quarta-feira, 29 de julho de 2020

Tradução comentada do livro Poimandres de Hermes como encontrado em Nag Hammadi - parágrafo1

Por Frater I.L.I.V.

Tradução do livro Poimandres encontrado em Nag Hammadi, da tradução para inglês de Willis Barnstone e Marvin Meyer. Meus comentários estão sempre separados em outro parágrafo e entre sestenidos (#).

O aparecimento de Poimandres

Uma vez, quando comecei a pensar sobre as coisas que são, e meus pensamentos subiu extremamente alto, e meus sentidos corporais foram retidos pelo sono como pessoas pesadas por comer demais e cansaço, pensei ter visto um sendo de magnitude vasta e ilimitada vindo em minha direção, que chamou pelo nome e disse: “O que você deseja ouvir e ver, aprender e conhecer? " "Quem é Você?" Eu disse. "Sou Poimandres", disse ele, "a mente do poder absoluto. Eu sei o que você quer e eu estou com você em todos os lugares." “Quero aprender sobre as coisas que são, sua natureza e conhecer Deus - eu respondi. "Como eu quero ouvir!" Ele disse: "Lembre-se do que você deseja aprender e eu vou ensiná-lo".

# Nesse primeiro trecho é muito importante notar o processo pelo qual Hermes recebe seu conhecimento, por revelação, recepção, aparição. Muitos passam por cima desse detalhe e impõem uma diciplina de exercícios, "meditação", esforços, confundindo esse caminho hermético com os caminhos orientais. A tradição mãe das tradições ocidentais não se confunde nesse ponto com as orientais neste sentido, a não ser ao desatento. Ademais em nenhum livro de Hermes se encontra instrução nesse sentido. Mas também não podemos dizer que Hermes age como um místico passivo, que simplesmente espera a revelação, isto também vemos aqui. Há algo a fazer. E este livro, um dos principais de toda a obra hermética, vai nos revelar os três processos que dependem de nós, o que devemos fazer para obter a sabedoria hermética. Aqui já está o primeiro ponto. Note bem o que Hermes estava fazendo e qual conhecimento ele anelava atingir. Ele pensava nas coisas que são, nas realidades, e anelava saber das coisas que são, da sua natureza, e conhecer Deus. Isto já é elevar o pensamento, se concentrar nas coisas celestiais, pensar nas coisas mais elevadas, dar importância às coisas eternas e dedicar tempo de reflexão a eles, isso também deve vir junto com o querer conhecer a realidade e a natureza do ser e querer conhecer Deus. E seu pensamento ainda se elevou mais, ainda nessa meditação, estando dentro desse pensamento ele foi mais além e ainda atingiu um ponto mais alto, isto é, além das informações trazidas ou deduzidas a partir dos sentidos corporais. Ele entrou então na esfera do conhecimento metafísico, além da matéria-energia e dos sentidos. Então a mente de Deus se revelou, apareceu a ele. Temos assim um ato que necessita de dois agentes: temos o pensamento de Hermes que se eleva e entra em sintonia com as coisas eternas e Deus, e temos Poimandres, a mente de Deus que desce até ele e se revela. Não é possível forçar a Deus, não existe ação humana que o faça se revelar, nem que o torne conhecido para si, Deus mesmo é que se torna conhecido para quem ele queira se revelar e pelos meios que ele próprio já determinou desde a eternidade, mas se alguém quer conhecer a natureza real das coisas, dos seres, do ser e do existir e de Deus, precisa elevar seu pensamento às coisas celestiais, metafísicas, eternas, e a Deus. Perceba também o que Poimandres recomenda nesse momento logo após o contato, "Lembre-se do que você deseja aprender e eu vou ensiná-lo". "Lembre-se". Em outra versão diz "mantenha em sua mente o que você deseja aprender", ou seja, concentre-se, mantenha a atenção, o foco, nessas questões. Sim, porque mesmo tendo alcançado esse nível, essa consecução pode ser perdida ou desviada, há algo a fazer também no sentido de manter esse atingimento e essa conexão, é preciso atingir e manter a sintonia, não deixar cair. E é preciso notar também as características de Deus aqui neste primeiro parágrafo, como ele se apresenta. Quem é Poimandres? "Sou Poimandres, a mente do poder absoluto. Eu sei o que você quer e eu estou com você em todos os lugares." Poimandres é o nome hermético para a mente de Deus. Já no primeiro parágrafo, do primeiro livro do Corpus Hermeticum, Hermes revela como Deus se apresentou a ele, e como em apenas uma fala se revelou: "a mente do poder absluto", ou seja, onipotente; "Eu sei o que você quer", ele conheçe sua vontade, seu querer, seu íntimo, ou seja, onisciente; e "estou com você em todos os lugares", já denotando o carater da onipresença. Deus se revelou não pela palavra "Deus", mas por três de seus aspectos, e isto é muito importante, já é uma lição para nós, de como Deus se revela. Pois muitos reclamam que não conhecem Deus, que Deus não se apresenta, que Deus não fala, ignorando a maneira como Deus já faz estas coisas para todos, tais pessoas querem impor a Deus que se apresente como elas querem, e não notam qualquer de seus aspectos perceptíveis, pior ainda poderão ver ou entender os aspectos metafísicos! Estes três aspectos também serão aprofundados em outros parágrafos e outros livros, confirmando o aqui afirmado. A mente de Deus, em outra versão a consciência de Deus, é onisciente, onipresente e onipotente. Mas para não deixar dúvidas é preciso definir ou pelo menos dar uma noção do que significam estas três palavras. Onisciente significa ter ciência, estar consciente de absolutamente tudo em seus mínimos detalhes, por toda eternidade e todo tempo. Onipresença significa estar presente em absolutamente tudo e mais além do tudo, também por todo tempo e toda eternidade. Mas onipotência não significa poder tudo, seria um pensamento sem lógica, onipotência significa poder realizar tudo que desejar, melhor expressado no verbo "will", em inglês, que teríamos que traduzir como "vontadear" por falta de palavra correspondente; onipotência é poder realizar tudo que vontadear. Em resumo, temos aqui o processo como Hermes alcançou esta revelação, como Deus se revelou a Hermes e alguns dos aspctos principais de como Deus é.#

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Tradução comentada do livro Asclepius encontrado em Nag Hammadi

Por Fra. I.L.I.V.

