domingo, 24 de março de 2013

Religião como um modo científico de conhecer

 
Somos também uma religião, não uma doutrina religiosa, mas um tipo de religião, a gnosis, ou como dizem mais recentemente, “gnosticismo”. Somos gnósticos, ou como se diz no oriente panditas. Isto se resume a ter confiança, baseados na razão e na experiência, de que o conhecimento direto liberta. Mas não é só isso. Em síntese é a “fé na salvação através do conhecimento”, mas não é um tipo comum de conhecimento. Gnosis significa literalmente conhecimento ou sabedoria, ou ciência. Mas que conhecimento? Saber o que? Que tipo de sabedoria? Ter ciência de que?

É beber na fonte. É beber da fonte e comungar com ela. É o conhecimento da fonte. O conhecimento supremo. E a união suprema. E ao longo do caminho o conhecimento direto. É ver para crer, melhor dizendo, para realmente saber. Assim, não é uma religião definida, mas um modo de religião. Todas as religiões que se enquadram nesse modo de ser podem ser chamadas de gnósticas e todas elas são possibilidades de atingir o mesmo objetivo. Falando mais precisamente, quase todas as religiões são gnóticas na sua origem e com o passar do tempo se tornam doutrinárias e até mesmo, como sabemos, axiomáticas, dogmáticas e suprsticiosas.

O gnóstico pode ser ateísta ou teísta, deísta ou agnóstico, pode seguir uma ou várias religiões ao mesmo tempo, pode não ter religião alguma ou criar a sua própria religião para si mesmo... são muitas possibilidades mesmo além dessas. Mas todos os gnósticos são céticos empíricos, no sentido de que eles experam pera experiencia direta, por si mesmo. Ou pelo menos eles, embora aceitem explicações lógicas e racionais, suspendem seu julgamento até que através da experiencia, da vivência, da compreensão direta por meio do insight, tenham a confirmação daquilo. Isto é de suma importância pois mesmo quando temos certeza podemos cometer deslises, erros, enganos; podemos estar praticando errado ou interpretando errado alguma coisa. Isso não quer dizer que ao entrar em nossa fraternidade ou em nossos estudos você abraça uma religião ou como dizem, se converta a uma nova religião ou a mais uma religião (mas isso pode acontecer, a liberdade é sua).

Você não tem que deixar sua religião nem tem que ter uma como ja foi explicado. Nosso trabalho não tem a ver com isso. Pelo contrário, é como uma gradução universitária, ninguem tem que deixar a religião para fazer um curso de graduação, assim é nosso curso, uma graduação, num tipo de conhecimento e num modo de conhecer. Para onde você centraliza ou dirige esse conhecimento depois também não é uma conversão, é como uma especialização ou mestrado e assim por diante. Assim como quase todas as religiões na atualidade são uma mistura ou tem elementos de várias outras (e é exatamente isso que você tem que reconhecer para entender ninguém hoje tem uma religião só, na prática) essa religião ou tipo de religião ou modo de conhecer tem elementos de vários outros sistemas, mas todos, em nosso caso, com esse objetivo, do conhecimento e união suprema, e com esse modo de conhecer, direto, por si mesmo, pela própria experiência. Isto é o que significa gnóstico para nós (e não um conjunto determinado de doutrinas ou preceitos).

Então tanto no nível teórico quanto no nível prático essa postura é requerida, pois se entendemos um procedimento e embora o pratiquemos a muito tempo ele não dê resultado é por esse procedimento não é adequado, ou por estarmos praticando errado ou interpretando errado os resultados. Ainda pode ocorrer que vários outros tipos de confusão. Por isso é que o gnosticismo, embra seja muito individual, sempre ocorre em escola ou enklesia, ou seja comunidade, onde a experiência do mais adiantado é muito importante para corrigir e adiantar o iniciante, ajudando pelo menos a evitar o que já se sabe dar errado. Por isso se fala de iniciante e iniciado. Sempre somos iniciantes em um grau cada vez mais acima onde, para o iniciante no grau abaixo do nosso, somos iniciados. Mas só podem, quer dizer, só deveriam ensinar, aqueles que se prepararam para isso, por vária razões que deveriam ser óbvias para as pessoas que com isso se envolvem. O que ensina tem que praticar e estudar muito mais, para saber, por exemplo, não só do seu próprio caminho, mas também outros ou entender de uma perspectiva multidimensional os tipos de compreensão humana e seu condicionamentos.

