quarta-feira, 22 de maio de 2019

ESCOLAS, ORDENS, RELIGIÕES E TRADIÇÕES RELIGIÕES - Parte 2 - RELIGIÃO - uma prática


O que é religião na prática


Na definição da palavra religião anteriormente focamos mais na provável origem da palavra e como a partir dessas prováveis origens o seu significado evoluiu para o que temos hoje. Mas deixamos de focar na origem em si, a palavra religio. Temos aqui um terceiro aspecto e talvez o mais importante, pois se refere ao que, na prática, é religião.

A palavra religião existe em português desde o século XIII e não há duvida de que ela seja derivada do latim religio, que significa culto, respeito, reverência, hoje no sentido de respeito pelo sagrado, pelo divino, ou culto a divindade ou lei divina, ou respeito a preceitos sagrados. Na prática religião é um culto. Então a prática religiosa é reverenciar, cultuar, respeitar, adorar, a algo tido como sagrado, sublime, transcendente, isto através de um relacionamento com este algo, através de cerimônias, respeito a lei divina ou divina revelação, preceitos sagrados, santidade, moral, ritos e ou rituais, meditações, exercícios, enfim, práticas e comportamentos coerentes com este fim, de ligação a algo sagrado e transcendente. 

É bom frisar que só agora depois que já definimos o que é religião é que podemos falar isso, afinal não é simplesmente qualquer culto ou qualquer adoração, qualquer reverência qualquer entidade ou respeito a quaisquer leis ou preceitos, etc., que caracterizam uma religião, mas somente estas que se dirigem a, e objetivam unir-se a, algo transcendente, normalmente visto também como eterno, completo, perfeito, sublime... Religião na prática é um culto, e um culto a algo que transcende a finitude, as limitações humanas, o conhecimento e até entendimento humano natural. Também não podemos fugir disso. É tanto cultuar, prestar culto, homenagear, adorar, reverenciar, venerar como também é cultivar algo para. 

O objetivo da prática é que vai definir se ela é ou não religiosa, não o tipo de prática em si. Podemos chamar de religião o culto a pessoas como é feito em alguns países onde lideres de estado, estejam vivos ou mortos, são cultuados, adorados e cantados em praça pública? Podemos chamar de religião todo rito, cerimônia, prática, ideologia que se dirija para ou seja uma crença num estado ou num mundo ou num tipo de ser humano perfeito num futuro? Podemos chamar de religião toda obediência ou observância de toda e qualquer lei ou preceito? É claro que, embora estes tenham características comuns às práticas religiosas, para todos esses casos a resposta é não. Então o que define uma prática como religiosa é que ela se fundamente e se dirija para o que já foi mostrado anteriormente na parte sobre definição de religião.

A visão do sentido da palavra religião, quanto à sua origem mais primitiva, relegere, reler, rever, revisitar, retomar, pode ser visto como ato de reler e reinterpretar incessantemente tanto o mundo ou a realidade quanto os textos de doutrina religiosa. Mas também se aplica a retomada de uma dimensão espiritual, ou melhor, mais concretamente ainda de um retorno a uma condição original. Reler, assim estar retornando a uma visão pura ou menos obstruída cada vez mais próximo da visão verdadeira até o reencontro dessa verdade esquecida. Mas depois, na antiguidade tardia essa palavra foi mais usada em ligação ao sentido de religare, religar, atar, apertar, reunir, ligar bem. Neste sentido fica ainda mais nítida a ideia de retorno à origem, à fonte, ao estado de potência e ciência anterior ao mundo como conhecemos. O verbo religare no passado já foi empregado com o sentido mais comum, de prender os cabelos, enfeixar lenha, etc.. Só com a associação à palavra religião é que o termo ganha essa conotação. O sentido do que é religião na vida prática arrastou consigo não só a palavra lhe dando um novo significado, mas também lhe atribuindo uma outra origem mesmo que supostamente. 

