadas, jamais isoladas; e a cura não pode ser só das doenças, ou seja, em nossa visão, dos sintomas, mas em todas as suas necessidades, envolve sempre alguma mudança de hábitos,  atitudes e maneiras de pensar e ser. Mas isto já começou a mudar tem muito tempo, as ciências acadêmicas estão cada vez mais interativas e sistêmicas, considerando o todo ou pelo menos o que acreditam ser o todo.

Portanto, embora tenha a metodologia científica e muitos métodos terapêuticos em comum, a nossa terapia e a terapia acadêmica partem de princípios diferentes. Praticamente aqui se confirma a observação popular de que a ciência acadêmica parte das partes para o todo (e trata das partes como que avulsas muitas vezes) e que a terapia hoje chamada de tantos nomes (natural, holística,  sistêmica,  etc., para nós simplesmente terapia, pois é a original) parte do todo para as partes (e trata do todo e das partes em relação ao todo). Mas mais que isso, o mais importante é não opor uma à outra porque são complementares e são uma só em conjunto, estão do mesmo lado. Devemos agora entender que precisamos tratar sempre o ser por completo e isso inclue sua vida, seus hábitos, seu meio, sua maneira de pensar e sentir para que a cura seja real.

Podemos demonstrar  isso até com um exemplo superficial. Se a pessoa tem hábitos insalubres e fica doente, de pouco adianta tratar a doença se ela permanecer com aqueles hábitos. Na verdade podemos até remover a doença, mas não lhe devolvemos a saúde, e a doença, ou outras, podem aparecer mais cedo ou mais tarde.  Esse é o princípio.

Por exemplo, suponhamos que chega uma pessoa para a consulta queixando-se de tonturas, cansaço, fadiga,  palpitações, aperto, e outros desconfortos; alguém a examina e verifica que sua pressão está muito alta, então receita remédio, duas vezes ao dia, para a pressão arterial, e recomenda a diminuição do sal; não sabe de outros hábitos alimentares nem o quanto de sal a pessoa está comendo; então digamos que a pessoa obedeça todas essas recomendações, e ao medir sua pressão ela aparenta normalidade, até porque está tomando remédio e reduziu o sal, embora não suficiente, por que era acostumado a sal em demasia; volta ao médico com sintomas amenos, pressão normal, pois seu mal estar é  geralmente noturno depois da refeição mais pesada (e salgada) de sua jornada dupla de trabalho; o médico se espanta que mesmo reduzindo o sal à  metade ainda era muito o que comia, e dessa vez dá a medida de sal e dobra a dose do remédio, a pressão está como que controlada; alguns meses ou anos depois volta o paciente com um terrível mal estar, está bem acima do peso e com um exame se descobrem várias veias e artérias entopidas: o médico não sabia que ele mantinha jornada dupa de trabalho estressante e comia apenas duas vezes no dia, uma na rua, geralmente  lanches, fritura, refrigerante (que tem também, não só excesso de acucar, mas também de sal e alguns com cafeina e todos muito ácidos para o organismo), e em casa também comia bastante frituras, muitas massas e até margarina, comia muitos doces, linguiças, salames e similares, tomava altas dores de café durante o dia e depois do jantar, e até chá verde "para emagrecer" (que também é estimulante), dormia tarde e acordava cedo, dormia cerca de quatro horas por dia, era uma pessoa que não conseguia esquecer ofensas nem situações de estresse, não conseguia perdoar e guardava muitas máguas antigas também, não andava nem fazia exercícios, seu lazer era cerveja no fim de semana, poucos amigos, pouca conversa, e não tinha religião nem qualquer crença em um ser superior, e com aqueles sintomas temia a morte e a escuridão ou o nada que parecia ir ao seus encontro quando a vista escurecia devido a picos noturnos de pressão, ele tinha ataquns de taquicardia, crises de pânico, sofria agora de ansiedade e depressão, além das veias entupidas e a pressão alta que tinha votado com mais forca. Porque tinha que ter alterado toda essa maneira errada, insalubre, de viver e de pensar desde o primeiro encontro no consultório.

Um terapeuta deve fazer uma intrevista bem detalhada sobre todos esses pontos e até outros que não pareçam a primeira vista ligados aos sintomas,  como no caso da religião ou suas crenças pessoais, deve ser uma conversa longa onde ele deve estimular e levar o paciente a de fato desabafar sobre sua vida e seus sintomas.

Um outro exemplo bem simples, suponha um paciente que aparece com tumores, extrai tumores e depois ele tem tumores malignos, então ele faz cirurgia, quimioterapia e radioterapia, e fica sem sintomas, mas os tumores voltam, a pessoa parece um câncer ambulante, então em outra consulta se descobre que a pessoa quase não bebeu água suficiente toda sua vida, nem tomou sol, nem tinha boa hábitos de higiene, que é viciado em refrigerantes e outras coisas ácidas, em doces e açúcar cristal por mais de 60 anos. Ou seja, nesses exemplos seja um mais complexo seja num mais simples, se a pessoa se envenena a vida toda, não adianta tomar remédio,  pode até mascarar o sintoma neste caso, a doença desaparece mas a pessoa não tem de volta à saúde, ela continua se envenenando e perdendo mais saúde.

Assim é  o trabalho de um terapeuta, a detecção  e retirada dos venenos, recomendar remédios se forem necessários e alimentação correta, e dar as instruções do que é saudável, que deve substituir completamente os hábitos não saudáveis.

Só que aqui estamos falando dos níveis da via central, portanto sua psicologia e conscienciologia também devem focar nas causas últimas para ser uma terapia completa. E a terapia completa tem que ser até o retorno total desta saúde. E o retorno total desta saúde é o retorno ao estado original, à consciência original completa e perfeita, completamente desperta. Não apenas o desaparecimento de sitomas, nem aprender a lidar com eles apenas. É o retorno às capacidades originais da mente em seu estado perfeito. E corporalmente é o retorno à natureza e dimensão originais; materialmente será a ressurreição futura num corpo transfigurado, glorificado,  um corpo especial em suas capacidades, imortal, maleável,  que não se fere, que não adoece, que toma várias formas,  que desaparece e aparece à vontade, etc..

Então o foco aqui são as psicologias das causas (como a psicanalise, a psicologia analítica e outras, como algumas psicologias orientais e como os métodos específicos próprios da ordem, entre outros mais específicos ainda). A psicologia profunda, a metapsicologia tem que ser praticada até os últimos estágios do processo alquímico completo... E que conscienciologia pode ser mais perfeita que a deixada pelo mestre dos mestres da consucienciologia, Yeshua, Jesus o Cristo? Esta é a parte da conscienciologia da ordem destinada a levar a consciência à plena regeneração instantânea, ao total renascimento, passando pela tomada de consciência da realidade desse e de outros mundos e seus signicados e de outras dimensões e seus significados,  e porteriormente , à reintegração, e finalmente o retorno à sua dimensão original. E este só é possível para nós que estamos nessa dimensão através da via crística, através do autor e consumador da vida, Deus manifesto e glorificado, que se tornou como um de nós e passou por todo o caminho, tanto como demonstração como ser o caminho visível; tanto para nos salvar quanto para nos ensinar os passos completos do caminho da regeneração completa; e toda a psicologia e conscienciologia necessárias à esses processos. Os mínimos detalhes sobre isso que foram deixados a milênios e escritos detalhadamente no Novo Testamento; é o que explicamos, estudamos, praticamos e ensinamos.