Diferente de tudo que se chama religião esta tem certas características estanhas, ela é pessoal, individual e não exige exclusividade nem dedicação exclusiva, você pode ter a religião que quiser além dela, ou muitas outras ou criar a sua ou as suas, ou estudar todas se puder, participar de tudo que sinta necessidade de participar, mesmo que seja contraditório. O ser humano é contraditório. Negar essa característica seria nos tornar máquinas lógicas, abaixo até do humano. Não é natural negar esse direito a si mesmo. E para quem quer ir além do humano seria um contra-senso proibições desse tipo.

E o que é gnose? Por que usar esse nome numa religião ou num modo de ser religioso novo? Essa não é uma religião nova, a gnose é muito antiga, mas sistematizada em nossa história apenas há cerca de 2700 anos. A gnose tem essas características desde o princípio: de ser uma religião pessoal, um trabalho e escolhas individuais, a busca da experiência própria nunca a verdade via revelação ou sacerdote. Acontece que por vivermos num país chamado cristão, num ocidente judaico-cristão e estamos ofuscados por um conhecimento tendencioso de que a gnose é movimento cristão ou mesmo de que o verdadeiro cristianismo seria o gnosticismo. Há tendências que ligam o “gnosticismo” até aos essênios. Na verdade as pesquisas e achados recentes, para nós, parecem apontar para o que as tradições antigas já falavam: que a gnose é uma confluência de um tipo de procedimento de muitas origens diferentes.

Gnosis é um modo de conhecer no qual o conhecedor, o ato ou meio de conhecer e o conhecido se tornam a mesma e única coisa, a isto se chama de realidade. Como dizem os Upanishads: o conhecedor, o conhecer e o conhecido são a mesma coisa; ou ainda, conhecido, conhecimento e conhecedor são na verdade uma mesma e única inseparável realidade. Gnose é um movimento histórico natural e “estranho”, chamado de mágico por alguns, que aconteceu em nosso planeta e sempre volta a acontecer e se renovar ao longo dos anos incorporando às vezes novos úteis elementos, às vezes eliminando outros que já não mais seja adequados. Mas não é um utilitarismo embora seja muito pragmático, assim alguns elementos podem ser preservados por tradição, por respeito ou gratidão aos antigos pesquisadores, afinal o caminho é construído com o superesforço de muitos.

Para nós a gnose em processo de sistematização e tomada de consciência surge naquele tempo e se manifesta de várias maneiras, através de seres conhecedores, que de certo modo estavam preparados para um desenvolvimento muito superior a tudo que havia como religião ou esoterismo até então. Ela é a primeira ciência no sentido da palavra, Tales, Pitágoras, Aristótelis, só como exemplo de alguns, estavam entre os primeiro gnósticos no ocidente. Tal status superior tanto ético como de procedimentos e modos de conhecer, se analisarmos friamente, jamais foi superado mesmo nos dias atuais.

Aliás, hoje a religião degenerou muito, e somos talvez os mais imaturos enquanto religião, na história. Lembremos que hoje muita gente crê: num Deus onisciente e onipotente que criou um inferno para condenar aqueles que não o bajularem com adoração e obediência; que devido ao “pecado” (que seria hereditário inclusive) ser já impagável com qualquer sacrifício (pois se podia aplacar a ira desse Deus sacrifícios sanguinolentos antes) que se pudesse fazer, ele envia seu próprio filho para nós sacrificarmos, e através desse “pacto” sanguinolento nos libertar da fúria punitiva do mesmo Deus. É um pouco absurdo, ainda mais quando o referido deus, sendo onisciente já sabia que tudo isso iria acontecer e sendo onipotente poderia simplesmente nos esclarecer e enos impedir ou nos perdoar, mas prefere condenar, mesmo sendo ele “todo misericordioso”... É difícil acreditar que exista um ser assim, ainda mais que seja o deus supremo, mas esse é o dogma central do chamado cristianismo de hoje. O mais estranho é que esse dogma foi criado como interpretação oficial de escrituras por um grupo que antes matou os autores de tais escrituras, ou seja, desconhecendo completamente seus símbolos e o que de fato significariam.

