sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

As cinco vias efetivas - parte 3

A centralidade do caminho

Só a via central é hoje via e caminho. Esse é mais um grande "segredo" da ordem, agora "revelado" (claro que isso nunca foi escondido). Pelas pelas conclusões enumeradas anteriormente fica claro na prática que, devido à condição de número três, só pela via central, pela porta estreita e pelo estreito caminho, é possível retornar à ordem original. As várias questões sobre porque isso acontece podem até serem deixadas de lado se formos realistas e considerarmos que uma dessas razões já é suficiente para explicar: o fato de que o ser humano não dispõe do poder de lancar-se a si mesmo na dimensão eterna a partir da dimensão do mundo perecível, nem tem poder de restaurar sua própria natureza ao estado original, nem sequer o poder de penetrar e menos ainda de permanecer em qualquer estado ou local ou situação eterna e incorruptível. Por isso ele depende de um poder maior, o único que pode alterar e reesbelecer sua natureza, o Ser Supremo.

Mas para que isto aconteça é preciso que algumas condições sejam preenchidas, primeiramente é preciso que a pessoa queira e depois que tome a postura adequada e o caminho correto. Primeiro não é preciso nenhuma outra condição a piori, como colocam as ordens mundanas, mas é preciso ter vontade, escolha, querer, pois seu espírito já está pronto por um ato de decisão certo, preciso (e a escolha é oferecida evidentemente), sua consciência já foi redespertada, neste momento, do estado de mortificação, identificação e afastamento em que se encontrava. E, tendo feito essa escolha, ela, aí sim, deve preencher certas condições a posteriori, não para ser readimitida depois à ordem original, mas para que desde já sua mente também seja restaurada e é este o processo, que é longo e exige entrega, dedicação.

Essa escolha para alguns não é facil, por isso ela não é colocada nessa manifestação como condição preliminar, ela pode ser feita a qualquer momento, mas tudo que é necessário em conhecimento para que a pessoa possa tomar essa decisão conscientemente é apresentado até o segundo nível, no grau 7, daí em diante é só ampliação e aplicação.

Entendido isso, de acordo com o que foi dito acima e de acordo com todas as provas e conclusões feitas (ou seja, "de baixo para cima" e que apresentamos em detalhe ao longo de nossos estudos), e todas as revelações autênticas e registradas (ou seja, "de cima para baixo", recebidas), podemos agora falar quais são as cinco vias claramente. Não mais estaremos falando segundo nossas percepções de iniciantes nem como os outros as vêem os de fora, mas como se o leitor, tal como nós, já tivesse visto e examinado tais provas que investigamos e fornecemos ao longo de nossos estudos, pois assim o faz toda ciência, todo livro científico e todo cientista.

As vias são na verdade modos de conhecer e modos de conconhecimento ao mesmo tempo, ou seja, são modos de se buscar a verdade e conhecimentos verdadeiros. Nossa fraternidade surge do espírito inquisitorial, investigativo, consciencial, e este também pergunta: por que não usarmos todas? E se usássemos todas? Não seria bom unir todas essas potências? A resposta é sim e não. Sim, para investigar a verdade, e não para conhecer a verdade, pois para isso precisamos tão somente da via central, que conduz pela verdade viva e pessoal.

A via central contém o conhecimento verdadeiro por si mesma. São conhecimentos consagrados, já comprovados ao longo da história e da tradição. As outras vias contêm alguns conhecimentos comprovados, alguns aspectos das traduções passíveis de investigação e outros que nem sequer existem ainda formas de serem investigados completamente. Isto é normal em qualquer ciência.

Sim, a fraternidade precisa meios seguros para investigar e obter conhecimentos seguros, é óbvio, e se existem mais outros meios seguros, eficazes, até necessários, vamos usá-los, desde que sejam também honestos e lícitos. Mas não, a ordem não precisa de meios, pois ela não precisa investigar, ela é de onde vêm o próprio conhecimento, o ato de conhecer e o conhecedor, a Ordem é a fonte. A ordem possui a verdade a ser investigada e comprovada pela fraternidade. A Ordem é a ordem de Deus, é o estado original, onde se encontra a verdade em pessoa; a fraternidade é compostas de seres e princípios que buscam e visam, respectivamente, o conhecimento da verdade.