Tradução do livro Asclepius, ou Asclépio, encontrado em Nag Hammadi. Essa é minha tradução feita a partir da tradução para inglês de James Brashler, Peter A. Dirkse e Douglas M. Parrott. Meus comentários estão sempre separados em outro parágrafo e entre sestenidos (#). As divisões, numeradas em seções, não existem no texto, eu as coloquei para dividir didaticamente os assuntos.

Biblioteca da Sociedade Gnóstica
Biblioteca Nag Hammadi

Asclepius 21-29
Traduzido por James Brashler, Peter A. Dirkse e Douglas M. Parrott

1

"E se você (Asclépio) deseja ver a realidade desse mistério, deve ver a maravilhosa representação da relação sexual que ocorre entre o homem e a mulher. Pois quando o sêmen atinge o clímax, ele salta. Neste momento, a fêmea recebe a força do macho; o macho, por sua vez, recebe a força da fêmea, enquanto o sêmen faz isso.

# Que o leitor leia com a mente aberta sem relacionar preconceitos ou outros conceitos modernos, lembre que essa é uma obra antiga, antes que as coisas que se dizem hoje sobre o assunto existissem ela já existia. Aqui não se trata de "magia sexual", nem "yoga sexual", nem sequer "alquimia sexual", que são relações e equivalências erradas com práticas de outros povos. O segredo disso está restrito, e continua restrito a altos iniciados, tudo que vazou desse segredo é incompleto porque possui graus e as pessoas que vazaram não chegaram ao último, comunicam só até onde receberam. #

"Portanto, essas pessoas (os incrédulos) são blasfemadores. Eles são ateus e ímpios. Mas os outros não são muitos; antes, os piedosos contados são poucos. Portanto, a maldade permanece entre os (muitos), desde que aprendem sobre as coisas o que é ordenado não existe entre eles, pois o conhecimento das coisas que são ordenadas é verdadeiramente a cura das paixões do assunto, portanto, o aprendizado é algo derivado do conhecimento.

#  Esse segredo nunca é transmitido em mundos astrais ou mentais ou espirituais, pelo contrário, só é trasmitido de um para um, sempre no plano material que é onde se o realiza. Seus maiores expositores jamais o entregaram, nem publicamente nem em suas ordens, ou porque nunca receberam todo ou porque não quiseram ou porque não foi permitido. Os exemplos mais famosos são Paschal Beverly Randolph, Krumm Heller, Aleyster Crowley e Samael Aun Weor. Destes só Heller recebeu completo, talvez Beverly tenha recebido, mas não trasmitiu todo assim como Heller também não. Crowley como muitos descobriu uma parte e recebeu outra, mas não o todo. E Samael saiu da ordem de Heller muito antes de receber completamente. Estes dois últimos por vazar segredos, apesar de já publicados seriam expulsos das respectivas ordens, pois não souberam guardar nem o inicial, que fariam com os verdadeiros segredos? O exemplo desses quatro se aplica a demais autores e fundadores de ordem. Ainda que bem intensionados na maioria dos casos, não duvido, nem estes, nem outros poderiam expor esses segredos, pois é impossível divulgar, porque não podem ser descritos, como veremos. Ou seja, por um motivo ou por outro é impossível divulgar. E quem recebe completo já foi suficientemente provado e jamais divulga. Os que não concordam ou não suportam as provas de fidelidade abandonam seus professores e ficam tentando advinhar o resto. Logo caem na armadilha de relacionar com os segredos do oriente (que já estão publicados, basta saber procurar), seja pelas semelhanças da prática, dos símbolos, ou das figuras, etc.. #

"Portanto, o mistério da relação sexual é realizado em segredo, para que os dois sexos não se desonrem na frente de muitos que não experimentam essa realidade. Pois cada um deles (os sexos) contribui com sua (parte própria) para gerar. Pois se isso acontece na presença daqueles que não entendem a realidade, é ridículo e inacreditável, e, além disso, são santos mistérios, de palavras e ações, porque não apenas não são ouvidos, mas também não são vistos.

# Aqui não há lugar para o esperto, o malicioso, o de pensamentos impuros. O segredo só pode ser compreendido pelo pobre de espírito, pelo simples de coração, pelo realmente bem intencionado, que ama ao próximo e a Deus sobretudo. Porque o segredo não é ouvido, porque não é falado, nem é  visto, porque não é escrito nem demonstrado, precisa ser compreendido. E só o que purificou o coração consegue compreender. Ele vai sendo entregue grau a grau em 21 gradações. Mas o segredo está sempre dentro de outro. O símbolo não é da coisa em si, mas de outro símbolo. Temos até o símbolo do símbolo do simbolo. E aqui temos o clássico exemplo do triplo simbolismo. A união sexual e a conjunção dos elementos formando um só ser é símbolo do casamento alquímico do Rei e da Rainha, que na tradição cristã rosacruz ainda é símbolo duplo: do casamento da igreja, noiva de Cristo, com o Cristo, o rei, em seu significado macrocósmico; e do casamento da alma com o espírito em seu significado interior, microcósmico. Assim aqui a união de dois em um e a fusão das substâncias em uma manifestação concreta que é o símbolo do amor do casal que é o símbolo do amor a Deus. O segredo é que o amor fervoroso leva à união, ao tornar-se um só com a pessoa amada como no ato sexual de duas pessoas que realmente se amam muito. Esse amor acende e flameja ardentemente e acima do desejo sexual que é deixado para trás; assim deve ser o amor a Deus sobre todas as coisas a fim de se reunir a ele, um amor forte, fervoroso, acima de todo amor. Não estou dizendo aqui como se faz isto nem como se usa o amor do casal para conhecer esse amor, pois estaria revelando a parte principal do segredo. Este segredo só pode ser entregue a quem ama a Deus sobre todas as coisas porque este fará a vontade de Deus, não usará este poder em benefício próprio ou injusto. E o problema é justamente esse, mal começam a desfrutar do poder muitos já o usam egoisticamente, a grande maioria, e então são cortados, se fecha a porta para eles e depois morrem sem terminar seus projetos e tudo o que conseguiram é deixado para trás e disputado entre ladrões e aproveitadores e gananciosos. O perigo não está no ato sexual, está no que se pode gerar e por outro no que fatalmente se gera na união e relação sexual. O perigo não é só o mal que se pode fazer aos outros e ao frágil equilíbrio desse mundo onde há também caos, mas fatal e principalmente para si mesmo. #

"Mas, se há ignorância e o aprendizado não existe na alma do homem, (então) as paixões incuráveis ​​persistem nela (a alma). E um mal adicional vem com elas (as paixões), na forma de uma ferida incurável. E a dor constantemente roe a alma, e através dela a alma produz vermes do mal e fede. Mas Deus não é a causa dessas coisas, pois enviou aos homens conhecimento e aprendizado.