Portanto a chave para entendermos e discernirmos depois de tudo o campo de estudo a que devemos delimitar se prende a duas coisas bem mais importantes do que aparência e origem etimológica: (1) o objetivo a que se quer chegar com esse conjunto de doutrinas, comportamentos, leis, preceitos, etc. e (2) a receita prática para se atingir esse fim, a prática, o comportamento, as crenças, os conhecimentos, etc.. 

Na prática o que é religião tem a ver com o objetivo. Por exemplo, uma mesma prática pode ser considerada religiosa ou não a depender do objetivo a que almeje. Temos recitações na literatura, em alguns ritos legais, na arte poética, mas uma recitação só é considerada ligada à religião se ela se dirigir ou for relacionada a algo transcendente. Do mesmo modo temos o ato de reverenciar, rituais, meditações, exercícios, leis, preceitos, etc. que, só poderão ser relacionados à religião se seu objetivo é transcendental, nem sequer algumas práticas místicas podem ser consideradas como fenômeno da religião (no sentido da palavra místico, que é de levar a pessoa a experiências incomuns ou sobrenaturais); algumas práticas místicas são derivadas ou servem a propósitos religiosos, mas outras claramente não servem.

Por outro lado temos práticas que só podem ser classificadas como fenômeno da religião, que é o que acontece, o que se faça, se pratique, todo comportamento que tenha um fim na religião (lembrando que agora estamos usando o termo em seu aspecto preciso específico, não o coloquial, comum). Por exemplo a oração à divindade, as crenças religiosas, as doutrinas e filosofias da religião em sua vivência pessoal, como observância de preceitos ou leis religiosas (excluindo-se aqui as leis morais que podem ser comuns a um povo, não necessariamente vindas da religião, mas até às vezes vindas dela e adotadas pela população, sejam adeptos ou não da religião em questão). Assim estamos clarificando o nosso campo de estudo quanto ao que seja e o que caracteriza a religião. 

Mas obviamente existem práticas destas e até religiões por inteiro em seu corpo e sua doutrina que, embora se dirijam para um objeto ou objetivo transcendental, estejam completamente erradas quanto a este objeto e meios de atingir esse objetivo. Portanto em nossa investigação, se é que ela chega mesmo ao pretende, e ela chega, temos todo o direito de classificar algumas religiões como falsas ou verdadeiras, e outras nem completamente falsas nem completamente verdadeiras (embora nos revelamos o direito de revelar nossas descobertas entre nós em muitos casos que não são nocivos, mas em outros que são engano nocivo, más fés, charlatanismos, etc. nos sentimos justamente na obrigação de avisar a todos sobre isso, denunciar e até mesmo combater, por isso mesmo a grande maioria de nós preferirá fazer isso no anonimato, evitado assim as perseguições e retaliações a pessoa e famílias).

O que deve ser nosso campo de estudo


Até aqui então vemos que o que define algo como religião tem a ver com o objetivo e a prática que visa o objetivo. Mas para chegarmos na questão das ordens, tradições e escolas precisamos levar em consideração outros fatores, como já foi ressaltado anteriormente. Um dos mais importantes (antes de chegarmos ao que realmente interessa, o transcendente) é o aspecto histórico que vai envolver alguns fatores primordiais: a origem; a evolução; os fundamentos; as fontes originais ou tardias preservadas (livro ou registro sagrado, tradição, transmissão oral, etc.); e as adições, modificações, supressões, omissões, restaurações, reinterpretações, inovações e traduções. Portanto isto nos levará ao estudo também das instituições, isto é, religiões, seitas, ordens, grupos, escolas, tradições e não tradições, etc.. Estes dois grupos de objetos de estudo tem que ficar muito claros em tudo ao pesquisador e é o que faz a principal diferença entre o pesquisador estudioso e o que simplesmente busca para si alguma religião: além do critério de sua observação e a profundidade da mesma em todos os detalhes possíveis, ele sabe ou procura saber, porque deve saber o que em dada religião é, por exemplo, original, o que é adição, o que é inovação e a partir de quando foi introduzida, o que é fundamento, o que é interpretação proposta por alguma seita ou outro tipo de divisão, etc..

