quinta-feira, 16 de outubro de 2014

SINTONIA


 Por Antonio F. Gonzaga

Todas as ordens, fraternidades, escolas, igrejas, partidos e qualquer congregação de ideias, quer queira ou não, quer saiba ou não, possui uma corrente energética ou corrente mental ou corrente vibratória, como costuma ser denominada. Essa energia é certo tipo de onda vibratória específica, não se trata de nada místico ou abstrato, mas uma força física análoga às ondas de rádio, que de acordo com o comprimento ou de outras características, não se confundem umas com as outras. Elas não podem ser vistas ou sentidas, embora estejamos imersos nelas, bem assim as ondas vibratórias mentais.

Como essas ondas de rádio que precisam de um aparelho regulado para captar em cada sintonia determinada onda enviada pela antena de determinada estação, nossa mente e nosso sistema nervoso são os aparelhos capazes de captar determinadas ondas bastando para isso, entrar em sintonia com elas. Existem algumas maneiras de entrar em sintonia com determinadas ondas.

Por exemplo, se uma pessoa lê determinado livro de uma religião, raciocina e se comove com o que está escrito nele, ele tende a entrar em sintonia com pessoas (e ondas mentais dessas) daquela religião, a partir dessa sintonia ele pode começar a falar sobre o assunto do livro e encontrar outras pessoas que leem o mesmo livro; se ele vai a uma congregação dessa religião e gosta do que vivencia lá, ele entra cada vez mais em sintonia; se ele frequenta uma igreja e acredita no que se diz lá; mais sintonia. Então ele começa a ser inspirado por ideias comuns daquela religião e de acordo com sua sintonia, sua inteligência e outros fatores; ele pode chegar a ideias específicas a partir da ideia geral da religião a que muitos outros daquela religião chegaram e poderão ainda chegar ou que já chegaram no passado, sem que para isso ele tenha que ouvir ou ler de alguém.

Outro caso muito comum é o de alguém com um pensamento científico sobre algum tema, ele pode chegar a ideias e experimentos iguais a outro que sequer conheça. O maior exemplo da história da ciência foi a teoria da origem das espécies através da seleção natural pensado simultaneamente por Wallace e Darwin sem que estes soubessem das ideias um do outro e sequer se conhecessem. Um exemplo maior é que você mesmo já pode ter pensado essa hipótese da sintonia e captação mental. Eu mesmo já conversei com alguns amigos que chegaram a mesma ideia, assim como eu mesmo, de que captamos ideias “no ar” assim como uma televisão capta as ondas de rádio no ar de acordo com a sintonia que escolhemos.

Esses são exemplos gerais, mas muito comuns, experiências que talvez qualquer pessoa alguma vez tenha notado consigo mesma. Pode ser que, até facilmente, se interprete de outra forma, talvez com algum psicologismo. Porém o que nos interessa, independente da explicação do fato, é uma sintonia, uma exata vibração, que não só possibilite tal inspiração orientadora, mas também que dê reais respostas, comprovadamente eficientes e corretas, que se possam confirmar, e ofereçam formas de confirmar; que dê força para o que deve ser realizado; que dê proteção dos perigos físicos e psicológicos do nosso mundo; que transmita paz, bem aventurança e saúde dentro das possibilidades e do potencial máximo de cada um. Estes entre outros possíveis benefícios são os benefícios de estar sintonizando com nossa corrente.

Existem três maneiras de usufruir de nossa corrente nesse sentido: (1) lendo, ouvindo ou estudando (e raciocinando sobre, mentalizando, imaginando, etc.); (2) praticando, meditando, exercitando o aprendido; e (3) entrando em contato, praticando juntos, recebendo informações e energia através do professor ou amigo espiritual ou parceiro praticante. Dessas três, as duas últimas são as mais poderosas e mais importantes, mas que não se desenvolvem sem a primeira.