Assim toda a realidade gravita de fato em torno do eixo. Este eixo é o das verdades fixas e imutáveis, atemporais, com todas as suas consequências inseparáveis, num curso que vai do início ao fim, sem variação, certeiro. As demais vias (que muitos subdividem em mais tipos ainda) contêm o que se poderia designar como provisórias, temporais, que vão se modificando (como são as ciências, filosofias, artes, religiões, etc.) que por razões diversas, em algum momento, se engessaram em formatos limitantes e ou limitados, mas que desempenham ainda hoje funções úteis para muitos em relação à verdade. Portanto a centralidade das vias não tem a ver com religiões, tradições, filosofias, escolas, ordens, etc., como a enorme maioria das pessoas pensam, mas tem a ver sim com a centralidade da verdade. A verdade é a ordem original inabalável e eterna e a fraternidade, ou ordem terrena, ou escolas, ou ciências antigas, buscam a verdade não explicações, teorias, religiões, doutrinas, filosofias... O importante aqui é a verdade e tudo gira em torno da verdade.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

As cinco vias efetivas - parte 2


Quais são as verdadeiras vias?

Só chamamamos de vias as ascendendentes, só podemos chamar de via as que levem, mais cedo ou mais tarde, à libertação e ao conhecimento da verdade.  Rotas descendentes e circulares são perda, derrota, perdição.

Existem apenas cinco vias efetivas. Já vimos porque não são sete e aqui veremos agora porque são cinco e não três, nem duas ou uma.

As quatro vias são hoje percursos para a central hoje, não vias independentes ou desconexas como a maioria pensa. As vias, em sua mais elevada, mais elaborada, mais profunda, mais complexa e completa etapa, todas convergem à via central. Todas elas apontam ao seu fim para (1) a existência do ser supremo, Onisciente, onipresente, eterno, que não apenas planejou como um inteligente designer, mas também fez e dirige a sua criação; (2) para a sobrevivência de uma essência eterna dos seres; e (3)  para a impossibilidade humana, por natureza, de penetrar naquela natureza eterna original sem a intervenção do ser supremo onipotente. Pronto, isto é ponto definido, concluído pelas partes mais superiores, profundas, elaboradas, complexas e completas da ciência, da filosofia, da empiria, da religião e da ética.

As outras (dualista, animista, descendente e circular) incluem todos os erros, fracassos, perversões, movimento circular, etc.. Ou seja, o que hoje é obsoleto não pode mais ser chamado via. Nem o que é obseleto como caminho hoje pode ser mais considerado caminho. Este pode no máximo ser chamado via, se é que leva ao caminho. Mas ainda, o que nunca foi caminho, nem via, e continua não sendo, não pode ser agora considerado caminho, nem sequer via, claro. Não tem como, não há razão para isso, não tem lógica, tampouco por capricho, não pode. Não se pode dizer que leva à verdade o que de fato não leva só para agradar a maioria ou para não ferir o brio de uma minoria, seria mentir.

Há ainda uma quarta conclusão a qual todos os caminhos levarão. Esta quarta é também universal e de máxima importância no caminho da libertação da consciência condicionada. Pois assim como (1) há uma consciência onisciente fonte e criadora de tudo; (2) há outra dimensão de existência da consciência mesmo após a morte do corpo; mas (3) é impossível controlar em nós a ação dessas duas naturezas de modo a libertar-se a si mesmo da natureza e mentalidade limitante, fluida e em processo de degradação e esquecimento; e (4) há uma esperança real, uma saída desse tipo de realidade, para uma realidade plena e eterna, existe um meio, pois existe uma ordem que permanece e permeia toda essa outra natureza, existem padrões, leis, desígnios, propósitos nessa existência, e há uma forma certa de conhecê-los e atingi-los. Por isso está aqui em destaque.