Então veremos por um lado temos como objeto de estudo estruturas que se formam ao longo do tempo, na história, como conjunto de práticas e conhecimentos orientados a um transcendente, que estamos aqui considerando como o objeto e objetivo que define a religião e provisoriamente caracterizando-o como sobrenatural ou preternatural, melhor dizendo, origem e ou destino final e ou sublime ao qual devemos chegar. E por outro lado este mesmo objeto e objetivo (transcendente, preternatural e ou metafísico, origem e ou fim e ou destino final e ou sublime ao qual devemos chegar ou retornar) também como objeto de estudo, o que nos distingue muito e claramente por um lado das pessoas que simplesmente adotam as religiões e por outros dos cientistas que se propõem a estudá-las, enfim, distingue o que fazemos e o que estudamos da religião mesma e da ciência da religião, pois investigamos mais além, as propostas da religião, sua veracidade, verificabilidade, eficácia, etc.. 



segunda-feira, 13 de maio de 2019

ESCOLAS, ORDENS, RELIGIÕES E TRADIÇÕES - Parte 1 - Religião, uma definição



Evolução etimológica e semântica da palavra religião


Muitos dizem que existem muitas religiões, será isso verdade? O que se observa está muito longe de ser a verdade nesse caso, pois poderíamos perguntar: (1) existem muitas religiões ou subdivisões e derivações de uma só? (2) existem muitas religiões ou muitas falsificações, muitas seitas, muitos enganos? Explico.

O que podemos notar por uma observação mais sincera e acurada é que existem diferentes pontos de vista sobre o que uma religião é, qual seu objetivo e caminho e qual sua meta final. O apressado se contenta facilmente com o que o senso comum lhe informará, "existem muitas religiões e muitas divisões destas mesmas", falsamente e quase que em unanimidade todos dirão. Isto é um engano muito comum. Eu mesmo pensei assim antes por muito tempos e seria impossível ver de outra maneira até que eu pudesse definir melhor o que é uma religião e separasse melhor esse conceito do de religiosidade, ritualismo, tradição, entre outros. 

Nem toda tradição é religião, disso todos sabem. O que existem são diferentes escolas. Escolas de pensamento, ou filosóficas, escolas de crenças ou como dizem, de fé, do mesmo modo que existem escolas e divisões científicas, psicológicas, teosóficas, teúrgicas, etc..

Uma escola se caracteriza por uma doutrina, uma filosofia, uma metodologia. E uma religião pelo que se caracteriza? Se não usarmos criteriosamente a palavra religião em seu real sentido ela pode ser qualquer coisa. Temos que saber também não só o significado, mas também a origem da palavra, e não só etimológica como também histórica. A origem etimológica trata da sua forma mais antiga, e também da evolução do termo em diferentes estados anteriores da língua em que é falada e pelas quais passou. A origem histórica tem a ver com isso também, mas vai além, até a razão pela qual surgiu, às vezes até ao seu autor, e como ela chegou a cada etapa de sua evolução etimológica.

A palavra religião vem da palavra religio, em latim, que significa respeito, reverência, hoje no sentido de respeito pelo sagrado, pelo divino, ou culto a divindade ou lei divina, respeito a preceitos sagrados. Mas nem sempre foi assim. A história dessa palavra tem algo anos dizer. Em sua origem no latim não se referia a algo transcendente, mas se referia à reverência que o cidadão romano deveria ter pelas instituições do Império.

