segunda-feira, 21 de maio de 2018

RELIGIÃO E MORTE - Parte 3


Não há como escapar da religião, no sentido da palavra religião como já foi falado, e de sua ligação com a morte: todos estão ligados à morte, ao fim dos seus dias tais como são agora, todos estão se aproximando a cada dia da sua religação com alguma coisa. No entendimento mais tanatológico todos estão a caminho e já realizando um religação a alguma coisa primordial, segundo suas próprias tendências e decisões, inevitavelmente.

Os materialistas e ateus geralmente creem como alguns xamãs e religiões primitivas, que voltarão à matéria inanimada, dissolvendo-se em seus elementos compositores. Essa crença se apresenta em inúmeras variações. Uns creem que voltarão à terra, outro aos elementos químicos, outros a elementos primordiais, outros que a energia se dissipará e a matéria desagregada continuará seu ciclo e fará parte até de vários outros corpos vivos como plantas, fungos, vermes, árvores e animais ao mesmo tempo.

Todas essas crenças podem parecer até plausíveis cientificamente, mas eu me pergunto em que se dissolverá a mente e a consciência? Como pode a consciência que é um fenômeno se dissolver em alguma outra coisa? E como pode um fenômeno de outra natureza completamente diferente da matéria ser considerada um produto dela e que com a desagregação da matéria esta consciência finda? Isso não é nada científico, ou alguém me prove que algo tão sem lógica e de um raciocínio tão primitivo tenha algum findamento científico que o comprove ou mostre pelo menos que ele seja açgo mais que uma crença infantil. É preciso que alguém prove que juntando alguns elementos de certa forma eles se tornem vivos e produzam uma mente consciente, se não for assim não passa de fé cega, uma crenças inventada.

No outro extremo temos os espiritualistas e panteístas muitas vezes até admitindo a realidade da mente e indo mais longe ainda dizendo que tudo é consciência ou que tudo é mente e que o fim de tudo é retornarmos à fonte primordial que seria uma força ou energia consciente e impessoal. De onde eles tiram tais inferências seria difícil precisar, mas parece tão fora de qualquer evidência e razão quanto o primeiro caso. Tudo que oferecem são testemunhos subjetivos de suas próprias experiências induzidas já por muitas crenças; além de exercícios que supõem que algum dia os capacitará para provar, novamente por experiência unicamente própria, individual, subjetiva, alguma realidade. Seria preciso a esses cientificistas e pseudo-espiritualistas tivessem algum critério além da própria subjetividade ou contestar com lucidez e frieza suas afirmações e interpretações pré-concebidas, antes de afirmar com tanta convicção suas supostas provas a outros. E para que tais provas fossem realmente provas elas teriam pelo menos que abandonar esses pressupostos absurdos que chamam de força ou energia consciente e impessoal que está fora até do significado normal dessas palavras e admitir que tudo isso é apenas uma crença em oposição ou reação a outras já antes estabelecidas e bem mais consolidadas e sóbrias.

Entre esses extremos (de que tudo é matéria e de que tudo é mente) existem várias gradações e variantes, e não existem só esses dois, existem muitas variantes extremas também (como por exemplo, que mente e matéria sempre existiram se transformando eternamente). O sistema de religação final, depois dessa vida está geralmente expresso em três esferas e ou na combinação delas: física-material; anímica-mental; espiritual-consciencial. Não existe nenhum outro tipo de natureza ou locus de religação que não se enquadre num desses ou combinação desses. Essa é uma constatação própria da verdadeira ciência da religião e da tanatologia que nós estudamos, pertence a nós e à nossa ciência, bem como a investigação dessas realidades ou supostas realidades. Seja o que for a que se retorna e se transforma ou vai para, é de uma dessas três naturezas ou combinações dessas, quaisquer que sejam os planos ou dimensões ou quantos sejam.

O que todos os argumentos sobre para onde vamos finalmente ou se não vamos ou se vamos continuar em eterna transformação e ou dissolução e reaparecimentos, normalmente mostram é um excesso de confiança em algum fator, seja a razão humana, ou a experiência humana, ou os sentidos, etc. sendo usado como critério ou medidor de realidade. Enfim parecem desconsiderar plena em em algum graus a subjetividade humana, a impossibilidade de acesso a alguma realidade em si mesma (que não na mente ou na consciência) e paradoxalmente ainda confiar também em algumas espécie de testemunho compartilhado por poucos ou jamais compartilhado em detrimento de outros testemunhos bem mais evidentes e compartilhados embora não possam também constituir provas.