Portanto, o quarto em síntese é: existe uma ordem. Se não houvesse essa ordem original que se sobrepõe a tudo não haveria qualquer esperança para aqueles que estão mergulhados na matéria corrompida, degradável e que termina por degradar-se até a dissolução total. Mas a quarta conclusão a que todas as vias chegarão é que há ordem, existem padrões, existem leis, razão, lógica, matemática... Que independem completamente da existência fenomênica e objetiva. Por esse meio todas as vias também concluirão que existem meios seguros de conhecimento (tanto físicos quanto, mais ainda, metafísicos) e portanto existem conhecimentos seguros. O conhecimento dessas leis eternas imutáveis é o conhecimento mais seguro de todos. A existência inexorável de tais padrões garante esse conhecimento. Portanto conhecer essas leis e padrões é o conhecimento mais importante que se pode ter, e deve-se usar todos os meios lícitos disponíveis de obtê-lo, ainda mais quando sabemos que conheceremos também a liberdade, e não apenas de conhecer, mas também de viver a realidade eterna.

Perceba que a matéria em si e tudo que existe é indestrutível, é eterno, mas essa dimensão, caída da ordem original, "arranjou" um meio de finitude e morte, de destruição total: pela transformação degradante, pela dissolução, degradação, dissociação, separação de tudo que existe. Assim tudo chega ao fim em todos os níveis. A matéria se dissolve nos elementos que a compõem e um dia cessará pela dissolução das próprias partículas subatômicas que a compõe; a mente se dissolve pelo esquecimento da experiência e isolamento total de suas partes (sem meios de relação, se tornando restos psicofísicos separados e sem consciência), e a centelha de espírito, "dentro" de cada ser, por separação desses elementos retorna à sua própria natureza sem ser contaminda por sua corrupção e sem qualquer resquício do que seja o que chamamos nós mesmos, ou, do eu.

Mas a realidade da matéria mesma (e energia e forcas consequentemente) é ser eterna, e sua existência é garantida por leis eternas que não dependem da matéria (leis, relações lógicas e numéricas, etc.). A natureza real é eternidade, o real não é algo temporário, fluxo, esqecível, é eterno, sabemos que o que foi não pode deixar de ter sido em momento algum. Os arrajos (como as relações entre partículas, forças e leis, etc.) são temporários, mas tudo que os rege é eterno, além do tempo, das formas, das multiplas manifestações. Então o que deveríamos estranhar é que as coisas parecam desaparecer e serem esquecidas, isso é que deveria ser ilógico para nós, pois de fato não tem lógica. Só que nossa mente também foi condicionada por nossa experiência e está como que atada a esta forma transitória de realidade, ela tambem aqui é parte dessa existência condicionada, funciona pelas mesmas normas.

Quão terrível então seria chegar a essas constatações se a nossa realidade (mental e espiritual, ou consciencial) fosse só isso, restrita ao quadro do que observamos e com as mesmas características, ou seja, pertencente plena e substancialmente a essa natureza! Mas o que a união das cinco vias como meio de investigação nos mostra é justamente que existe em tudo algo eterno, e além disso sentido e propósito. E nós temos que ligar nossa mente, não no mutável e transitório, mas na realidade eterna, para que ela seja restaurada a sua pureza e potência original, em sua completude eterna, não fuxa e temporária. O uso efetivo das cinco vias é justamente o meio mais completo para tomar consciência disso, conhecer e vivenciar a realidade eterna e tomar consciência de nossa verdadeira realidade, até o dia que estivermos prontos para partir definitivamente para habitarmos nela. E existe um caminho central, uma via que nos garante alcançar essa plenitude...

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

As cinco vias eficazes - parte 1

Quais são os cinco "caminhos" classificados como vias pela ordem? E por que fala de cinco categorias ou caminhos, não de sete, ou de nove?

Nós não chamamos de caminhos, primeiramente, nós chamamos de vias, pois caminho só há um, embora se possa ir por vias diferentes até certo ponto, ou ainda, podem haver algumas vias que levam ao caminho. E por isso não falamos de sete nem de nove.

Para contarmos sete teríamos que considerar as outras duas rotas como vias, o que não são.

A rota circular (e todas todas as suas variantes) não leva a lugar algum, apenas a ciclos eternos de repetições enfadonhas e esquecimento, sofrimento e morte. É o que seria bem descrito alegoricamente como "inferno em vida".