O problema, porém, ainda pode ir mais longe. É que historicamente esse substantivo teria vindo de um verbo. Uns querem dizer que vem do verbo religare, religar, reatar. Outros querem ainda dizer que vem de relegere, reler. Se isso for verdade, a primeira opção não faz sentido, a palavra como era usada em sua origem pelo cidadão romano, seria religar-se ao império, ao exército, ao imperador. Se for verdade a segunda opção, além de também não fazer sentido (pois seria reler o império), qualquer coisa outra poderia ser tida como religião, desde ciência, filosofia, psicologia, até sociologia, arte, ideologia, etc.; estas podem ser todas religiões e serão pois são essencialmente visões, leituras, cada uma tem uma ou trás várias novas formas de ler, de ver, o mundo, a realidade, o futuro; cada uma forma várias escolas de interpretação, metodologia, modo de ver e de viver. 

O que isso mostra é que a evolução como ocorre na língua, nas tradições, nas ciências, etc., também ocorre na nossa compreensão (mas lembrando que evolução não significa melhoramento, mas simplesmente transformação, mudanças ao longo de um período, esta pode ser também uma degeneração, no caso da compreensão esta pode tanto degenerar, quanto clarificar, se perder ou se transformar em outra diferente). E neste caso a evolução da palavra casou com uma evolução do conceito que se tornou mais abrangente, mas não por isso mais exato, pelo contrário, se tornou mais obscuro. Hoje muitas coisas podem ser chamados de religião e o conceito se tornou tão abrangente que crenças, mesmo não sendo metafísicas, que assumiram um papel verdadeiramente de religiosidade em termos ideológicos, recebem o mesmo voto de confiança e devoção que antes só as religiões recebiam. Tal culto pode se dirigir a pessoas, ideias (ideologia, doutrina, sistema, teoria, etc.) e até mesmo a movimentos culturais.

Sendo nós rigorosos não poderíamos tomar tal "definição" moderna como uma boa medida para o que pretendemos estudar, pelo contrário vamos recorrer às definições que são adotadas e ou preservadas pelas tradições que se assumiram como religião (ainda que algumas não o sejam no sentido da palavra e contraditoriamente adotem um sentido semelhante). É claro que com isso não chegamos a um consenso, mas delimitamos bem melhor a nossa margem do que cabe nesse conceito. Para chegar a tal definição não precisamos nos ater a uma média dos conceitos das tradições, mas sim à uma observação de como a palavra tem sido usada e definida por essas chamadas religiões e tidas como tradicionais.

Logo que fazemos isso nos deparamos também com outros obstáculos. Por exemplo, alguns vão propor que o termo religião no sentido atual só existe no ocidente e por força do catolicismo que se propôs como sendo a única religião e a inauguradora da palavra no sentido de religar. Este religar evidentemente seria ao Deus único e verdadeiro como é descrito por essa religião e isso evidentemente excluirá todas as outras religiões, inclusive cristãs. Mas isso cai por terra ao examinarmos o uso da palavra por outras que também se dizem religiões verdadeiras, ainda que algumas destas ainda dissessem a mesma coisa, que são a única e verdadeira religião.

O que estamos fazendo não se trata de ciência da religião ou filosofia da religião, se quase se propões um ar alienígena, como se pudesse olhar de fora para dentro, como se esta visão mesmo não tivesse se construído no seio da cultura à qual incorporava e era moldada pela religião. Então temos que tomar um decisão lúcida, sóbria, não recorrer a análises evasivas e negações de completa adequação semântica, etimológica, nem por outro lado simplesmente adotar arbitrariamente um significado e determinar a nossa como uma definição. Essas necessidades não existem, o que existe é a necessidade de uma definição que delimite bem o campo de nosso estudo evitando a confusão.

Então segundo a evolução semântica e etimológica da palavra temos um sentido mais amplo que encampa o anterior mas exclui algumas aplicabilidades anteriores. Assim temos religião, deixando de se referir à reverência às instituições do império e passando a se referir estritamente à reverência ao transcendente e ou sobrenatural e ou metafísico, aplicado à quase totalidade do que se chama religião hoje, politeístas, panteístas, monoteístas, gnósticas, ateísticas, iluminacionistas, etc.. Então esse conceito assume o significado de revisão por um lado e de religação por outro, restringindo ainda mais o campo do que pode ser chamado religião, onde alguns exemplares de todos esses campos citados são excluídos (depois veremos exemplos de porque isto acontece).