Nem mesmo na ciência houve tal salto a um nível tão elevado; basta lembrar que a maioria dos cientistas hoje ainda crê que os fenômenos são algo observáveis e existentes por si mesmos, fora do observador, ainda que hoje já se considere que o observador e a observação alteram o observado (e para sermos francos poucos entendem como isso acontece). A ciência considera ingenuamente os fenômenos e a matéria como reais em si mesma e independentes da consciência, embora alguns filósofos, mesmo da idade média, já tenham demonstrado que isso é uma impossibilidade, um contra senso, que não tem lógica nenhuma e que essas deduções se baseiam apenas no hábito. Enfim, mesmo a ciência contemporânea admite pressupostos, axiomas, o que para nós são crenças, tradições, cultura, condicionamentos e está muito longe da suposta neutralidade do observador. O cientista hoje dispensou o estudo da epistemologia das ciências em grande parte. Então ele realiza o experimento já pressupondo, baseado apenas no senso comum, um tipo de realidade, ele não estuda nem o que se define como realidade primeiro. E isso, para nós, é ser religioso, no sentido de confiar antes de realmente saber pelo menos. No modo gnóstico ele teria que experimentar o que é “realmente", ou seja, de fato irrefutável, real ou não, ou se tudo a que se propões não passa de idéias, sensação e sensibilidade. Mas aí a formação científica ficaria muito demorada e a ciência tardaria muito em trazer seus benefícios. Então cada um com seu papel. Só não admitimos que a ciência nesse modo, agora antigo, antiquado, venha nos dizer e definir o que é real e o que é realidade, coisa que não está a seu alcance por seus métodos, e que já foi discutido à exaustão pela filosofia, demonstrando essa impossibilidade.

Isto só é logicamente permitido aos outros setores do conhecimento, a saber, a filosofia, o esoterismo, a arte e a religião. Sendo superior nesse campo a filosofia porque a ela cabe definir, e também o que chamamos esoterismo porque a ele cabe a experiência direta, una com o objeto, enquanto que a religião só em seu aspecto filosófico e esotérico poderiam fazer isso. Mas esta tem preferido o revelado (e ainda não de modo direto mas por uma literatura que não é clara em sua maioria) e/ou dogmático ainda nesse início de era que se caracterisa pelos novos paradígmas em todas as áreas e pela queda progressiva dos deuses escravistas.

A arte, ainda atrasada em seu despertar paradigmático não pode senão determinar com base na estética, por isso ainda repousa em seu sono deixando ativas apenas as psicologias, sociologias, antropologias e todas as ditas ciências humanas , que são na verdade não exatamente ciências, mas artes, já que têm embora não admitam, base na estética. A histiografia e a historiologia, por outro lado, embora não deixe de ser uma arte, tende a se emancipar como uma ciência superior por justamente abandonar o velho paradigma estético, que se pode grosseiramente resumir como contar fatos relacionadios ao nobre, ao belo, ao poder, às transformações, à defesa dos poderosos, etc. para um olhar mais frio e uniforme que passa por cima dos fatos visualizando mais indiscriminadamente todas as nuances. O que reflete uma influência indireta desse modo gnóstico, já que além de ser mais democrática, contemplando às vezes várias visões, não escolhe com base no movimento, na beleza, na mudança ou outro padrãoda ou moda literária da época, mas decreve olhado o observado, detectando aquilo que não se move, que está estagnagado, atrasado, abandonado ou parado no tempo, detectando também por vezes o ausente e o não visto, levando a uma visão mais humana e compassiva e que admite a consciência como principal agente e construtora da realidade.