A rota retrógrada (e todas as suas variações) vai na direção oposta, para baixo, degeneração, caminho mortal, destruição. Alegoricamente é a "estrada para o inferno", é a auto-destruição no pior sentido, aquela dos sofrimentos inimagináveis e "aniquilação" depois de um prazer mundano, comum e fugaz.

Ou então, no lugar disso, para termos sete vias, teríamos que considerar outras duas provisórias, obsoletas, ineficazes, o animismo e o dualismo. Estes claramente não são formas de conhecer nem conhecimentos reais, mas já interpretações de uma suposta realidade admitida.

E para ter nove vias teríamos que considerar essas quatro, circular, retrógrada, animista e dualista como se fossem vias válidas. Até os dois caminhos da perdição (retrógrado e circular) seriam considerados também vias válidas! O circular, chamado por uns arrogantes de evolução, e o descendente, chamado por outros maliciosos de libertação, caminho da luz, etc., incrivelmente ainda são vistos por muitos como  caminhos válidos. E ainda se arrogam possuir "O" caminho superior. Mas a função destes aqui agora é justamente desviar as pessoas do conhecimento da verdade, com desde ilusões confortáveis e agradáveis, até sofrimentos e lutas supostamente meritórios e redentores, mas que resultam em fracasso e perda de tempo irreparável se levadas a cabo.

O animismo e o dualismo são duas rotas primitivas que foram apenas temporais, preparatórias, úteis num período ou apenas em alguns lugares, diante de determinada situação na qual o ser humano não tinha a mínima capacidade de aceitar estar vivendo uma falsa idéia de um eu. Ele se agarraria institintivamente ao falso eu, lançando-se ao destino desse junto com ele, a mutação e dissolução. Então no início de sua caminhada essas idéias ainda não eram retiradas, mas aproveitadas até certo ponto onde a iniciação real os separaria da ilusão. Mas como ainda acontece hoje muitos desistem no início e saem propagando o que vivenciaram nesse início como se fossem realidades e verdades secretas, e outros, na ignorância, os seguem.

Lançar um eu nas coisas e fenômenos (como ocorre no animismo) e personalizá-los foi a primeira forma de ver a perecibilidade do falso eu e vislumbrar a existência arquetípica para além do mundo perecível. Foi o que levou a considerar as forças e leis permanentes que atuavam por trás e além do mundo empírico. Era a forma de separar-se do eu idealizado, mutável e perecível em realudade, e tentar unir-se ao eterno, que intuia e vislumbrava nas forças e leis por trás das coisas e fenômenos, enfim por trás da existência.

Mas observe que aqui o alvo é cego, não se tem qualquer clareza do que é o transcendente e menos ainda do modo como alcançá-lo. Temos nesse modo apenas uma medicina paliativa,  que impede o avanço da doença, ou seja, impede de lançar-se num abismo, junto ao falso eu e à matéria agarrado-os com todas as forças. Mas que não leva à cura, não mostra nem leva a uma visão real do trancendente, apenas, no máximo, a experiências do tipo mentais. Não chega portanto a ser uma forma de espiritualidade, mas já foi um avanço, para aqueles sem percepção, na forma de conhecer, perceber as leis, supor arquétipos, entender que existem forças imaterial e imutáveis, etc..

Vários problemas porém surgem junto, sendo o pior deles a atribuição mítica de personas, de superioridade, de consciência, de deidade, etc. a objetos, forças e fenômenos que de fato não possuem nada disso. Aqui surgem também toda espécie de culto dissociativo como o culto a entidades, personalidades, como os supostos espíritos ou mortos, os ídolos, os extraterrestres, as estátuas, os totens, os anjos, os demônios, as forças, os inquices, os orixás, os devas, os deuses, os bodhisatvas, os gurus, os budas, os santos, as dakines, etc.. Seja o que for, realmente existente ou ilusão pode ser assim cultuado, idolatrado, etc.. O que chega até a transliteração errônea de todos os símbolos, arquétipos e personalizações como seres em si, dotados de alguma consciência e ou mentalide e personalidade. E ocorre assim o surgimento do panteísmo,  politeísmo, deísmo, etc., junto com toda classe de engano e superstição associada a tudo isso.