Origens da palavra religião através da história 


Apesar palavra religião ser usada universalmente pelos ocidentais, ela não possui uma equivalente em muitas línguas e tradições do oriente, portanto, é uma visão ocidental aplicada ao oriente, quando lançada sobre as chamadas religiões orientais e mesmo africanas, e não necessariamente uma visão que eles tenham de suas próprias tradições, crenças, doutrinas, etc.. 

Religião foi um termo usado no contexto cultural europeu da época em que a cristandade se apropriou do termo latino religio, que era dirigida não para Deus ou deuses ou algo transcendente, mas às instituições imperiais. No hinduísmo antigo, por exemplo, se utilizava a palavra "rita" que se refere a uma ordem cósmica do mundo, ordem esta com a qual todos os seres deveriam estar harmonizados, mas a palavra também se referia à correta execução dos ritos pelos brâmanes; bem mais tarde, o termo foi substituído por dharma, que é traduzido neste sentido como lei, uma lei divina e eterna, ou ensinamento, a depender do uso; esse mesmo termo atualmente é também usado pelo budismo para se referir à lei ensinada pelo Buda, ou o ensinamento dele como um todo.

Foram propostas algumas etimologias ao longo história para a origem de religio. Dessas, algumas são mais aceitas ou conhecidas. 

Cícero, em 45 a.C., disse que o termo se refere a relegere, reler, se referindo às pessoas que sempre reliam as escrituras e se empenhavam em tudo o que se relacionasse com deuses. 

Bem depois Lactâncio, que viveu entre os séculos III e IV d.C., rejeitou o argumento de Cícero, dizia que o termo vem de religare, religar os seres humanos a Deus, argumentando que a religião seria um laço de piedade que serve para estabelecer essa religação . 

Um pouco depois Agostinho de Hipona, no século IV d.C., disse que religio derivaria de religere, "reeleger", no sentido de que através da religião a humanidade reelege a Deus, do qual havia se separado. Mas mais tarde Agostinho retoma a interpretação de Lactâncio, que religio viria de "religar".

Depois disso ainda surgiram outras hipóteses, como a de Macróbio, no século V d.C., que afirmava que religio derivaria de relinquere, deixar para trás. Além dessa também muitas outras interpretações populares foram acreditadas como a verdadeira origem da palavra ou mesmo hipóteses que remontam as partes da palavra atribuindo diferentes junções de termos supostamente originais.

Entretanto a evolução do conceito da palavra nos leva hoje a apontar novamente para as primeiras origens a que foi atribuída na antiga europa cristã, porém nem tão restrito como fizeram alguns, se referindo apenas ao cristianismo ou ao monoteísmo, nem tão abrangente como se faz coloquialmente na pós-modernidade, se referindo a todo tipo de doutrina metafísica, seita, crença, tradição primitiva, etc.. Isto porque não podemos perder o alvo da palavra que é uma forma de reler a realidade, mas não apenas isso, é uma forma de reler a realidade com um fim de, isto é, para e por este meio, da religião, se religar a uma origem transcendental ou se ligar a um estado transcendental.

Esta releitura é a face da religião que se dirige para o mundo, o mundo comum, que aparentemente compartilhamos e parte de um mundo invisível, que quase nunca compartilhamos. E esta religação é a face da religião que se dirige para o transcendente, para o que não está nem é perceptivelmente presente aqui agora. Isto, em suma, é o que define hoje o que é religião e exclui o que não pode ser tomado como tal.

