Em
alguns outros artigos já foram expostos explicita ou implicitamente os tipos de
iniciação científica da ordem, seus graus e níveis. Os níveis por vezes são
chamados de etapas do caminho ou da escalada. E os graus são suas subdivisões.
Mas não é demais recordar resumidamente e organizar esquematicamente, em
relação às outras iniciações, alguma descrição desses.
As
iniciações científicas e práticas se confundem, dificilmente poderíamos
separá-las. As iniciações práticas discutidas anteriormente constituem parte dos
graus de formação. Desse modo, os primeiros graus que constituem a graduação
prática, do mesmo modo constituem a graduação acadêmica ou científica, e assim
por diante. A diferença é que numa temos uma graduação acadêmica de
conhecimentos e experimentos científicos e na outra, paralelamente cursada,
temos uma graduação prática individual que vai desde práticas exotéricas até
outras mais ocultas.
Agora explicarei
a subdivisão dos graus 1, 2, e 3 nos graus I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX,
X e XI.
De agora em diante na graduação
iniciática ritualística os graus 1,2, e 3 são chamados câmaras eles são o que
costumamos chamar de etapas. A primeira câmara (1ºgrau) é chamada de torre do xadrez,
a segunda de cavaleiro e ou bispo e a terceira de rei ou rainha em exercício
(em preparação, estágio, treinamento) e se ela alcança o grau X e ou XI é rei
ou rainha consumado. Os outros (I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX ) podem
ser chamados subgraus são nominados de acordo com suas características. Nela
primeiro a pessoa é iniciada na ciência, alquimia, na segunda etapa ela é
introduzida nos mistérios, na religião, e por último no esotérico, na yoga, no
tantra ou realização profunda.
Na graduação prática os graus 1,
2 e 3 são chamados de níveis ou simplesmente graus, mas também são chamados
pelos nomes da graduação acadêmica, como foi nominado anteriormente: graduação,
pós-graduação e doutorado respectivamente. Estes também podem ser chamados
pelos nomes das iniciações ritualísticas (1ºgrau, torre do xadrez, 2ºgrau,
cavaleiro e ou bispo e 3º grau, rei ou rainha em exercício; e se ela alcança o
grau X e ou XI é rei ou rainha consumado). Já a subdivisão destes é chamada de graus
práticos ou degraus ou platôs da experiência, quando todas as práticas alcançam
realização plena de acordo com o nível. Neste caso os níveis coincidem com
platôs de experiência e penetração. A primeira etapa como explicado em outros
artigos é cientifica, a segunda é religiosa (ou filosófica como preferem
alguns) e a terceira é tântrica, ou seja, religiosa de fato, yóguica de fato. A
primeira etapa é de conhecimento, a segunda de contato e a terceira de união, a
quarta pode acontecer sendo então nesse caso chamada de etapa de realização.
Na graduação científica ou acadêmica, que é a que vamos
abordar agora, não existem os graus, este são chamados de níveis, como foi dito
acima: graduação, pós-graduação e doutorado. E neles existem os subgraus de
formação: três ou quatro na graduação, três na pós-graduação e três no
doutorado que são chamados simplesmente de graus ou séries. Assim temos a
graduação com graus I, II, III podendo ter mais um IVº; a pós-graduação com os
graus I, II, e III; e do mesmo modo o doutorado. Mas podemos utilizar a ideia
de graus já que eles são cursados paralelamente. Então os podemos também chamá-los
de graus e subgraus respectivamente. Nela não temos graus de consumação de
fato, a consumação é a culminação no grão IX, com a consecução do doutorado. Se
houver atingimento dos graus de consumação nas outras vias de graduação ela
simplesmente é chamada de rei ou rainha consumado tendo ou não concluído o doutorado.
Sendo que o ideal de um bodhisattva é continuar estudando praticando e
pesquisando para melhor guiar os seres.