Assim, esta pode ter sido a forma primitiva de "espiritualidade" ou conscientização, despertar da consciência para algo além dos fenômenos e da matéria, pelo método de separação ou abandono do eu (no caso o falso centro permanente, a falsa persona, o falso eu, o agregado impermanente perceptível, corpo material e mente reflexo). Os métodos mais primitivos de separar-se do "eu" até o mais sofisticados, têm origem nisso.

Na outra forma radical de conhecimento primitivo teremos também o outro método, o de transformação e sublimação do eu. Através de uma percepção rudimentar de dualidade, percepção de que tudo que se pode observar parece dual, de que tudo parece conter essas duas naturezas observadas anteriormente e logo então generalizar. O ser humano passa a querer cultivar uma face, a que supõe eterna, e abandonar a outra, a perecível. É o dualismo, fase em que surge o método da cultura do eu.

A partir da percepção real das polaridades surge também a projeção de bem e mal classificados com base correta em alguns casos, mas indevidamente generalizada para tudo no universo. É nessa generalização apressada e fora de um critério de realidade que a valoração moral também começa a ser lançada sobres as coisas e fenômenos.

Isto foi novamente necessário para que o ser humano deslocasse de si mesmo a valoração ética-moral e vislumbrasse um significado e propósito nos fenômenos que transcendem sua consciência limitada, pois que deduz que antes de seu aparecimento já havia o cosmo, portanto também, suas leis, princípios, forças e arquétipos, assim provavelmente também arquétipos morais. É o primeiro vislumbre fora do solipsismo moral, antropocêntrico (e é incrível que a maioria hoje tem retornado a ele de forma alternativa: crendo que a valoração moral só existe dentro de nós, que nós a criamos e pior, que seria ela "criada pela sociedade").

Este passo, esta percepção objetiva de bem e mal é tão importante na história da humanidade (embora confundido historicamente com o animismo e com a projeção de valores) que junto com o anterior vai fazer parte da base de quase todos os sistemas filosóficos e religiosos seguintes. É claro que aqui figura bem mais positivamente a percepção de mal do que do bem, pois muito dela se firma em sensações, razões, intuições não abstratas, mas objetivas.

Porém muitas pessoas hoje mesmo sequer atingiram esse amadurecimento e apenas possuem uma noção abstrata dessa percepção de mal. Muitos ainda hoje não conseguem compreender isso sequer pela pura lógica simples (pois se há um princípio e um propósito, tudo que fuja a esses dois está naturalamente valorado negativamente, e tudo que corrobora com estes está valorado positivamente). Esta percepção, faltante em grande número de pessoas, pode ser desmotivada desde a infância passando por todo o processo de educação, que ultimamente tem conduzido gerações a uma relativização de todos os valores,  mais que exacerbada (por isso até em comparação moral o ser humano está em processo degenerativo de inteligência e percepção).

Este, portanto, não é o problema desse proto-sistema de conhecimento (lembrando que tratamos aqui, não de qualquer conhecimento, mas do conhecimento da verdade, em si, transcendente, há que se chegar à verdade, não apenas apontar para ela, isso as fiolosofias e até a mera especulação racional do senso comum também poderia fazer). O problema surgiu na generalização e atribuição mítica, além do observado e do evidente, de uma valoração moral arbitrária negativa ou positiva para toda e cada ação, coisa, fenômeno, etc..

Isto foi um processo gradativo, que apenas ao chegar a religiões e escolas não pode ser mais ignorado e contaminou em maior ou menor grau todos os sistemas. Gerou padrões determinados por sábios, "mestres", filósofos, "deuses", etc., e consequentemente afastou toda a possibilidade de investigação da verdade, tudo já estava determinado, e finalmente o padrão foi universalizado, o que arruinou completamente o sistema. 

Aqui existem obviamente deduções imprecisas e atribuições de valor erradas, além das intencionalmente colocadas, maldosa e arbitrariamente, para atingir algum fim oculto, egocêntrico ou justificar algum mal já feito. Também a pseudo-moral que implica trocas, envolvendo esses valores, ou oferendas, ou supostos atos de justiça coletivos, etc. em uma suposta economia da natureza ou dos deuses ou da humanidade. É certamente um dos resultados desastrosos os dessa visão.

