Por Frater D.R.A.A.
Na iluminação não há dualidade.
Tudo é um. O universo, em certo sentido que podemos testemunhar, é a consciência
do universo. O fluxo de consciência (erradamente tido como pessoa ou alma ou eu
ou espírito, etc.) que atinge a iluminação tem acesso, segundo sua vontade, ao
todo e todas as consciências, atingindo assim o grau máximo de despertar, ou
seja, de iluminação; isto que é chamado a Grande União. Este fluxo não pode
regredir, nem se perde nem deixa de existir nem continua uma existência; seriam
categorizações erradas pensar assim. Ele contém todo o universo e todas as
consciências, ou seja, todos os fluxos, inclusive o "seu" próprio
passado, não perdendo assim sua "individualidade" nem podendo ser considerado
mais uma individualidade de forma alguma.
Mas o universo, em seu eterno
retorno, um dia repetirá tal ser passado que terá naturalmente uma falsa
percepção de um eu e um fluxo de consciência tal qual o deste que se tornou iluminado
(porém sem sabê-lo ainda). Esse é o ser dito "emanado", renascido ou "reencarnado",
e o fluxo já iluminado é o que se chama Anjo Guardião ou Pai Interno ou Adi-buddha ou Buddha-dhatu ou natureza de Buda ou Tathāgatagarbha ou Christo interno; é a
testemunha consciente do Adi-buddha dentro do ser, a porta de acesso a
realidade última ou nirvânica ao Dhammakaya, ao incondicionado ou o Uno ou o
Tal.
O vajrayana
trás a ideia de que além do buda histórico e do buda interno há o buda
primordial, aquele que sempre existiu, que é o que mais se assemelha a ideia de
um deus absoluto ou não nascido ou como Rá, autogerado. Mas isto sem a ideia de
criação, porém imanência. Se juntarmos a ideia de eterno retorno de Nietzsche e
a de que “todos já somos budas apenas que somos inconscientes disso” do zen e
do vajrayana e a ideia de um buda primordial eterno também do vajrayana temos que: já que na eternidade
todas as possibilidades já se realizaram, devemos ter nos tornado budas já, então
temos todos um buda pessoal "interno" que obviamente comunga com todos e com o
primordial; estaríamos aqui simplesmente pela repetição eterna dessa
possibilidade até toda vez reencontrarmos o buda em nós, ou seja, vermos por nós
mesmo a realidade do ponto de vista do buda, desperto. Aqui o caminho do bodisatva, aquele que faz o voto de salvar todos os seres, mas sabe que não há um "eu" salvador nem "eles" para serem salvos, faz pleno sentido.