Seguem abaixo alguns trechos de
artigos anteriores revisados que aclaram mais um pouco a questão das etapas da
escalada em sua relação direta com a formação por um lado, e, por outro com a
realização prática.
AS TRÊS ETAPAS DA ESCALADA
A nossa
primeira jornada é marcada predominância do adquirir, do obter. Aqui estão os
primeiros passos e a base, a parte mais importante, pois sem a base,
construções em níveis superiores são muito perigosas e desabam rápido. Aqui vem
o conhecimento em grande volume de informações e até uma tempestade às vezes;
até que o aluno esteja cheio e perceba que o importante são as relações que
constrói entre os conhecimentos, os insights, e o que faz com eles. É o jardim
de infância. Onde aproveitamos os impulsos da natureza pelo prazer pelo novo,
pelo conhecimento e pela segurança (o familiar, o estar em casa) e dirigimos
essas forças em proveito da libertação. O noviço dedicará mais tempo e energia
para adquirir principalmente aquilo que não tem, mas acha que tem, a saber:
consciência, vontade e amor. Junto com isso técnicas, meios, exercícios,
metodologias, para realizar as tarefas que ainda não é capaz ou não sabe, é o
começo da sabedoria e do autoconhecimento, rumo à autolibertação.
O estudante
não reconheceu de fato o inimigo no ego ainda; mas uma parte dele aprenderá a
querer libertar-se de “si mesmo”, do falso ego e de suas projeções e limitações.
Vamos adquirir conhecimentos e experiências que mudarão nossa maneira de ver,
aproximando-nos cada vez mais de ver as coisas como realmente são. Ainda o
sujeito pode não ter percebido a unidade (ainda que já tenha percebido a
interconectividade) entre o “mim” e o outro, entre “eu” e o mundo, entre o
mundo interior e exterior, nessa fase, mas esses conhecimentos e experiências
podem levá-lo ao “pulo do gato”, ver isso, que a realidade brota, flui como uma
coisa só e que a separação é arbitrária, enganosa. Pode durar de três meses a
um ano graças ao método, por nosso lado, e o esforço, pelo lado do aluno.
A segunda
jornada é marcada pela predominância do abandonar. Aqui já o aspirante
reconhece o inimigo no ego ou em partes dele pelo menos, já vai abandonar
aquilo que causa o sofrimento sem sofrer com isso e logo estar forte para
abandonar também os obstáculos que impedem a visão do real. Os conhecimentos
são mais e mais aplicados e surgirão os insights que orientarão o melhor
caminho e a visão do estudante. Já não deve haver mais divisão entre eu e o mundo,
entre o “mim” e o cosmo, no nível da compreensão, portanto, ele abandona não os
instintos, mas o exagero dos mesmos, no que se refere à (1) autopreservação
(sempre desconfiado, hostil, agressivo ou desnecessariamente violento) e (2) reprodução
(sempre buscando relações sexuais e sinais reprodutivos que interpreta como
beleza, atração, gostosura, sensualidade, paixão ou mesmo amor, etc.) que sugam
seu tempo e sua energia. Abandona também atividades prejudiciais e inúteis que
se impulsionam pela busca cega do prazer, e emprega seu tempo mais no caminho,
na meditação, na concentração, abandona a distração, dispersão, desperdício de
si mesmo. A experiência deve ser cada vez mais profunda e expansiva até a
compreensão e quiçá a experiência de que ele, de fato, é uno com todo o
universo e com tudo e que seu corpo mortal e sua mente humana limitada são
apenas uma parte ínfima e efêmera de um fenômeno muito maior ao qual se
conectará e do qual participará mais conscientemente. Pode levar de um a cinco
anos (ou mais), mas pelos métodos sempre bem direcionados sendo bem aplicados
estimo que em três anos qualquer pessoa de inteligência mediana alcance tal
estágio num nível de treinamento e leve ao nível de domínio e maestria na
próxima etapa.