O problema aqui é óbvio, novamente o alvo é cego, ou seja, não vê o transcendente, não há conhecimento (a não ser pequeníssimo e parcial) do "verdadeiro eu", nem do transcendente, enfim, na prática está apenas cultivando um lado da personalidade, agora classificado como bom, e buscando eliminar um outro lado, da mesma forma arbitrariamente classificado como mal. Há alguns acertos nessa classificação, mas também muitos erros. Só que existem de fato valores bons e maus na personalidade ou no eu, tanto da parte inata como da construída, mas isso não é a questão aqui, embora exista relação com a capacidade de visão e compreensão, o que termina levando a uma falsa observação ou conclusão de que apenas seguindo certos presceitos ou padrões se está realizando uma auto-transformação e ou uma auto-iluminação.

Perceba também que arbitrariamente, sem nenhuma prova o lado tido como bom foi considerado eterno, só porque o perecível foi visto como mal. Não tem nenhuma lógica essa dedução. Ainda está para perceber que o lado tido como bom também é mutável e perecível.

Na verdade até o avanço moral aqui foi depois ainda suplantado pela visão que surgiu posteriormente, que é terrivelmente danosa e equivocada, de que bem e mau são opostos eternos, naturezas eternas, e que seus "caminhos" são ambos válidos conduzindo ambos a fins eternos, ambos de forma justa e equilibrada. Ou seja, é a extrapolação da valoração arbirtrária onde nem o transcendente escapa da polarização (aliás, por que ainda consideram transcendente?), é a idéia de que, como existe a dualidade nesta natureza, existe em tudo, inclusive dois deuses eternos (ou um deus bom e mau ao mesmo tempo, obrigado por sua própria natureza a fazer tanto o bem quanto o mal), deuses que embora antagônicos, trabalham em colaboração e harmonia para atingirem seus supostos fins eternos.

Isto é apenas um exemplo de uma das consequências dessa via. O bem e o mal são vistos como universais e necessários. O dualismo certamente conduz a erros um tanto mais graves na prática do que os erros filosóficos. Vão desde erros práticos até institucionais, e estes últimos vão desde o maniqueísmo até o satanismo explícito, podemos considerar como fixações institucionalizadas neste tipo de visão dualista.

Estas duas vias que são chamadas por uns de xamanismo e zoroastrismo (ou maniqueísmo, colocando o zoroastrismo como uma forma sofisticada de xamanismo ao lado do judaísmo e superior ao totemismo em geral, que pode ser uma classificação muito imprecisa), nós as chamamos de animismo e dualismo porque são muito mais abrangentes que essas duas instituições, tendo várias escolas e religiões como variantes da mesma fórmula básica, muitas também em combinação com o animismo, que passou a não apenas personalizar as forças e elementos da natureza como atribuir dois lados a cada um deles.

Elas não são ineficazes por serem primitivas, pelo contrário, suas versões mais aprimoradas e mais modernas são as mais nocivas (neo-paganismo explícito ou disfarçado, neo-zoroastrismo, neo-gnosticismo, maniqueísmo moderno, xamanismo contemporâneo, luciferianismo, satanismo, santerias diversas, só para citar poucos exemplos), por tantos motivos que não caberia aqui. Mas, em síntese, todos conduzem pela via oposta ao caminho da verdade, liberdade e cura (retorno ao estado e local originais). E ainda, dos padrões rígidos e arbitrários, mas dos sábios, passou modernamente ao relativismo moral de qualquer um segundo o que melhor lhe pareça ou segundo alguma autoridade acadêmica. Ou seja, já passou de degeneração para a completa dissolução, realmente deixou de existir, são outras coisas quaisquer, apenas apresentadas falsamente sob títulos de tradições. Essas vias foram temporárias, cumpriram sua função no passado, são do passado, uma preparação da humanidade "pré-civilizada" para as posteriores, que podiam ter sido abandonadas com o fim dos grupos nômade, mas foram apenas transformadas.