Por Fra. I. L. I. V.
Nossos
métodos são completamente científicos. Mesmo quando estudamos temas que são
comuns da religião estudamos como cientistas não como artigo de fé nem
doutrinal. Nosso conhecimento é baseado em experimentos, cálculos e estatísticas
como em qualquer ciência acadêmica. Nossos limites e percentuais de certeza,
entretanto, têm que ser mais rígidos e mais rigorosos do que os da ciência
comum embora se pense o contrário.
Isto
ocorre porque muitos dos experimentos não podem ser testemunhados por outra
pessoa que não o experimentar. Por esse motivo quando damos um procedimento não
descrevemos o resultado, nem pedimos que observe isso ou aquilo, nem
perguntamos se houve tal ou qual acontecimento. Tudo deve vir das observações
do experimentador. O professor é quem deverá observar se o resultado foi
alcançado ou não pelo relatório do experimentador e então contar em suas
estatísticas e também aprender com elas, que sendo as experiências de outros
podem ser diferentes ou conter elementos diferentes do que foi a sua própria.
No entanto, a objetividade dos resultados deve ser sempre mais centrada, como
na física, no que interessa como resultado e não nos efeitos colaterais que são
diversos, isto está sempre no domínio do conhecimento do instrutor.
Assim
nossa metodologia, ao contrário do que se pensa, bem mais em contato com o
método das ciências exatas e biológicas do que com as ciências humanas e
completamente distante do método das ciências sociais (sem com isso
desconsiderar estas), tem base na observação mais acurada dos fenômenos e
análise estatística do que foi cuidadosamente observado e anotado . Até quando
especulamos hipóteses elas devem se basear em dados observáveis,
matematicamente calculáveis, estatisticamente prováveis. Nada metafísico com
exceção de uma única coisa que preferimos não citar (que se pode dizer
metafísica apenas por não poder ser descrita senão por metáforas e ser
incalculável, imprevisível, inimaginável, podemos apenas vivenciá-la, gradual
ou, dizem alguns, subitamente), mas a qual só é metafisica até o momento em que
o experimentador a comprova por si mesmo, para si mesmo, desde então,
obviamente, se torna também empírica.
Podemos
ao estudar textos antigos, por exemplo, nos apropriarmos de métodos da antropologia
ou arqueologia, mas esse será apenas nosso estudo antropológico ou arqueológico
do estudo. Podemos especular a influência do ambiente, do momento histórico, da
linguística e outros fatores na psique do escritor, mas isso definitivamente
não é o que nos interessa como fim último, nem qualquer análise psicológica ou
biográfica do autor pode interferir em nossas reais motivações e conclusões de
tal estudo. Quando estudamos tais textos é por saber ou pelo menos suspeitar
por alguma evidente quantidade de elementos identificáveis que aquele texto
trata de um procedimento para chegar a certos resultados que coadunam com
nossos objetivos ou que pelo menos os corrobora. E não acreditamos naqueles
procedimentos, mas ou sabemos que ali contém um procedimento por termos sido
informados por um estudioso sob o qual o estudante está em orientação ou
estamos estudando exatamente isso, se há ou não.
A diferença é que em ambos os
casos ele terá que ser comprovado através da repetida experimentação, e por
todos os estudantes que assim o quiserem. Os resultados constituem a prova ou
refutação, não só individualmente para o estudante, mas para o quadro estatístico
do professor também, que poderá mais que os próprios indivíduos saber da
eficácia e autenticidade do procedimento. Esse exemplo foi apenas para afastar
qualquer dúvida ou suspeita de que possamos ser doutrinados por textos antigos
ou supersticiosos. Quanto aos que tratam especificamente de nossos
procedimentos já consagrados por nós, eles constituem nosso caminho e nossa
indicação, não por outro motivo além de já ter sido comprovadamente eficaz
quanto aos nossos objetivos.
Dentro das várias tradições,
ou das quatro vias no nosso caso, nós já sabemos de antemão por já termos
estudado e praticado e passado experiências necessárias para entender os
significados de certos textos e quais são esses textos (e ou as partes deles
que contêm o que queremos), mas temos plena liberdade de estudar e experimentar
outras tradições. De forma alguma somos forçados a escolher qualquer linha
doutrinária. E todo aquele que descobrir que o que oferecemos não combina com o
objetivo de sua vontade está livre para partir, não oferecemos verdades
universais fora das quais alguém esteja em maldição, e sim alguns caminhos para
alguns objetivos e para o objetivo supremo consagrado por muitas tradições, mas
que de forma alguma impomos como objetivo supremo para todos os seres humanos.
Confiamos no nosso caminho por
ter sido comprovadamente eficaz por milhares de anos para milhares de pessoas,
e também por nós, quando iniciantes, já termos colocado nosso caminho à prova e
sempre o estarmos comprovando cada vez mais. Temos confiança, como na ciência,
em nossos procedimentos, nossos professores e nossos descobridores, não fé, não
crença, pois nosso caminho se baseia na comprovação individual, onde cada um
sabe por si mesmo de suas experiências e não por ter ouvido testemunhos de
outros nem por ter lido em livros como nas religiões e algumas escolas ou
academias. Por isso guardamos silêncio sobre os principais resultados até que o
novato o tenha encontrado, visto e descrito por si mesmo depois de seguir os
procedimentos indicados, não por nos ter ouvido dizer.