É dito que o conhecimento gnóstico, como o de muitas religiões e diciplinas orientais, é do tipo oculto ou esotérico ou o que chamamos de arte ou ciência hermética no ocidente, não que seja místico ou mítico, mas por sua natureza ser fechada, isolada: nenhum pode demonstrar ao outro senão que pode tentar descrever e pode apenas mostrar os métodos que levarão à mesma experiência ainda considerado as diferenças entre os seres humanos. Mas só cada um, por si mesmo, poderá demonstrar para si mesmo, provar por si mesmo. Isto se deve à natureza da experiência, o que não é incomum. Podemos ter exemplo de várias coisas assim no dia a dia. Por exemplo, por mais que nos descrevam o sabor de um alimento, poderemos ter apenas uma vaga idéia, por comparação, mas só saberemos o que é o sabor experimentando. Mais difícil ainda quando se trata de experiências que não são comuns para a maioria, como as experiências da meditação de uma pessoa que medita diariamente por anos são muito difíceis mesmo de serem descritas para um não meditador e pior ainda de serem explicadas. Ao contrário de outras experiências das quais podemos ser informados sem necessitar experienciar de fato em nós, existem experiências que só poderemos, mesmo conhecer, passando por elas. Um símile muito claro e muito usado é o de que explicar tais experiências, como as de meditação e outras que chamam de esotéricas, seria como tentar explicar cores a um cego ne nascença. Só passando por cirurgia e depois aprendendo a ver, o cego saberia o que são de fato as cores (sim aprender, o cego que nunca viu precisa apender, como uma criança aprende, nós apenas não lembramos disso).

Esse tipo de experiência é natural, não existe fenômeno sobrenatural, mas apenas que a natureza de certas experiências é sempre exclusiva do experimentador. Um círculo esotérico é apenas aquele formado de pessoas que foram simplesmente treinadas em certos métodos, ou pelo exercício desenvolveu de modo muito aguçado, como fazem os atletas, certas capacidades ou habilidades. Cada grupo, como cada religião de tipo gnóstico, como cada escola de ocultismo, budismo, yoga, hermetismo, esoterismo, alta magia, ou seja qual for o sistema ou como se classifique, é como um grupo de atletas, ou peritos, ou cientistas, que treina os procedimentos e adiquire os conhecimentos necessários para alcançar seus objetivos.

E é esse o critério que o buscador deveria por no topo da sua análise de escolha: qual o objetivo último da escola ou religião ou grupo? E em segundo lugar quais os métodos para atingir de fato e comprovadamente tais objetivos? E então analisar: o objetivo é alcançado e acessivel? Quantos o tem alcançado? Quais os frutos do sistema em seus praticantes? Infelizmente muitos buscadores hoje se auto enganam e buscam aquilo que gostam ou que se enquadre no seu limitado pensamento e curto conhecimento (até no sentido comum de conhecimento, muitas vezes) e optam por uma mentira confortável em vez da verdade.

Religião como um modo científico de conhecer é o que se pode chamar de gnóstica. Mas não é científica simplesmente no modo como se entende normalmente, é preciso explicar: no modo gnóstico há vários níveis de experiência, e o ápice da experiência é a união do “sujeito” experimentador com o “objeto” experimentado constituindo o terceiro elemento chamado “experiência”. Assim experimentador, experiência e experimentado se vêem como um só fenômeno. O ápice desse processo é a união suprema, aquela que abrange a totalidade, infinidade e eternidade da experiência...