# A questão é muito simples, tão simples que ninguém percebe. Mas por que não percebe? Porque tem um coração impuro, uma mente impura, cheia de desejos, projetos e ganância. Um espertalhão jamais descobre coisa alguma. O malandro pensa desxobrir tudo com sua malícia, desconfiança e arrogância, pois se acha ou muito inteligente, ou muito esperto, ou muito capaz. Já se condenou a colher os frutos de sua ignorância por isso, fadado a insistir nas obras do erro e em muitos erros, orgulhosamente se torna um cabeça dura, cada vez mais acreditando na própria maestria de que se convenceu. Se receber (ou descobrir ou roubar) e praticar antes de estar preparado e purificado para tal o aprendizado não existe e as paixões carnais tomam conta e se vestem até de auto convencimento de santidade iludindo o praticante, que quanto mais pratica mais se vitima às próprias alucinações. Não é Deus que faz isso, é o próprio orgulhoso que põe vendas nos próprios olhos.#

2

"Trismegisto, ele os enviou para homens sozinhos?"

"Sim, Asclépio, ele os enviou a eles sozinhos. E é justo que lhe digamos por que somente aos homens ele concedeu conhecimento e aprendizado, a atribuição do seu bem.

"E agora ouçam! Deus e o Pai, mesmo o Senhor, criaram o homem subsequente aos deuses, e ele o levou da região da matéria. Como a matéria está envolvida na criação do homem,  [...] as paixões estão nela. Portanto, elas fluem continuamente sobre seu corpo, pois esse ser vivo não existiria de outra maneira, exceto se tivesse tomado esse alimento, já que ele é mortal. Também é inevitável que desejos inoportunos, que são prejudiciais, habitem nele. Para os deuses, desde que eles surgiram de uma matéria pura, não precisam de aprendizado e conhecimento. Pois a imortalidade dos deuses é aprendizado e conhecimento, uma vez que eles surgiram da matéria pura. A (imortalidade) assumiu para eles a posição de conhecimento e aprendizado. Por necessidade, ele (Deus) estabeleceu um limite para o homem e o colocou em aprendizado e conhecimento.

# Observe a pergunta inicial de Asclépio. Ele não perguntou se  Deus criou o homem para ser sozinho, mas se o enviou para estarem sozinhos. O que é isso? No mundo original, todos estão em comunicação com todos, não existe separação, não existe limitação do pensamento ao um pensador, nem do conhecimento a um conhecedor. O que um pensar todos "ouvem", o que um conhecer todos ficam conhecendo. Na natureza celestial, não há separação. Mas por uma razão (que é assunto de outros livros do Corpus Hermeticum) Deus isolou o humano enviando para estar só nesse mundo da matéria, ou seja, separado, isolado mentalmente.

# A criação do homem (também assunto de outros livros) é depois da dos deuses. Esses deuses (escrito com letra minúscula e no plural) se refere sempre e invariavelmente no Corpos Hermeticum aos primeiros seres criados, ou seja, é exatamente o mesmo que as hierarquias angélicas na tradição judaica e na cristã. Os primeiros seres criados, não são deuses criadores como Deus, mas auxiliadores que atuam segundo a vontade de Deus, não segundo a própria vontade (os que atuam fora dessa vontade são chamados daimons, espíritos malígnos, anjos maléficos, ou seja, anjos caídos, não espíritos de pessoas, nem que encarnam como pessoas).

# Observe que a matéria não é considerada má em si ou por si como no gnosticismo primitivo, mas se torna envolvida nas paixões por causa do homem, e num processo de retroalimentação um torna a contaminar o outro, pois as paixões contaminam a matéria carnal, e a carne sustentando esses registros das contaminações torna a contaminar o homem em outro momento, como qualquer objeto que seja contaminado por virus e bactérias.

# Os deuses também são de matéria corporalmente, mas de outra vibração, estão em outro nível  de existência. Nesse nível que estão há imortalidade e esta mesma leva a conhecimento e aprendizado, pois são imortais e suas mentes não são sozinhas, isto é, todas se intercomuniacam, não há separação além da corporal. Já os humanos estão separados corporalmente e mentalmente. Por necessidade Deus estabeleceu todos os limites para os humanos, para que não se perdesse completamente, mas tivesse a oportunidade de retorno ao estado anterior, puro e não separado, e ainda pudesse escolher seu destino. Assim, desde o formato e tamanho dos corpos a todos os seus poderes e ambiente foi delimitado por Deus numa medida justa, mas que também não impedisse a possibilidade de escolher Deus e o bem e de retornar à dimensão eterna com Deus através do que escolha aprender e conhecer, Deus e as coisas celestiais ou o mundo e as paixões mundanas.#

"Com relação a essas coisas (aprendizado e conhecimento) que mencionamos desde o início, ele (Deus) as aperfeiçoou a fim de que, por meio dessas coisas, ele pudesse restringir paixões e males, de acordo com sua vontade. Ele trouxe o seu (homem) mortal existência na imortalidade, ele (homem) tornou-se bom (e) imortal, como eu disse, pois ele (Deus) criou (a) natureza dupla para ele: o imortal e o mortal.

"E aconteceu assim por causa da vontade de Deus que os homens sejam melhores que os deuses, pois, de fato, os deuses são imortais, mas somente os homens são imortais e mortais. Portanto, o homem tornou-se semelhante aos deuses, e eles conhecer os assuntos um do outro com certeza. Os deuses sabem as coisas dos homens, e os homens sabem as coisas dos deuses. E eu estou falando sobre os homens, Asclépio, que alcançaram aprendizado e conhecimento. Mas (sobre) aqueles que são mais vaidoso que estes, não é apropriado dizermos algo básico, pois somos divinos e estamos introduzindo assuntos sagrados.