É como se todas essas filosofias cientificistas fossem apenas uma reação ou negação a essa impossibilidade e limitações humanas por um lado, e um protesto contra a necessidade e inevitabilidade da fé. Creio que é exatamente isso porque todas expressam apenas novamente crenças mais ou menos justificadas ou organizadas sob um ótica supostamente rigorosa ou científica que não passa de discussões acadêmicas que nunca provam coisa alguma nem demonstram teoria ou explicação plausível.

O fato é que quase todas as pessoas sabem que morrerão e não podem fugir da realidade que a morte é a religação com algo primordial, seja a matéria, seja a mente, sejam os ancestrais, outras formas de vida ou retorno a esse mundo, seja o céu ou o inferno ou um outro mundo dos mortos qualquer.
A hipótese do nada (niilismo, aniquilacionismo, "voltar ao nada" que era antes, deixar de existir de qualquer que seja a maneira) não vale a pena nem comentar, a não ser que alguém me mostre pelo menos um punhado de nada, que é outra crendice estúpida, que resulta em outra mais estúpida ainda: a de que algo, que é algo, se transforma em nada.

O retorno ou ida ao algum estado desconhecido até agora é inevitável visto que a morte existe. No momento que um ser pensa para onde vai, ou quando se torna consciente da morte e o questionamento, pelo menos, do que vem depois, ele começou a ter pensamento religiosos, porque da religação, seja ela como for e ao que for ninguém escapa.

Existem até rituais ditos antigos que lançam como uma maldição ou, como pensam ser, uma bênção, dizendo para cada elemento voltar ao que  era antes (os elementos da ciência antiga, água, terra, fogo, ar e espirito; ou coesão, solidez, temperatura, fluidez e consciência ou mente respectivamente). A crença mais comum entre as intuitivas, porém, é justamente essa, de que a matéria volta ao pó, ou seja, os elementos matriais à matéria, e o o espírito ao espírito, ou melhor colocado, a consciência à consciência.

A ligação entre religião e morte é, portanto, indissoluvel e qualquer ciencia tanatológica e ou da religião tem que admitir a ligação entre elas e delas conosco, porque todos morrem e todos se questionam sobre o depois. A religião é novamente uma preparação para o depois e para a eternidade,  e se tivermos o intuito cientifico de investigar esse depois estaremos sendo, estritamente no sentido da palavra, religiosos. A ciência dita da religião é mais, acima de tudo, uma ciência da religiosidade, e não da religião como o nome quer informar. A verdadeira ciência da religião não pode ficar restrita a observar e descrever os supostos meios de religação com algo, seja a divindade, o estado original, o princípio-causa, o pai pessoal ou o que seja, durante a vida humana; isso de forma alguma interessa como ciência pois é o mesmo que a antropologia e outras já fazem, incluindo aqueles que buscam a religião na tentativa de achar respostas e resolver angústias...

Não estou menosprezando essa outras ciências apenas mostrando que elas não investigam o fundamental no caso da religião e o mais importante do ponto de vista humano: como será para nós a infinidade do tempo para o futuro (isto se o tempo também não terminar). Tais "investigações" por outro lado, desde o ponto de vista mais materialista até o mais metafísico, são tão dogmáticas como qualquer forma religiosa, ou ainda mais. E quanto às ciências sejam elas humanas ou sociais não podem de fato investigar isso porque está fora do seu escopo e completamente fora das possibilidades de seus métodos, incluindo nisso a ciência chamada da religião.

Essas do ponto de vista da ciência da religião verdadeira são todas dogmáticas, que partem de crenças (em especial as crenças humanistas e positivistas) até porque creem em seus métodos como superiores e diferentes dos outros e sabemos que isso é totalmente falso, não passando de prepotência e arrogância, pois não existe nenhuma prova que seus métodos sejam nada disso, nem sequer que funcionem para os supostos objetivos que se propõem em relação a outros resultados que seriam encontrados se seguíssemos outros métodos (e entre essas próprias ciências ha métodos rivais que levam a resultados diferentes e todos se arrogando serem melhores e mais científicos). Portanto não há possibilidade dessas ciencias investigarem esse ponto principal da religiao.

Então a investigação da ligação ou religação posterior à morte que se refere à maior parte do tempo por se tratar de eternidade ou infinidade futura, seja ela qual for, é de longe o tema mais importante a ser investigado seja pela religião ou pela ciência da religião ou pela ciência que investiga a realidade ou o tipo de realidade do proposito, dos meios e dos resultados da religião (e se não investigar essa três nem é digna de ser chamada uma investigação sobre a religião). Enfim, o estado no qual se passará a eternidade é o tema fundamental da religião e a investigação disso, dos meios propostos e de sua eficácia deve ser o ponto principal da ciência tanatológica e da ciência da religião.