É o estudante que tem que nos
provar que aprendeu e fez os experimentos corretamente, como na ciência, não
nós que temos que convencer ou provar ao estudante com testemunhos e textos,
como na religião. Desde o início quando convidamos alguém não estamos tentando
convencer nem levar a crer em nossas teses, mas estamos avaliando o convidado.
Este que só foi encontrado por indicação, por ter-se oferecido a conhecer nosso
sistema ou por termos percebido algum potencial, preparo ou predisposição.
Nossa formação não se
assemelha com uma formação acadêmica, mas a acadêmica que deriva da nossa, isto
sabe qualquer estudante que se aprofundar de verdade na história da ciência e
chamada historia oculta, pois por trás das ideias sobre as quais a ciência
evoluiu até hoje estão as mentes de filósofos, ocultistas, alquimistas e
membros de diversas ordens (a lista de nomes seria muito comprida para citar
aqui, mas será visto em outro ensaio uma lista com alguns dos principais, mas
podemos citar ao menos dois grandes pilares, Nilton e Bacon) e de um
planejamento saído das ordens no ocidente e de escolas do oriente. Entre essas
ideias podemos destacar a de universidade, estudos como temos hoje, que surgiu
na índia e semelhantemente na china, há mais de dois mil anos, tendo existido
ao longo da historia várias universidades. Outra que podemos citar é a de
cadeias de disciplinas como existem hoje nas universidades que no ocidente
surgiu entre os templários.
Mas não somos de forma alguma
conservadores nossa ciência evolui e as informações e descobertas, os métodos e
interpretação dos resultados também crescem e evoluem ao longo do tempo. O que
acontece é que em nossa ciência há um objeto de estudo supremo, e um objetivo
supremo já consagrado e comprovado como tal por levar justamente a uma forma de
conhecer que é muito superior e mais garantida do que as formas comuns. Porém
como este é difícil e só alcançado depois de longo trabalho é cercado de outros
métodos e objetivos mais próximos de nossas possibilidades atuais e mesmo
métodos que visam um avanço mais rápido quando ao objetivo principal, como
aqueles que se assemelham ou se aproximam em seus resultados às comprovações
que só seriam possíveis àquele que alcança o objetivo último.
Nisso muito nos assemelhamos
ao alquimista antigo. Mas é preciso a ressalva que a alquimia antiga evoluiu
muito tanto dentro como fora das ordens e hoje em quase nada se assemelha com o
que foi divulgado ou com o que se pensa que ela seja. Claro que fora das ordens
ela tem como dessedentes a física e a química, mas também boa parte da
biologia, da psicologia e obviamente da medicina e neurociência. Mas dentro das
ordens não desconsideramos isto, porem existem outros desenvolvimentos. Nada do
que foi divulgado como os precursores da química em busca de ouro nem dos
“sopradores” têm de fato a ver com alquimia. O que pode haver é uma confusão
onde os físicos e químicos são considerado como sucesso e os outros como
fracasso. Mas na realidade todos são desvios e descobertas por acaso, que estão
longe dos reais objetivos de tais pesquisas e não somos nós que vamos revelar
num ensaio despretensioso quais são esses reais objetivos e desenvolvimentos.
Por tudo isso muitas vezes se
nos atribuem o rótulo de alquimistas contemporâneos, o que não negamos, apenas
temos que avisar que não apenas há diferença entre a alquimia contemporânea e a
antiga mas também entre o que é alquimia de fato e o que pensa-se ser a
alquimia. Mesmo entre alquimistas não há consenso quanto a isso, existindo duas
ou três linhas principais de investigação e desenvolvimento. Enfim a alquimia
embora seja uma ciência consagrada sempre, seria para nós mais uma subseção
como a zoologia, a ecologia e a etologia são da biologia.
Usando esse exemplo da
alquimia podemos estender o aviso de uma forma genérica para quase todos os
ramos de pesquisas que realizamos e o que se tem pensado dela fora da ordem ou
das fraternidades: esta “semelhança” da ciência não é uma inovação de nossa
ordem, é a evolução necessária à qual naturalmente chegamos e outras ordens
devem também chegar por ela sempre já fazer parte de nosso método interno, não
por trazermos de fora (nessa ordem o método passado oralmente por não haver
necessidade de se escrever já que muitos estudiosos já fizeram isso, será em
oportuno momento sumarizado e publicado mostrando as nuances que podem para
alguns fazer alguma diferença).
Porém, fora da ordem ou de
nossas fraternidades não se pode ter muito mais que uma pálida ideia do que se
trata e dos processos e fenômenos que estudamos, pois diferente da ciência comum
nem tudo é demonstrável a outro, mas apenas de cada um, através de procedimentos
e longos treinamentos, para si mesmos. Nem todos estão dispostos a tais
disciplinas. Por isso mesmo esse conhecimento é compartilhado quase que apenas
entre nós (ou entre nós e outras ordens e fraternidades similares) que sabemos
do que estamos falando, isso não por uma má vontade ou segredo, mas pela quase
impossibilidade de comunicação com o que chamamos conhecimento comum. Àquele
que não passa pelas mesmas experiências pode tudo parecer fantástico, místico
ou mesmo loucura; o entendimento, embora seja duro de admitir para alguns, está
bem mais ligado à experiência do que à razão. E assim como nem todos se
tornarão cientistas, nem todos se tornarão budistas, nem todos serão hindus,
nem todos serão cristãos. Bem assim nem todos estudarão em nossas ordens, mas
aqueles cuja vontade, consciência ou afeição se afinam conosco. Estes sempre
serão muito bem vindos.