# A forma como Deus delimitou a vida do ser humano na matéria já tem toda madicina para que o mal gerado na mente humana não possa se manifestar em toda sua potência e que as paixões sejam domadas e reduzidas, seja pelas limitações materiais e mentais, seja pelo conhecimento e aprendizagem espontanea, seja pelo sofrimento que vem das consequências das más paixões por seus pensamentos e ações. O humano é o que possui as duas naturezas e pode escolher entres elas, os deuses não, uma vez caídos não podem retornar (há controvérsia entre autores sobre isso, mas a tradição não afirma possibilidade de rerorno a deuses...). A época em que foi escrito esse livro a diferença da frequência vibratória de deuses e humanos não era tão distante quanto hoje de modo que a comunicação inter-planos era mais fácil, ocorriam mais aparições, materializações, bem como nossas visitas conscientes lá eram mais frequentes entre os iniciados. Mas ontem e hoje ainda isso está na dependência de aprendizado e conheciemnto de nossa parte, aprendizado envolve comportamento, moral, emoções, habilidades, etc. e conheciemento envolve as atividades da consciência, intelecto, intuição, comunhão, compreensão, inteligência, etc.. Tudo isso pode se adquirido, treinado e desenvolvido. Quando ele diz "somos divinos" fica bem claro que se trata dos que alcançam aprendizado e conheciemento ou se introduzem nesses assuntos e assumem esse papel de aprendizes em busca do conhecimento, não toda e qualquer pessoa como prega a "nova-era". Divinos aqui não tem o sentido bíblico (que se refere apenas a Deus ou às pessoas da triunidade), mas no sentido oriental, de divo, diva, que vem de deva, ou seja, esses deuses criados, poderia em nossa cultura ser traduzido como angelicais, o que reforça novamente a importância do aspecto moral e emocional, especialmente o amor e dedicação incondicionais. Só há comunicação com anjos quando há comunhão, sintonia com eles. Essa comunicação é um objetivo nobre, é um de nossos objetivos, mas não quando não se quer ser trasformado primeiro, para a própria edificação, mas para o bem da humanidade. Sobre isso é falado adiante. #

3

"Desde que entramos no assunto da comunhão entre deuses e homens, Asclépio, aquele em que o homem pode ser forte! Pois, assim como o Pai, o Senhor do universo, cria deuses, assim também o homem, esta criatura mortal, terrena e viva, aquela que não é como Deus, também cria deuses. Ele não apenas fortalece, mas também é fortalecido. Não apenas ele é deus, mas também cria deuses. Você está surpreso, Asclépio Você é outro incrédulo como os muitos?

# Aqui o texto toma acentuada diferença do que foi achado anteriormente que tece pormenores sobre o ato sexual, a união dos líquidos seminais, a participação dos dois sexos e a concepção humana. Essa parte pode ter sido retirada desse texto, pois ele pertencia a cristãos que talvez só praticassem esse tipo de relação sexual para reprodução (com mistura de fluidos). E muito provavelmente estes praticavam não o derrame seminal, mas a contenção (tanto os solteiros, sem relação ou qualquer tipo de ato sexual, quanto os casados, com ou sem relação sexual, ou seja, a economia do orgasmo para ambos os sexos). Mas esse texto também não entra em tantos detalhes sobre esse assunto como o achado anterior a este. Neste já passa para a questão seguinte, chamada criação dos deuses, parte em que pode haver suspeita de acréscimo (por a tradição ter sido trazida ao Egito de hebreus ou outros semitas), isso é questão não só para estudiosos, mas dentro da tradição, na verdade o significado da primeira parte também se reflete nesta, trata da mesma coisa, sendo que a primeira apresentou o modo e esta apresenta o resultado. O que importa aqui não o que é dito ou como é dito, mas ao que se refere, o significado inciático.

# E independente desta parte ter sido adicionada ou não, de haver uma parte que pode ter sido retirada ou se tratar do original que não tinha tal parte, que seria assim uma adição, nesse texto encontramos o mesmo significado (tanto que nesse texto essa parte foi preservada por quase dois milênios e a outra não).

# É preciso entender que na linguagem cifrada da tradição hermética a palavra "deuses" (com "d" minúsculo e no plural) sempre se refere simplesmente aos primeiros seres criados por Deus (com "D" maiúsculo e no singular). Ou seja, o equivalente em nossa cultura às hierarquias angélicas (anjos, arcanjos, serafins, querubins, ofanins, etc.). Mas muitas vezes também significa o estado ao qual podemos chegar, como habitantes da dimensão eterna, nas esferas celestiais, com corpos incorruptíveis e imortais, como os anjos. Sendo esse o penúltimo texto do Corpus Hermeticum, esse detalhe já foi demonstrado nos outros textos, faz parte de iniciações anteriores. #

"Trismegisto, eu concordo com as palavras (faladas) para mim. E eu acredito em você como você fala. Mas também fiquei surpreso com o discurso sobre isso. E decidi que o homem é abençoado, pois desfruta desse grande poder. . "

"E o que é maior do que todas essas coisas, Asclépio, é digno de admiração. Agora está claro para nós a respeito da raça dos deuses, e confessamos junto com todos os outros que ela (a raça dos deuses) vem de uma matéria pura. E seus corpos são apenas cabeças. Mas o que os homens criam é a semelhança dos deuses. Eles (os deuses) são da parte mais distante da matéria, e ela (o objeto criado pelos homens) é da (parte) exterior do ser dos homens. Não são apenas elas (o que os homens criaram) cabeças, mas (são) também todos os outros membros do corpo e de acordo com a sua semelhança, para que o homem interior seja criado à sua imagem, da mesma maneira, o homem na terra cria deuses à sua semelhança. "

# O sexo sempre está a criar algo. Como no homem independe do ele faça os líquidos seminais e espermatozóides estão sempre sendo renovado e a mulher independente do que faça está sempre já preparada com todos os óvulos e órgão e seu ciclo se mantém (e isto por si só já nos é um grande ensinamento...), nas outras esferas de existência algo já foi criado e sempre está se renovando e se desenvolvendo. Todo ato sexual sempre está ceiando algo aqui e nas outras esferas. Não apenas todo ato, toda atitude sexual (inclusive a abstinência total) é uma ação sexual criadora, o sexo, a função sexual, inerente a nós, não para de criar, para bem ou para mal, para saúde ou doença, para renovação ou devreptude... nunca pára. Cabe a nós saber e decidir o que fazer para o nosso bem e da humanidade. E aqui Asclepius está sendo instruído sobre isso. Hermes mostra que a matéria prima dos deuses, de que são construidos, sua substância, não é deste mundo, dessa materia degradável, tempor al, decadente, caída, mas de uma matéria pura, isto é, não misturada, imaculada, original... E que seus corpos são apenas um aspecto de si mesmo, mas o que os homens criam é apenas uma semelhaça desses corpos, nem se igualando sequer ao aspecto corporal real. Não é apenas essa parte que naturalmente criamos e que temos como cabeça, mas podemos ir bem mais além, criando todos os outros membros, um corpo completo, ou seja, plenamente daquela mesma natureza, que atue conscientemente naquele plano.