Mas ainda existem muitos outros critérios, que não são o objetivo de nossa exposição aqui. Enfim, religião pode não se referir mais a um sistema, seja de crenças ou de práticas ou ambas ligadas a alguma coisa transcendente, mas é algo que sempre está ligado a este algo que transcende a nossa percepção e exige uma visão diferente, que é apresentada seja por práticas, doutrinas ou crenças (diferentes ou semelhantes em cada uma das religiões). Assim religião não é o que aponta ou discute ou estuda o transcendente (isto fazemos nós cientistas), mas o que propõe um caminho de ligação com algo transcendente. 

Resta ao pesquisador e ao que busca um caminho comprovar os fatos e fenômenos religiosos em sua eficácia (enquanto caminho que leva a um fim ou enquanto método), sua veracidade (enquanto doutrinas, sistemas, propostas ou crenças, etc. e definição do que é realmente este fim) e sua realidade (enquanto moral e comportamental, o observável comum e concreto e ou fenomênico). E então através disso poder verificar essa influência e seus resultados, desde esse nível observável normalmente, o nível moral e comportamental (pelas ações, palavras e transformações observáveis em cada pessoa e em s mesmo), até os seus objetivos finais (se leva seu adepto aonde propõe levá-lo (e por esse último critério é que nossa ordem pode excluir várias das ditas religiões de seu campo de estudo como religião: por já terem se comprovado pela ordem como ineficazes ou mesmo falsas, pois não levam ao que propõem ou apontam fins falsos)).

domingo, 5 de maio de 2019

DIFERENTES RELIGIÕES OU DIFERENTES SABEDORIAS? - COMO VEMOS NA ORDEM E QUAL NOSSO OBJETIVO AO ESTUDÁ-LAS



A pessoa que se aproxima do primeiro nível ou graduação da ordem, deve entender que a ordem não é religião, que os livros sagrados das religiões que estudamos são vistos como sabedorias, e que os estudamos da mesma maneira que faz o cientista da religião. A diferença talvez é que ao fazê-lo nós nos pomos numa tripla posição, isto é, sem abandonar a análise racional, mas nos colocando a par completamente das doutrinas e tradições como se fôssemos daquela religião, daquela tradição, e até mesmo nos colocando no lugar das pessoas da época em que foi escrito. E por um terceiro lado ainda nos colocamos numa terceira posição, a de um historiador, estudando não só os diferentes pontos de vista de vários historiadores, mas também encarando arqueologicamente os escritos, criando nossa própria perspectiva, pessoal, individual, que deve ser compartilhada e debatida. Coloquialmente continuamos a usar o termo religião, até por respeito aos grupos religiosos, mas nossa visão é que são tradições ou vias de conhecimento que explicam e ou tentam alcançar uma determinada realidade eterna (e até muitas vezes muitas vezes diferem não só nas maneiras para alcançar isso e explicar isso, também diferem no conceito disso e no mesmo no objetivo, podem se dirigir a objetivos diferentes). Assim nós vemos como diferentes sabedorias e ou diferentes tradições, portanto estudamos tradições e sabedorias, não religiões.

Por isso nos reservamos o direito de fazermos isso entre nós. Se por um lado não há como debater com ignorantes ou mesmo eruditos menos informados, por outro exercemos nosso direito de crítica sem reservas. Críticas tais que poderiam ser muito mal usadas se caíssem no conhecimento de ignorantes ou de acadêmicos, contra essas religiões mesmo, pois obtendo informação parcial e como alguém do exterior dessas religiões, qualquer um poderia escolher pontos isoladamente ou fora do contexto ou mesmo ideologicamente, para atacar estas religiões. Então quando fazemos assim protegemos não só a nós mesmos, mas também ao nosso objeto de estudo, essas religiões. E por essa razão, as religiões não comprovadas por nós como religião, no sentido humano mesmo (pois no sentido científico ou filosófico praticamente nenhuma se comprovaria como tal), também não são dessa forma estudadas, pois seria expor o estudante a uma visão errônea, simulando adortar uma religião ou uma filosofia que de fato não o é, ou que é apenas a invenção ou loucura de uma mente desequilibrada. Mas estas falsas religiões e falsas filosofias também são estudadas na medida que for necessário, na forma científica, racional, crítica, filosófica e lógica. Estudamos tais sabedorias desse tríplice ponto de vista que pode ser resumido como o ponto de vista de alguém que está em contato e buscando para si mesmo naquela filosofia. Se a pessoa não se vê capaz de adotar simultaneamente tais posicionamentos (os três já citados), ela ainda não está preparada, então deve aprender sobre essa capacidade e como deve agir, pois essa é a posição natural de todo buscador, busca sinceramente ali, tem dúvidas, procura ver a história e como se chegou àquela doutrina, analisa logicamente, procura provas empíricas, etc. (se a pessoa não tem naturalmente essa posição tríplice é porque já a perdeu nos condicionamentos sociais e aprendizados, deve então aprender a resgatar essa capacidade e visão natural).