Se você quiser entrar em contato ou fazer perguntas ou dar sugestões, envie um mail para
frateriliv@gmail.com.




sábado, 23 de março de 2013

O modo gnóstico de conhecer


Uma maneira de compreender a luz, a consciência à qual nos referimos por falta de um termo mais apropriado, é que ela é luminosa e iluminada. Sua natureza é a nossa real natureza. Sua natureza é semelhante à de um espelho, mas um espelho que se auto modela e que é modelado, que se deforma, distorcendo, selecionando, escondendo, enfatizando, etc. E isto é feito, “aleatoriamente” digamos, devido nossa ignorância e atualmente devido aos nossos condicionamentos, o que chamamos de impurezas. O que significa essa palavra aqui? Significa que há uma “substância” ou um processo que não é próprio, nem apropriado, de um sistema, que há algo que não é nosso nessa consciência, como vírus num computador interferindo nos processos e programas, limitando as potencialidades, os recursos e resultados, interferindo no que é visto, ouvido, etc. E qual é a real natureza do espelho além de refletir, de um espelho que mostra as coisas como são? É ser plano. As distorções do espelho distorcem o visto, modificam, ressaltam, omitem... Assim, quanto menos distorções melhor, é preciso corrigir as distorções as impurezas.
O que há dentro de um espelho? Imagine dois espelhos sem borda, infinitos, sem beirada, encostados frente a frente. O que eles refletem? Se você conseguir responder essa pergunta da maneira correta você descobriu a natureza da consciência. A consciência “em si" é vazia, quando ela olha para si mesma esvaziada dos seus conteúdos, como no símile do espelho, o que ela vê? Descubra! É apenas essa experiência, que não pode ser descrita, que mostrará para o meditante a sua real natureza, não algo que possa ser dito e compreendido intelectualmente, só o conhecimento direto, isto é o modo gnóstico.
Este “vazio" luminoso e iluminado, não pode ser descrito nem compreendido pelo raciocínio apenas. Se ele não fosse algo muito interessante, bom e maravilhoso ninguém meditaria mais depois de têlo experimentado. Não se trata do nada, não tem a ver com niilismo, mortificação, acetismo ou aniquilação, mas de um autoconhecimento, um reconhecimento, uma volta ao lar. Este vazio pode conter todas as coisas, todos os fenômenos, como um espelho pode refletir tudo e ainda sem ser afetado por aquilo que reflete. E efetivamente esse espelho contém tudo, mas não como podemos conceber; esse conter não se parece com o que podemos imaginar; de fato nossa consciência, de certa forma, já contém tudo, nós é que ficamos num canto escuro dos porões de nossa própria consciência, com medo da luz que há lá fora nos cegar ou matar. Mas que surpresa quando saímos do porão e olhamos pela janela da casa! A luz que temíamos, da qual o sol é apenas uma amostra, sequer incomoda nossos olhos!
De fato, como todo o visível é passível de refletir num espelho, todo conhecimento é passível de ser conhecido na consciência. Quando nos vemos de fora do espelho somos sujeitos aos objetos a nosso redor, somos apenas mais um objeto que pode aparecer no espelho, mas quando estamos do ponto de vista do espelho, as imagens não podem nos afetar; e nosso corpo, ações, personalidade, são vistos como parte do todo. O espelho, a consciência  a luz é nossa real natureza, nosso fundamento mais profundo. Estar na luz é a real segurança. Este conhecimento, dessa luz, está no fim e no começo de nossa jornada, numa escala crescente, ele é o ponto de partida e o de chegada.


Está se aproximando o dia da iniciação fundamental da grande ordem, segundo o método próprio de nossa fraternidade. Essa iniciação é de fundamental importância para todas as outras, pois é o reconhecimento de nossa própria natureza mais profunda, rigpa, “nosso verdadeiro ser”, “nosso íntimo”, the witness, “aquele que vê”, “a verdadeira mente”, a mente única, “a consciência pura”, “aquele que sabe”, o Tao... mais além de todas as denominações, isto só pode ser conhecido pela experiência. É “ele-ela” (It) que experiencia em nós. Essa iniciação é um dos meios que introduzirá o aspirante nessa experiência direta, a qual poderá testemunhar em si mesmo, comprovar por si mesmo.