# A segunda metade do texto fica clara agora. Os deuses estão longe dessa materialidade humana (apesar de seus corpos exercerem mais poder sobre essa matéria do que os próprios humanos, com corpos de matéria da terra, podem). Esses nossos corpos densos são apenas o exterior do ser humano. Mas agora note bem, nós podemos criar algo mais do que criamos normalmente: "para que o homem interior seja criado à sua imagem, da mesma maneira, o homem na terra cria deuses à sua semelhança."

# Claro que ele não está falando de ídolos, estátuas estáticas, ele está falando da criação de outro tipo de corpos, semelhante aos deuses, ele está falando também, por outro lado, da criação do homem interior. Vemos aí dois elementos mostrados ao longo do Corpus Hermeticum que necessitam ser trabalhados, a parte imaterial, moral, intelectual, mental, etc., e a parte material, desde o corpo de matéria da terra até os corpos sutis semelhantes aos dos seres celestiais, aqui chamados deuses, em seus vários níveis, ou seja, em suas hierarquias e planos.

# Observe o que é falado aqui. Esse enigma pode até parecer claro para quem já recebeu a iniciação ou a informação deste arcano, mas precisamos ir ainda um pouco mais adiante. O iniciado está apenas no início, precisa desenvolver o assunto até o fim...

# O que ele chama de cabeças? Por que usou essa palavra? Uma parte dessa meditação podemos adiantar como ponto inicial, que a "cabeça" dos corpos nós já temos, usando a mesma linguagem simbólica, mas o resto do corpo e seus membros precisamos fabricar (cabeça também tem o sentido de comandante, chefe, principal, capitão, é a parte principal, a que comanda, nesse caso a consciência, ainda que limitada em outras esferas). Quando saímos com nosso corpo mental, por exemplo, numa dimensão mental, podemos apalpar a realidade daquele nosso corpo, mas apesar disso não podemos dizer que atingimos uma elevada dimensão mental, pelo contrário, existe muito mais acima e aquela consecução é frágil e passageira; nem tampouco podemos dizer que aquele nosso corpo é igual ao dos deuses, nem que o dominamos como eles dominam os seus. Precisamos desenvolver corpos, usando a nossa matéria e a matéria de nosso homem interior, matéria prima encontrada nessas outras esferas. Vejamos...#

"Trismegisto, você não está falando de ídolos, está?"

"Asclépio, você mesmo está falando de ídolos. Você vê isso novamente, você mesmo, Asclépio, também é um descrente do discurso. Você diz sobre aqueles que têm alma e tamanho, que são ídolos - aqueles que provocam esses grandes eventos. Você está dizendo sobre aqueles que profetizam que são ídolos - aqueles que dão aos homens doenças e curas [...] que eles.

# Em outra tradução é usada a palavra "estátuas" no lugar de "ídolos" e realmente parece atribuir a estes ações. Mas lembremos do que na verdade está tratando, de corpos (que serão construídos por nós). Não se espante como Asclepius, pensando no significado literal, como os profanos que adoram deuses e estátuas, aqui será revelado um ensinamento espitual, portanto não se trata de ídolos, estátuas, matéria, mas, com descreve Hermes, poderes, capacidades, e de onde elas vêem, não de corpos de estátua, mas de seres, com alma, corporalidade e poderes. Veja que Asclépio é tido até como descrente por não ver ainda de imediato isso. Corpos de estátuas são apenas uma metáfora, um símbolo, dos corpos reais que servirão de veículos para nossa alma e espírito em outros planos, para que possamos habitar conscientemente também naqueles. Assim como são os corpos daqueles seres que entregam as profecias e as curas... Essas "estátuas", ou seja, esses corpos, sutis quando comparados a matéria densa, mas bem reais e palpáveis nas outras esferas, são construídos em outros mundos, e tem muito mais poderes que esses corpos materiais e são eles que nos possibilitaríam essas curas, profecias, eventos e visões, falados por Hermes...

# Em seguida começam as profecias sobre o fim do Egito, mas como veremos, elas também têm um duplo sentido e consequentemente uma dupla realização...#

Continua...

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quinta-feira, 16 de julho de 2020

Falando claramente sobre vias iniciáticas...

Quero iniciar nessa série de postagens uma abordagem clara sobre a questão das ordens, religiões e escolas e sua relação com as vias iniciáticas universais e tradicionais. Nessa relação também esclarecer a relação de nossa fraternidade com algumas dessas vias e tradições. O conhecimento transcendente é um só todo, mas as diferentes tradições também o tomam em diferentes partes ou enfatizam umas mais algumas dessas partes, outras mais outras partes. O Papel da Ciência Metafísica no que se refere a esse ponto é estabelecer as verdades, sejam em comum ou não, pois há descobertas que pertencem apenas a uma ou outra destas ou mesmo a uma só instituição, embora outras, mais fáceis de se obter, sejam comuns entre várias, e ainda assim sua visão particular pode variar muito de uma para outra. A Metafísica também deve esclarecer a cada uma as partes desconhecidas, mas verdadeiras, que cada tradição ignora das outras ou as quais não penetram, ampliando o campo da verdade, expandido a consciência das realidades transcendentais e estabelecendo o diálogo e o bom uso dos conhecimentos comprovados entre as diferentes tradições.