E além disso no primeiro nível não estudamos apenas livros e doutrinas da religião como se pode pensar, mas muito mais estudamos a nossos procedimentos e a metodologia científica. Estudamos a história, estudamos as teologias e ou cosmogonias, estudamos a metodologia científica e os construtores da ciência moderna e contemporânea, estudamos a epistemologia e a epistemologia das ciências, e estudamos a filosofia relacionada à temática (metafísica, religiosa, soteriológica, iluminaciológica, conscienciológica, etc.) e a psicologia (santificação, purificação, regeneração, transfiguração, metempsicose (captar o conteúdo ou influência de outras mentes), parapsicologia, etc.). Estudamos todas ciências contemporâneas em suas descobertas com relação aos temas fundamentais da religião e seus processos (vida a pós a morte, curas, ressurreição, saída do corpo, sonhos lúcidos, visões, obediências, leis, procedimentos, etc.). Estudamos sempre dentro de nossa posição objetiva e ética ao mesmo tempo, portanto não podemos deixar de estudar, aprender e adotar uma disciplina moral, da qual depende, pois colocamos como condição (e é psicologicamente uma condição), do avanço do conhecimento e do discernimento. E estudamos também nossas teses que são derivadas desses estudos e procedimentos. Nosso estudo não objetiva sequer a religião ou as ordens ou o oculto como se poderia pensar, mas a ordem tem como objetivo a verdade, a certeza sobre essas temáticas, que costumam ser classificadas como metafísicas, ou seja, além da fisis. Nossa ordem objetiva levar o estudante a comprovar por si mesmo a verdade sobre tudo isso e até mesmo a verdade em si mesma.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

QUEM É FRATER ... E QUAL PAPEL DESEMPENHA NA ORDEM?



Frater        ... (pronunciado como frater silêncio) é o nome iniciático bem humorado que escolhi para representar o professor do círculo mais externo (qualquer que seja ele). Esse cuidado de esconder o nome interno não é por mim, mas se aplica a todos como regra por necessidade ou possível necessidade, já que mesmo que não necessitasse dessa proteção agora poderia vir a necessitar em algum momento, isto é pelos mesmos motivos já citados:

a. para proteger as fontes e de não permitir ao não iniciado ignorante a zombaria com nomes dessa natureza o que lhe traria já mal resultado.

b. todos já sabem meu nome de professor e apresentação exterior e alguns sabem outros nomes que adotei na ordem enquanto vagava nos graus do primeiro nível, não há razão para dizer que esse nome seja meu nome, ou nome interno, mas a realidade é que esse nome é aqui utilizado para o anonimato de todo e qualquer da ordem, para idéias gerais da ordem que não sejam minhas próprias teses ou de algum outro estudante e finalmente para manter o sigilo da identidade do produtor de algum texto, neste caso, tanto externa, quanto internamente.

c. para não crescer o "ego" de quem quer que venha a publicar aqui um texto, principalmente sendo professor ou de um grau elevado, é uma vacina, uma prevenção para que nenhum venha a se orgulhar ou se sentir de qualquer modo acima dos outros por causa disso, (a não ser que seja um texto de tese, ou novo ou controverso, neste caso é obrigado a colocar seu nome de iniciado para que assim assuma a responsabilidade daquela ideia).