A maneira única de se inscrever é através de e-mail. Se você tiver interesse em viver essa experiência ou quiser mais informações mande um mail para frateriliv@gmail.com e você poderá receber textos explicativos; fazer a inscrição e marcarmos local e hora ou, para mais informações e para receber textos explicativos sobre o procedimento.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Como somos gnósticos

A luz se manifesta do mundo de várias formas de acordo com os observadores, com as superficies, com a atmosfera, com o ângulo, etc. Com a luz espiritual ocorre algo parecido. A luz é impessoal, como sabemos “o sol nasce pra todos" e “a chuva cai do mesmo modo sobre os justos e sobre os injustos". Mas nisso mesmo reside a diferença, o justo não vê a chuva da mesma forma que o injusto nem a recebe da mesma forma. Bem assim se dá com a luz, cada um encherga de uma maneira diferente embora se nomei as coisas com o mesmo nome; na verdade esse fato é a origem de quase todas as confusões. Assim também é com a luz espiritual. Todos a recebem de alguma forma, todos a tem, mas poucos são capacitados para ver em sua inteira claridade, em sua força, em sua intensidade, em suas nuances, matizes, aspectos, seus detalhes, seus poderes, etc. E mesmo alguns que vêem em mais detalhe podem não saber o que fazer com isso... Para o bom entendedor, meia palavra basta.

Dessa maneira as diferentes formas de conhecimento e suas combinações resultam em perspectivas diferentes e modos de olhar diferente. Esse modos de olhar vão formar as lentes pelas quais enxergamos e essas perspectivas vão forma as diferentes explicações do que se acredita estar vendo, nossas projeções. Assim nascem as diferentes formas de religiões, ciências, filosofias, esoterismos e artes. O problema é que aos poucos o modo de ver ganha certa importância demasiada, mas logo depois, na história, se perde dando lugar ao exagero do ponto de vista, da explicação, ou seja, vira doutrina e a doutrina se torna mais importante que a realidade. Então a luz tem que ser novamente reestabelecida; o fogo de Prometeu tem que ser trazido novamente, atualizado para a nova mentalidade.

Se hoverem seres divinos superiores como as várias doutrinas apregoam, mesmo que fossem apenas extraterrenos, nós em comparação a eles somos como macaquinhos ou formigas, em inteligência, moral, tecnologia, arte, etc. Não é que tais seres sejam frios e impiedosos conosco ao ponto de ficarem assitindo como a um experimento, mas que nosso carater, digamos moral, tem uma espécie de programa que eles já sabem bem no que resulta mesmo quando ainda resida um pequeno traço desse programa. nós para ekles somos previsíveis como um computador é previsível para um especialista em computadores. Nós não estamos “prontos” para a verdade nem para uma realidade tão superior à nossa, mas não se costuma dizer que “quando o dicípulo está pronto o mestre aparece”? Se hover então um ser ou seres superiores que possam nos ajudar necessariamente é assim que acontece, e por esse programa em nosso carater conter um elemento muito perigoso, poderoso e incontrolável é que eles permanecem ocultos para a grande maioria. Não precisamos admitir a metade dessa idéia que fala de seres superiores para concordar com a outra metade, a de que somos seres com uma inteligência, apesar de variada em níveis dentre seres humanos, muito limitada em suas capacidades, sua racinalidade, força e principalmente no carater ético e moral.

Nosso grau de egoísmo normalmente é tal que beira a idiotia, disso sabe qualquer meditante experiente ou iniciado, e ainda filtramos nossa experiência de si mesmo projetando uma percepção que só costuma captar o nobre, o elevado, a tal ponto que qualquer um tem de si uma imagem que o coloca acima do mediano pelo menos, é claro: vivemos numa espécie de psicopatia que nos faz acreditar que conhecemos uns aos outros e que sabemos como os outros são só de olhar nos olhos, semelhante a uma intoxicação por cocaína, nos sentimos assim, visionários, conhecedores, adivinhos, conselheiros, superiores. E ainda vendo apenas o que nos interessa em nós. Na verdade é assim com tudo, só vemos, só enxergamos de acordo com nossos interesses, com nossa intensionalidade distocida projetamos uma imagem do mundo, das pessoas e de si mesmos. Isto é o normal, mas imagine aqueles muito humildes ou modestos, aqueles que se acham nada ou se acham um lixo, pode-se confiar em tais? Que diremos daqueles que se odeiam (não incluo aqui os que estão insatisfeitos consigo mesmos e querem mudar nem aqueles que reconhecem a baixeza humana normal e querem superar, estes são os buscadores sinceros, no mais alguém que odeia a si mesmo no geral oculta o carater de ogro selvagem)!.