Isto é particularmente uma das colaborações e dos objetivos da nossa fraternidade, que não só amplifica e unifica o campo dos conhecimentos e o respeito mútuo, como também ajuda a preservar as particularidades de cada tradição através da valorização que vem pelo entendimento e cada vez maior conscientização da razão de ser, da eficácia e da finalidade de cada uma destas. A tradição também tem o valor de preservar os valores já consagrados ao longo da história humana pela extensa experiência e pela própria capacidade arquetípica que se estabelece e que possibilita verificar, em si e por si, que tais valores são inerentes e comuns à existência e ao ser consciente de si mesmo, e isto bem mais além do que a ciências e as pesquisas estatísticas, antropológicas e outras verificações comparativas poderiam demonstrar. Portanto ela é uma ferramenta para o metafísico tanto por oferecer métodos muitas vezes já comprovadamente eficazes, pela vasta experiência de séculos, bem como, por outro lado, por ser o arquivo vivo e vivificante de valores benéficos a longo e curto prazo que norteiam, não só o que seria o viável e o possível, mas o objetivamente benéfico e mais satisfatório, na enorme maioria dos casos.







terça-feira, 7 de julho de 2020

A Ordem -parte 5

[D] A Ordem enquanto Supremo Ser precisa ser entendida pela lógica imbatível para que um membro seja introduzido na ordem e sintonizado à Ordem.

A palavra sintonia significa literalmente no grego estirar juntos (syn: junto e teínein: estirar alongar), mas pense isso em relação à música. Estirar pode muito bem se referir às cordas de um instrumento, afiná-las estirando; tom, ainda se refere a som, nota. Explicando melhor seria afinar na mesma nota, isto fisicamente é vibrar igual, vibrar juntos na mesma nota. Este último significado é praticamente idêntico ao que as ciências usam hoje. Estar em sintonia é estar no mesmo nível, no mesmo padrão vibratório, é vibrar juntos na mesma frequência. Assim como duas cordas diferentes ou mesmo instrumentos diferentes podem emitir a mesma nota, nós, apesar de estarmos em diferentes corpos ou substâncias, podemos entrar em sintonia com regiões mais elevadas e celestiais, isto é, da ordem, entrando no mesmo padrão de vibração. O que nos leva a este padrão, que nos sintoniza com aquele, é exatamente o padrão do amor incondicional, ágape em grego.

Trataremos da questão do existir em uma próxima exposição, mas além do existir há o ser (isto é explicado nesta outra exposição referida). Se há ser, ser algo, ser alguém, precisamos admitir que existem níveis diferentes de ser. Assim como existe diferença entre um ser vivo e um ser não vivo, nos diferentes planos também tem que haver diferentes níveis de ser.

O que é melhor, ser um ser não vivo ou um ser vivo? O que é superior, ser um verme ou ser um humano? Uma pedra ou uma criança? Essas são diferenças óbvias. Como há diferentes níveis de ser, devem haver gradações que vão até o máximo nível de ser e o mínimo de ser possível, que já beira o não ser. Por isso afirmamos com tanta certeza anteriormente a existência do Supremo Ser na região superior da esfera da Ordem (porem não apenas por isso, mas por muitas outras razões). Não que haja uma restrição a uma região, mas que em nosso gráfico, no nosso modelo representativo constituído de duas esferas, há níveis, assim o nível mais superior é obviamente representado em cima (existem autores que representam no centro também, em modelo semelhante). Então existem níveis de ser do mais superior ao mais inferior.

O que é superior, mais supremo, ser consciente ou ser inconsciente? Logicamente que é ser consciente. Só que ser supremamente consciente vai até bem mais além disso, é ser onisciente. É Luz viva. Se lhe perguntassem se você queria ter uma consciência mais elevada e até bem acima da humana ou a mesma consciência que uma pedra, qual você escolheria? (Se escolheria ser como uma pedra nem deveria estar lendo isso,
aliás, não é bem vindo em nossa ordem como membro, ela não lhe serve). Ser inconsciente ou quase inconsciente não pode ser superior a ser consciente, não é questão de opinião ou de gosto, é questão de experiência e de lógica.

O que é superior, supremo, é ser ou não ser? Se há seres e diferentes níveis de ser, existem níveis que são inferiores e níveis superiores e exite o máximo de superior, o máximo em matéria de ser, o supremo ser, e existe também o minimo do ser, o mais perto do nao ser.

E o que é superior, supremo, ser pessoal ou ser impessoal, ter características superiores ou não ter nenhuma característica, ter vontade própria ou ser um autômato, mecânico? Obviamente, ser pessoal, ter boas e belas características, ter vontade própria e livre é superior a não ter nada disso.

E o Supremo Ser ainda vai além disso, por sua natureza emana toda vontade e por sua vontade define o que é característico, então além de pessoal é supra pessoal, pois define a suprema pessoalidade e assim abarca toda pessoalidade suprema e ainda a transcende, mas permanecendo sempre em suas próprias características.

Como poderia um ser que é supremo, ser mecânico, involuntário, condicionado, impessoal, sem características? O que há de superior nisso?

O que é superior, mais supremo, é reger tudo segundo leis de ferro, que embora justas, que atuem sempre mecânica e automaticamente, perfeitas e invioláveis ou é reger tudo dentro de leis justas, mas ter afeição, escolha, juízo, compaixão, misericórdia, amorosidade e amar? Obviamente que as segundas características são superiores às primeiras.

E o Supremo Ser ainda vai além disso, pois ele é o próprio amor, é amor vivo. Amor é sua essência, é o que o define enquanto caráter supremo.

Essas são as características que por muitas vezes vem sendo ignoradas, omitidas ou negadas ao Ser Supremo em nome de uma ciência falsamente neutra e imparcial. Mas como vemos, sem lógica. Embora outras características são admitidas, como onipresença, onipotência, eternidade,
imanência e transcendência, a ciência comum, quando admite ter sido derrotada pelas evidência da existência de um Ser Supremo, ainda costuma negar essas três, principais (algumas vezes admitindo a primeira, onisciência, mas por uma minoria de pesquisadores ainda). Mas nós as destacamos, não por serem consideradas aqui e ali as principais (geralmente apontam-se outras), mas por serem as primordiais, as essenciais, a triunidade básica da unidade primordial é Consciência, Vontade e afeto, ou melhor, Amor. As três forças primordiais, a neutra, a de expansão e a de atração; consciente voluntária e amoroso; Onisciente, Onipotemte e Onipresente. São forças pessoais, pertencem a caracteres pessoais, seus possuidores. A mesma coisa, dita de várias formas enfatizando uma ou outra faceta de cada face. De qualquer maneira nenhuma delas pode ser impessoal, pois possui características também da outra, comuns, as mesmas consciência, vontade e amor.