A terceira jornada
é marcada pela predominância da união. É a Yoga, no sentido da palavra. É a
verdadeira religião, onde as distinções falsas e discriminações errôneas foram
reconhecidas e a abandonadas. O abandonar e adquirir também caminham juntos de
modo equânime. O trabalho com as energias sutis pode ser desenvolvido assim como
as percepções sutis, o autoconhecimento é o conhecimento também de todo o
universo. Micro e macro cosmos são reconhecidos não apenas como similares, mas
como um só. Pouco se pode descreve desse desenvolvimento, mas pode-se usar a
imagem da onda que se reconhece como sendo na verdade o oceano. Sendo ‘onda’
uma manifestação passageira e limitada desapega-se do erro e ao dissolver no
mar não se esquece de si mais, mas sente-se completa, todos os oceanos e todas
as ondas podem ser agora por ela conhecidas e sentidas como sua própria
realidade. Nesta fase se dá gradativamente o entendimento e a percepção do
fluir simultâneo do presente em relação a toda onda causal atrás de si. Assim
começa a perceber a complementaridade de tudo, nos três tempos, e da plenitude
do presente; a forma e as sensações como consequências da consciência e das
intenções, portanto a inseparabilidade entre conhecedor, conhecimento e
conhecido, e quiçá chegar ao controle das faculdades cognitivas direcionando
sua mente sem obstáculos livremente para qualquer que seja o objeto de
conhecimento. Nesse processo a diferença entre ser iluminado ou ainda não ser é
apenas com relação a conseguir penetrar e dirigir a consciência aos objetos
corretos que serão também aprendidos nesta etapa.
Estas etapas
podem ou não ocorrer paralelamente com o processo iniciático, tudo depende do
esforço, do talento e da dedicação de cada um assim como também do bom karma do
candidato e do seu instrutor (e da purificação do karma através do trabalho
também). As ações meritórias são sempre recomendadas, pois nosso karma negativo
de muitas vidas é sempre um grande obstáculo à Grande Obra. E embora hajam
instrutores habilidosos em várias tradições e alguns com poderes telepáticos
fantásticos, nada disso garante o sucesso do estudante se este não quiser e não
se dedicar os suficiente. Além do mais, o universo todo pode ser conhecido
antes que o coração do próximo venha a ser conhecido. O mistério mais profundo
é o outro. O maior engano do mundo é pensar que conhece bem alguém...
A primeira
etapa é a aquisição do conhecimento, a segunda a eliminação do prejudicial e a terceira
o equilíbrio e a união. A primeira de estudo, a segunda de purificação e só
então poder. Pois poder sem sabedoria e com impurezas é a fonte de todo erro de
todas as ordens, escolas e religiões. Quando a religião causa desgraça é por
que em algum momento houve poder em mãos despreparadas e impuras e ou de
ignorantes.
Por isso em
nossa primeira escalada predomina o crescimento da consciência, na segunda e
com a continuidade dele surge a vontade que tem a força do domínio e da cura,
no terceiro então com o crescimento da consciência incrementado pela eliminação
dos obstáculos com a força da vontade essa se volta para a união natural das polaridades,
então surge o verdadeiro amor, o amor universal, representado pela união ou
como se diz “a volta ao lar” (sendo que na segunda etapa o amor no sentido
religioso é a mola de força propulsora da vontade e a vontade na terceira etapa
é já o poder que realizará a união, ou seja, a culminação amorosa). Com a
consciência e o conhecimento se estará pronto para compreender cientificamente
os aspectos éticos que culminarão na compreensão da realidade última, una, onde
se vê claramente que toda ação se faz a si mesmo, que tudo são aspectos do
todo, diferenciados por uma visão contaminada, parcial, obstruída. Como dar
poder a quem nem sequer consegue vislumbrar isso? Seria um desastre para o calouro
e para a ordem, esse erro será corrigido nos mínimos detalhes. A primeira
jornada é experimental, a segunda é filosófica e a terceira é yogi, é a
verdadeira religião, a reunião, só que consciente, iluminada, com a totalidade,
a realidade pura e plena.