Mas com certeza o pior disso é que temos alguns desses “programas”, não apenas um, e que apesar deles serem automáticos, nós acreditamos piamente que nós é que nos controlamos e o pior que somos assim porque queremos e decidimos ser. E não há nada que convença a um ser humano do contrário. A não ser certas práticas, a meditação e certos processos iniciáticos. Processos esses que permitirão que o indivíduo veja por si mesmo e como se estivesse em “câmera lenta”, os detalhes de vários mecanismos e programas, que são os condicionamentos, que agem por si sem que “ele” tenha qualquer participação. Sabemos que esse desvio pode chegar ao ponto da escravidão quase total por desviar a intencionalidade: é como se um louco fosse convencido de que todas as pulsões que surgem em sua mente são sua verdadeira essência e que ele deve atender todas as suas “vontades”. A intencionalidade é a força mais poderosa que existe, por causa dela não podemos mudar as coisas ao bel prazer, mas isto é explicado em outro ensaio. Aqui basta dizer que a nossa intensionalidade condicionada, por sua vez, condiciona o modo como percebemos e como sentimos e pensamos sobre o percebido. Por nossa intencionalidade estar completamente programada pelo descaso de milhares de aoens e biológica e culturalmente condicionada por milhares de gerações, não a podemos mover muito, nem alterar muito os fenômens que constituem a nossa vida. É preciso compreender as leis naturais sob as quais essa fenomenalidade é regida. A gnose tambem é o conhecimento dessas leis.

As manifestações da luz, ou melhor, a maneira como recebemos a luz origina, como foi dito acima, os diferentes modos de conhecimento, e dentre estes nascem as diferentes perspectivas. A luz é o que chamamos conhecimento, sabedoria, iniciação, iluminação, mas ela mesma é gnose. A luz ao mesmo tempo é tamém a consciência. Mas não a consciencia como estamos acostumados a conhecer, o que chamamos consciência é geramente a consciência de alguma coisa, não “a consciência mesma” ou “em si”, mas os objetos da consciência, ou seja, seu conteúdo, os fenômenos. Aquele que não aprendeu a meditar ao olhar para a consciência normalmente apenas olha para seu conteúdo. Essa consciência a que me refiro talvez seja impossível uma pessoa definir para outra claramente, como temos a intenção de ser entendidos (como não se pode explicar um sabor, fazendo com que o outro saiba exatamente apenas por ouvir), mas ela pode ser entendida a partir de comparações e símiles e pela diferenciação daquilo que ela não é. Isso apenas dará uma visão aproximada para que possamos entender. Para saber temos métodos, e também estudos para isso, mas isso ainda não é gnose. Não basta aplicar métodos, é indispenável atingir alguns resulatados a médio e longo praso. Gnose é experimentar essa consciência, conhecer por si mesmo, se dar conta dela no nível empírico, olhar diretamente para ela, conhecê-la e reconhecê-la.

Essa é a parte principal de nosso trabalho, o ponto de partida e também o ponto de chegada. Encontrar e reconhecer essa luz em sua verdadeira natureza dentro de si mesmo é o primeiro ponto, e ela será vista como uma fagulha no meio de tudo ou uma estrela no meio da escuridão. Porém ao final do trabalho, de toda caminhada, o adepto vê essa luz em tudo, que ela de tudo participa, que a tudo forma e a tudo contém, que ela é a única realidade, “tudo é luz”.