E isto se repete em tudo, não há nada tão evidente na ciência quanto as forças primordiais em que se baseia toda física. E como vimos essas forças supremas (divididas pela fisica em quatro, que para nós sao três, pois uma delas os fisicos consideram duas, e nós considerados aspectos extremos ou opostos de uma mesma) tem que ter um causador, um possuidor e esse possuidor só pode pessoal (pois ele tem pelo menos três características que nós podemos evidenciar que são pessoais, consciência, amor, vontade; porque ele é e como sendo um ser a causa suprema é o supremo ser, e se é supremo ser só pode ser pessoal). Pois uma vontade involuntária não existe, é uma contradição e é preciso uma vontade para por em movimento o que não podia mover-se por si só. E ainda, coisa alguma, nada, algo não pode ser a causa de si mesmo, isso seria uma contradição; o universo, a matéria, a energia, as forças primordiais, etc., não podem ter sido as causas de suas próprias existências, isso seria absurdo e é indiscutivel. Mas é preciso que eu diga aqui, pois os cientistas materialistas fazem questão de omitir, esconder e não ver essa lacuna em seus argumentos, apesar de admitir que há um início.

E embora pareça uma palavra inadequada (porque tem sido usada também para se referir a seres menores e ou criados, deuses no plural) o Supremo Ser, em oposição ao completo não ser, tem sido chamado de Deus. Essa palavra vem das tradições que têm seus escritos em grego. E apesar de ter alguns significados diferentes conforme a tradição, estes são bem semelhantes e têm relações históricas entre si. Enquanto que o siginficado moderno e mais ainda o coloquial inclui elementos estranhos ao conceito original, principalmente através da contaminação de concepções panteístas, deístas e politeístas.

Deus é definido como princípio original, princípio absoluto, Ser primordial. É toda e única Ordem existente em todas as dimensões. Na filosofia além, dessa definição é conceituado como realidade transcendental responsável pela origem das leis que regem o universo e pelo universo mesmo com todos os seres. Também é dito fonte de todo bem, beleza e toda excelência moral que existe, regente eterno. Uns também usam o termo ente eterno, mas a depender do sentido não é uma palavra adequada.

Em teologia Deus é o Ser Eterno, trancendente e imanente, transcendendo mesmo até a existência com as características já citadas acima e mais algumas outras (há o ditado em teologia "Deus não existe, Deus é", pois tudo que existe só existe após ele e por meio dele...); o Supremo Ser é também subtendido e evidente através da criação e das leis naturais, entendido por uns como o imanifesto que é evidente através que é manifesto; é evidente pela ordem da natureza apesar da matéria (que por si mesma tende ao caos e caminha para ele); é a causa necessária; eterno, infinito, necessário, sobrenatural (além e fora dessa natureza), único de sua qualidade, ser real em si e por si mesmo, atemporal, onipotente, onisciente, onipresente, completamente bom e completamente justo... E para alguns, inclusive para nós é evidente também através da experiência, vivência, do conhecimento profundo, do conhecimento direto e por revelação própria. Seus atributos podem ser entendidos em duas categorias, os incomunicáveis, ou seja, aqueles que não compartilha com nenhum ser, como onisciência, onipresença, onipotência, eternidade, asseidade, imutabilidade e unidade; e os comunicáveis, que são compartilhados, como liberdade, beleza, vontade própria, amor, perfeição, glória, bondade, conhecimento, paz, santidade, sabedoria, misericórdia, retidão, espiritualidade, etc..

Na religião, especialmente na hermética e na cristã, temos as mesmas características e definições acima, tanto gerais, como filosóficas e teológicas (a tradição hermética se refere a si mesma como a prisca theologia, a que inaugura a ciência teológica, mais ou menos entre a época de Enoque e de Akenaton; a tradição cristã possui a teologia mais estudada, que tem mais variantes e que mais se aprofunada, desde Paulo, até a atualidade). Mas embora estejam entrelaçadas, uma coisa é a ciência teológica e outra coisa é a religião. Em religião temos essa definição teológica, mas quem define primeiro teologia historicamente é a religião, porém nela as definições podem não ser tão claras ou explícitas como no estudo teológico mesmo. Por isso há quem inclua todas as teogonias existentes como sendo assunto de teologia. Nessa visão as "religiões primitivas" são consideradas (como se o fato de haver um deus ou supostos deuses implicasse em uma logia, um estudo, uma ciência, ainda que rudimentar, o que não podemos observar na prática, mas vamos considerar essa visão por um momento para entendimento do conceito). Então nesta visão há tipos diferentes de teologia ou uma suposta evolução dela. Isto resulta no contrário ao que argumentam: quer considerar visões que não são teológicas como sendo, para incluir o animismo, o monismo, o panteísmo, o politeísmo, e outras variantes, até mesmo o ateísmo, mas seus autores e defensores terminam falando que houve uma "evolução do pensamento" de um mais simples e primitivo para um mais complexo e avançado (apesar de muitas vezes a história mostrar o contrário). O que implicaria uma ciência que evoluiu até chegar nas únicas teologias existentes de fato na atualidade que já trataram de todos esses assuntos ao longo da história antes e descartaram as visões ilógicas, pois desconsideram completamente a possibilidade de uma multiplicidade de deuses, ou qualquer panteísmo ou ateísmo (baseados nas evidências e evidentes características citadas). E com razão se descarta, na definição de Deus não cabem essas possibilidades, pois deixaria imediatamente de estar se tratando de Deus (Teos), se estaria tratando de outra coisa, mitologia, teogonia, osmogonia, etc., menos teologia. 

Assim resta dentro da teologia a única alternativa possível, o estudo a respeito de um Teos como definido por essa ciência, ou seja, supremo, primordial, eterno, portanto do uno, único do gênero, e, dizem uns, absoluto, ou, como dizem outros causa das causas, Senhor dos senhores e obviamente também de si mesmo e da criação, trancendente e imanente. Quando se fala em deuses no plural ou deus (com minúscula) sempre há que se entender que se trata de uma concessão conceitual, pois só podem ser algo menor e mais limitado do que Deus, já que haveriam outros como eles, isto é evidente, lógico e irrefutável, não há o que dicutir contra o conceito teológico.  