Existem outras duas maneiras muito utilizadas, mas que não nos interessam. Essas duas maneiras são através das emoções e da fé ou crença. Estas duas são as que mais têm sucesso como proselitismo; elas com certeza são as que mais atraem e mais cativam as pessoas, e principalmente em bando, isto é, às multidões. É claro que elas podem ser utilizadas individualmente para um benefício, mas não devem ser usadas para gerar ou expandir uma corrente. O início e a manutenção de uma corrente através das emoções sejam elas superiores ou inferiores só se dá pela exacerbação das emoções, e esta só pode gerar o esgotamento, o desequilíbrio e a cegueira. Por outro lado a crença, em si mesma, já é uma cegueira, pois é inconsciente do real objeto. E a fé (especialmente no sentido que se dá no ocidente, como sinônimo de crença) é fruto do crédito exacerbado, emocional, passional, teimoso, cego. Portanto nenhuma das duas formas condiz com nossos objetivos que incluem o despertar, o ver por si mesmo, o comprovar, a experiência, o equilíbrio, a equanimidade; a poupança, o acúmulo e a utilização consciente e equilibrada de energia.

 A fé virá no futuro, sim, mas fé no sentido de confiança e segurança interior, fruto da experiência, do estudo atento, racional, da comprovação direta. A fé também como uma forma de esperança é uma alavanca poderosa, mas precisa ser bem usada para alcançar objetivos e não para dar crédito a ideias sem lógica e sem comprovação. A fé jamais deveria ser dirigida para se contentar com respostas prontas, dogmas, palavras sagradas, nem para visar crenças infundadas, sem base na experiência. Seria construir a própria armadilha e se aprisionar nela, construir uma muralha de ilusões, falsas certezas.

Ambas as formas, a fórmula da emoção e a da fé, não conduzem à experiência, não levam ao desenvolvimento das faculdades e potenciais ocultos de espiritualidade. Elas produzem apenas para alguns, que estão num nível baixo de espiritualidade, certo desenvolvimento que chega a um ponto estanque de onde ele não mais consegue se desenvolver, só permanecer a custa de constante renovação e investimento de energia ou decair por negligência. Por isso que as religiões baseadas na fé ou na emoção não chegam a um grau de visão, e jamais a uma visão pura, e terminam desviando o desenvolvimento para o campo materialista.

Também essas formas de cultivo inconsciente e inconsequente constituem um grande dispêndio de energia, são desgastantes e deprimentes; levam a pessoa a resignar-se à cegueira e ao sofrimento; leva ao conformismo, à letargia moral, à negligência, à aceitação da injustiça e da desordem espiritual, mental e social. Levam a uma oposição ao mundo, ao universo, ao resto da humanidade, aos animais e enfim, à natureza; em vez de levar a uma união benéfica e harmoniosa que contemple a tudo e a todos.

De onde vem a nossa corrente, é uma questão que até certo ponto pode afligir a mente do estudante, até sentir ou perceber que de fato está envolvido e protegido por um campo de força maravilhoso, uma corrente benévola de amor, paz e consciência. Este campo não é nosso sentido de que nós o possuamos ou o tenhamos criado. Ele é formado pelas mentes iluminadas de todos os tempos e pelas energias benéficas dos que andam e buscam nessa direção.

Nós dizemos que seguimos o Sol no seu trajeto, isto é, seguimos a luz até nos tornarmos unos com ela. Buscamos a Luz, a consciência, o conhecimento direto, e por fim a iluminação. Nossa corrente vem da ligação que todo adepto e ou iniciado realiza ao decidir-se com firme vontade a dedicar-se ao desenvolvimento espiritual e à visão clara. Ela está acima da humanidade há milênios, disponível a todo aquele que se enobreça ou se esforce para entrar em sintonia com ela. Alguns dizem que há uma única corrente para todos os iniciados de todas as escolas, ordens, religiões, fraternidades, uma corrente universal. Outros que há um anjo ou uma divindade que nos liga a uma corrente correspondente a nossa missão aqui. Entre esses dois pontos de vista podem haver vários. Mas o fato é que a corrente está aqui a nossa disposição e nós não somos os primeiros, nem o curto tempo que temos de vida ou de existência nesse planeta poderia sondar a ancestralidade original de cada raio de luz. O que podemos falar é da fonte única, Una, absoluta, incondicionada.