E os três pontos? Não tem a ver com o que você pensou que fosse, com certeza, os três pontos ficaram aí porque os espaços que seriam os lugares das letras não aparecem na assinatura aqui no blog, é problema do software do blog. Então aparecem somente os três pontos e aí você já sabe que é frater        . Três pontos também se referem ao fato que esse é um dos nomes, podem haver outros nomes do mesmo frater e outros frati que escrevam o texto...

Também o humor é devido a ver nomes pomposos de alguns que não deveriam usar tais nomes como uma espécie de medalha de honra chegando muitas vezes a corresponder ao contrário de suas ações.

Frater significa irmão, mas para nós é companheiro de trabalho e amigo espiritual, e pode se referir a um professor, não é o mesmo que um monge ou mestre ou alguém de uma hierarquia superior qualquer que seja ela. É simplesmente alguém que nasceu para a grande obra alquímica (a espiritual), um novo “ente”, um novo ser, um novo modo de ser, assim tem que ter outro nome.

Então resolvi por aqui o nome Frater          porque é uma incógnita, não uma presunção, poder-se-ia dizer Frater Silêncio ou até Frater nada ou Frater Vazio, mas esses últimos já podem parecer alguma presunção de uma terrível falsa modéstia, então é melhor que não sejam falados assim.

O importante aqui é ensinar, desde o próprio nome, que não recebemos nomes para cultuar a personalidade, como muitos fazem, pois seguimos o caminho inverso, o do abandono. O "ego" diminui, a personalidade diminui, a luz, a nossa luz interna, a realidade em nós, aumenta.

O que é o nome iniciático em nossa ordem? É simplesmente aquele que identifica sua meta, o que você quer alcançar, e isto pode mudar ao longo do caminho até que chegue a resumir sua meta real, isto é, o que você vontadeia ser por toda a eternidade. Nos círculos seguintes você saberá outro nome meu, não só a sigla, agora já sabem aquela que escolhi por identificação da minha vontade e por ser a minha meta de trabalho. Algo que você também deverá fazer ao escolher o nome. Que o meu nome é I.L.I.V., você agora sabe, mas você ainda não sabe o que cada letra significa, sabe? Se sabe é porque eu já lhe revelei ou porque tem um chamado para a ordem, se for este segundo caso me escreva pelo e-mail. Mesmo aqueles a quem revelei, mesmo por displicência minha, e não merecem saber esse significado, já esqueceram. Então vejam como mesmo até a sigla é algo importante, quanto mais o nome.

O nome também é para assumir a responsabilidade sem exaltar o ego, pois o nome não é do conhecimento dos outros meios que frequentamos, não nos dá fama no mundo. Mas por outro lado é nossa assinatura, pela qual o que fazemos, falamos ou escrevemos fica ligado a nós, assumimos a responsabilidade perante a ordem, perante a verdade. Não fazemos as coisas covardemente como se vê em muitos sites e comunidades cheios de textos e postagens anônimas e até que foram tiradas de outros autores sem lhe dar o devido crédito. Essa modéstia desse falso anonimato que alguns fazem é apenas o véu da mentira, da fraqueza, da falsidade, de covardia.

Nós devemos assumir o que falamos e a responsabilidade sobre o que traduzimos, apresentamos ou escrevemos. Ser anônimo, ser modesto dessa outra forma, muito comum hoje, é ser hipócrita, "esperto", enganador, plagiador, buscador de fama. Para que saibam sobre frater I.L.I.V. farei a seguir um breve histórico contendo o que mais tem a ver com a carreira dentro da ordem e para chegar até ela, ou seja, antes disso, quando era um perdido buscador...