E em nossa ordem o Ser Supremo se faz objeto principal de investigação, pois é sua vontade, que esteja em nossa consciências, em outras palavras, quer ser conhecido. Dada a natureza de Deus a forma de investigar dessa ciência tem quer ser diferente ou mais avançada que a da investigação da matéria e sua natureza. O que é de natureza espiritual, portanto consciencial não precisa do intermédio dos sentidos para ter acesso à consciência, pode fazê-lo diretamente. O problema aqui está no invertigador, condicionado, pois utilizamos a mente como receptor e esta se liga muito mais aos sentidos e à materia do que ao intelecto e à consciência ou espírito, de modo que uma manobra intelectual precisa ser efetuada quando fazemos tal investigação, que é voltar a consciência sobre si mesma através de uma mente treinada e obediente à nossa vontade, que dirige a atenção, consequentemente a consciência à própria consciência e ao que ocorre nela. É outra visão de mundo, outra perspectiva, é outra forma de ver e de viver onde a matéria-energia deixa de ser o centro de nossas atenções e o que é de natureza espiritual em nós, como a consciência, seus fenômenos e capacidades passam a ser o centro. Mas não é só isto. Deus se revela a quem quer se revelar e pelos meios que permite ser conhecido. É preciso conhecer a fundo esses meios, levá-los a cabo, treiná-los, exercê-los...

Portanto sim, temos um aspecto filosófico, mas isto é apenas o começo, pois temos também um aspecto teológico, bem como o científico e empírico que por consequência descamba no religioso (por isso uns nos acusam de sermos uma religião, embora nem sejamos um religião nem uma ciência da religião, mas sim uma ciência, na ampla acepção da palavra, do transcendente, do Eterno, do Supremo, do  Onisciente).

Nós investigamos a fundo não apenas ao ponto de comprovação, definição e caracterização, mas também aspectos, linguagem, apresentação, e sua criação, leis, nomes, sua matemática, geometria, epistemologia, ontologia, cosmologia e psicologia. De tal forma que tudo que será entregue ao estudante é irrefutável, tanto por sua razão lógica, quanto depois por sua experiência, intuição, consciência... E os meios de atingir por si mesmo as mesmas conclusões que nós (antes que as demos), são infalíveis se a pessoa seguir as instruções com sinceridade. 

Isto é Ordem enquanto Ser Supremo: é a própria manifestação deste tanto na natureza original quanto na natureza caída e decadente. Se não houvesse essa manifestação seria impossível haver vida, luz, consciência, amor, bondade, moralidade, liberdade, ordem. E seria impossível haver saída, escape, para o que aqui nasceu. Essas coisas vem apenas de Deus, não vêm originalmente de nós. Pois dessa natureza não pode surgir nada disso, menos ainda subsistir, todas essas coisas são sustentadas pela natureza original graças à concessão do Supremo. Nós não temos poder de mudar de natureza (todas as visitas a mundos que outros fazem em outras ordens que não as que estão em dependência e relação direta com o Supremo são ainda dentro dessa natureza, em outros planos, mas não nos planos espirituais, não na natureza original). E por fim, é ele mesmo e os seres não caídos, seus servos e mensageiros, que organizam as ordens, religiões, escolas, e os diferentes meios de nosso retorno à Ordem original e de restauração da ordem em meio a tantos caminhos e organizações humanas que não levam a lugar algum quanto aos nossos verdadeiros objetivos eternos.

Portanto está fora de cogitação toda doutrina ateísta, humanista, materialista, mecanicista, deístas ou que fale num Deus impessoal, ou força impessoal, de energia ou de apenas justiça sem misericórdia e juízo, etc.. 

Os atributos da triunidade suprema muitas vezes tem sido confundindos ou mesmo perdidos aos longo de algumas décadas nos últimos anos em muitas tradições. O que aqui recuperamos, resgatamos, como consciência, vontade e afeição ou amor, já foram conhecidos como luz, vida e amor e isto não é erro, é correto, é tradicional, está escrito e registrado, mas a incompreensão disto, e a negligência, levaram à incompreensão do que é perfeitamente compreensível, disso que
antes foi conhecido como revelação e depois  incopreendida, atualmente por outros vidto como mistério. Como se um triângulo só pudesse ser entendido como três retas e não ao mesmo tempo como uma única figura, uma única unidade! Isto é absurdo: não compreender intelectualmente algo tão simples. É a prova do afastamento da realidade, da verdade, é estar se afogando na própria desgraça. Como não ver isso? Como não entender algo tão simples quanto a unidade de um triângulo? Realmente a verdade foi concedida aos simples e aos sábios em seu próprio conceito restou a cegueira e o “mistério”.

Isto se repete em tudo, mas especialmente em nós que somos, como o Supremo, consciência, mente e corpo, o tradicionalmente conhecido como espírito, alma e corpo. Espírito é igualmente uma triunidade de consciência, intuição e
comunhão, e os outros dois também são triunos. Em nós isto é o espírito, essa triunidade está em nosso espírito. A psique é conhecida como alma, possui os sentimentos, sensações e percepções. E a vontade
equivale ao corpo, possui os sentidos, o instintos e as pulsões. Mas a vontade pura é a intensionalidade que gera mainfestação em intenção, pensamento e ação e ou forma, ou seja, intenção que tem sua consecução emmfenomenos. Essa trunidade de cada parte ainda pode ser descrito de outras formas mais ou menos exatas que esta. O corpo nada mais é que a corporificação da representação da alma, a vontade são
todos os corpos, a vontade não pode não se realizar como algo e em nós ela é o corpo e tudo que é depositado nele, tudo que pertence a corporeidade é vontade. Nos mundos a
vontade é a forma, no nosso mundo a vontade é a forma material, no mundo da Ordem é a palavra, o verbo, a vibração, a pessoa, a razão e o corpo do Supremo Ser.

Por tudo até aqui mostrado perceba que não há espaço para uma interpretação panteísta. O Supremo ser é separado do não ser supremo, do inferior, e é separado do quase não ser, e é separado do não ser. Ele trancende tanto o criado, quanto o gerado, quanto o derivado. Embora seja imanente, onipresente e onisciente de todo e cada mínimo detalhe de todo fenômeno e esteja presente em tudo e em todos, mas inacessível a esse tudo e a quase todos. A ordem enquanto Supremo Ser é o restabelecimento progressivo da e a comunicação, a reunião e finalmente a reintegração à unidade entre o ser separado ao Supremo Ser e à natureza original.