O que faz o ser é o querer, é sua vontade, só a vontade distingue um ser de outro, os outros elementos são compartilhados e cambiados com o ambiente e com os outros seres. É preciso ter uma vontade pura, consciente, é a vontade que ligará o ser a uma corrente mental, pois é através daquilo que ele deseja ser, daquilo que ele aspira para si mesmo que é medido seu “comprimento de onda”, quer dizer: “o que ele quer, é isso que se tornará”. Ou seja, sua vontade é o principal determinante de suas sintonias mentais, de quais canais entrará em sintonia e receberá informação. Se formos sinceros conosco, se nos dedicarmos, se procurarmos encontramos. A iniciação é um abrir de porta. Nós nos ligamos à fonte através de nossa busca, pela fonte original, pelo tesouro oculto, pela libertação das ilusões e da ignorância... pela verdade que está aqui e agora dentro de nós.

Sintonia significa junto (sin) tom ou nota (tonia), e notas juntas formam harmonia, notas separadas não existem, toda nota ressoa e toda nota está imersa no meio de muitas outras que também ressoam. As notas que combinam se harmonizam entre si, podem formar músicas. É a lei da natureza, não tem mistério nem mágica nisso. Quer queira quer não sintonizamos com algumas correntes. O melhor é fazê-lo conscientemente e com uma corrente que nos enobreça, que nos eleve moralmente e espiritualmente e que abra nossos olhos, que nos liberte da ignorância e da sujeição ao sofrimento nos quais estamos inebriados e imersos agora.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Ecologia Eletrônica

Por Antonio F. Gonzaga



Como um computador ou uma televisão que projetam sucessões de quadros de luzes em sua tela, o que dá a impressão de conteúdo e movimento, das funções ou programas, dos arquivos e imagens, assim somos nós, o corpo e o mundo dos sentidos, os pensamentos e todo o universo mental, as imagens produzidas. Mas o aparelho completo é muito diferente mais e muito diferente do que se vê na tela.

                O universo é o aparelho completo, mas não o universo que vemos, que conhecemos ou que imaginamos; não dessa forma. Nós não vemos as coisas como são de fato. Nós vemos as coisas como entes separados, independentes, da maneira como vemos estas letras escritas na tela, como elas foram colocadas na tela uma a uma.

                Só que a realidade não é a da tela, nem sequer a do computador. Acho que agora você começou a intuir algo do que eu estou falando. Na verdade quando vemos as letras como entes separados não lemos as palavras, quando vemos as palavras como entes separados não vemos as frases; quando vemos as frases somente, sem conexão não vemos as ideias.

                A realidade por trás das letras, da tela, do aparelho de computador, das mãos escrevendo, dos olhos lendo... são as ideias. Que as ideias mentais estão por trás, das letras, das telas, das imagens, dos aparelhos, é fácil de entender. Mas entender que elas também estão por trás das mãos, do corpo, do mundo, do universo, da natureza e de toda realidade que vivemos pode ser mais difícil. A natureza mãe de tudo isso é bem maior do que tudo que podemos perceber e muito maior, muito além e muito diferente do que podemos imaginar.

Você usa o computador, mas sabe como ele funciona? Sabe como guarda as imagens, as letras os arquivos, os programas? Você não sabe como o cérebro guarda a mente. Você realmente pensa que o cérebro guarda ou produz a mente? Como poderia provar isso? Como poderia ser isso?

                A realidade é justamente o contrário. A mente guarda o cérebro, o corpo, o mundo e tudo: tudo que possa ser percebido só será percebido na mente, jamais fora dela. Mas não é apenas a mente como você conhece agora. A mente como você vê são apenas as imagens e as letras. Você não vê o aparelho o corpo, as mãos os olhos, o universo, as ideias, a natureza, a mente toda e tudo que há nela. Você vê de forma ilusória e separatista, no máximo conecta as palavras, mas sequer vê as ideias, isto é, sequer vê a mente por inteira como ela é na realidade. Então pensa que as letras ou palavras ou frases são seres separados, à parte, com uma identidade própria e separada.

                Entende o absurdo dessa visão? Bem assim é ver os seres, as mentes, o mundo, as ideias, o universo, o conhecimento, todo o conhecido e tudo que se pode conhecer, como seres separados, à parte e independentes.