terça-feira, 1 de maio de 2012

Os “segredos” do grau 0 (atualizado)

Os grau 0 






O primeiro grau é o 0. Não quer dizer que se é nada, apesar de que, para a maioria, deve significar que antes se vivia para nada. Significa na verdade aprendiz e a atitude de receptividade, de mente aberta, de vigilância e atenção plena que o aprendiz deve ter, humildade, reconhecimento do que não conhece realmente, de fato, não sabe: não testemunhou o que lhe é ensinado.

“Segredo”, aqui entre aspas, foi escrito porque não há segredo, o segredo não é segredo, é segredo é que não há segredo; o segredo é que a palavra segredo significa método, sem o qual, aquele que não sabe, não aplica e, portanto, não atinge o que deve ser atingido. O segredo desse grau é estudo, assiduidade, orientação, treinamento, nada de oculto, nada misterioso. O que será exposto nesse tópico é apenas uma breve apresentação que ajuda a compreender. A explicação detalhada está disponível apenas nos livros da ordem, pois ela deve ser acompanhada de orientação para a vivência necessária para o real entendimento. O entendimento intelectual é fundamental, mas não basta. Desse ângulo o segredo é uma conjunção de fatores que tende a uma experiência e a uma compressão, que leva a testemunhar os fatos estudados, à verdade.

Um livro bem explicado ou um livro todo velado são ambos perigosos pelos frutos, como vimos ao longo da história. Mas o velado, o simbólico, é sempre bem mais perigoso. Alguém pode levar um livro a extremos interpretativos, transformá-lo em fonte de religiões, regras, filosofias ou ser pensado ao ponto de se transformar em disciplina acadêmica, e que em uma ou outra dessas interpretações, estando erradas, levar a extremismos e erros, contrários aos propósitos originais, ações prejudiciais, violentas, até tudo em contrario daquilo que se queria transmitir. Há maus livros sendo interpretados como boas mensagens e bons livros interpretados para o mal; quanto mais sua linguagem for cifrada, oculta, misteriosa, mais provável se torna que esses erros ocorram. Por isso existem tantas escolas de cegos guiando cegos, uns fingindo ver algo que os outros não vêem e outros se deixando guiar por essa luz falsa, por isso evitam a clareza e fazem as coisas ocultamente e em ambientes controlados, por isso são ocultistas. Estes meios estragam o ensinamento no que mais importa, seu fruto. Assim se torna apenas informativo, estético ou no máximo moral, longe do objetivo. Alguns textos e ditos mestres são mesmo irresponsáveis ou maléficos, incitam até o ser humano ao ódio, mas a grande maioria teatraliza uma mansidão que não existe e fala de amor e do bem para com a humanidade. 

Nossa mente é muito mais rápida do que pensamos que ela seja, quando pensamos uma frase as palavras são sobrepostas não sequenciadas no tempo, como quando falamos, por isso a mente é muito mais rápida que a fala. Podemos usar essa capacidade a nosso favor em vez de raciocinarmos em termos de linguagem discursiva que é a máxima limitação do processo lógico, e para além ou abaixo disso já está a não-lógica, já é o desleixo, a distração. Assim, outra coisa que o 0 simboliza é o todo abrangente receptivo. Treinar nossa mente em ser focada e também para ser abrangente, também isso aprenderemos, não que faça dos objetivos desenvolvermos nossa mente, mas por uma necessidade de utilizá-la corretamente, como instrumento para o conhecimento e ações necessárias. Como ela se encontra no momento que o estudante chega à escola, deixada por anos aos condicionamentos aleatórios da vida, sua capacidade de percepção e conhecimento direto é muitíssimo baixa, e ela ainda é inconscientemente seletiva, de acordo com tais conhecimentos, e muitas vezes bloqueios mentais, tudo isso que impede que veja e compreenda com clareza. 

Assim o 0 simboliza um estado de iniciante, interessado, começando; espaço para o aprender, simboliza o espaço mental receptivo, limpo, a mente aberta como um espelho que reflete perfeitamente  a imagem recebida, a mente que apreende com perfeição. Ela tem capacidade para isso. Ela pode até ser oniabrangente quando desperta. Porém esta não é uma capacidade sua, é a consciência que desperta. Só a consciência pode de fato conhecer, só a consciência pode ter ciência, só a consciência pode ter consciência. A consciência não é uma parte da mente como se pensa, muito menos uma capacidade sua, ela é a testemunha de tudo, é a única coisa que legitimamente pode dizer "eu sou" em nós. E a única que poderia dizer com razão "eu sei", "eu conheço". A consciência é o conhecedor em nós. A mente é apenas um instrumento, um sentido, assim como o olho é o instrumento de captação de imagens para a mente, a mente é o instrumento de captação das impressões e conscientizados para a consciência.

Ela pode conter até conter o todo presente, e quando está nesse estado podemos dirigir nossa atenção para algum ponto desse todo, àquilo que precisamos saber, que precisamos ver. Como alguém que entra numa sala e vê vários conhecidos, tem consciência que está ali Fulano e Beltrano, e ali Sicrano, embora não tenha consciência de todos os detalhes de seus corpos ainda e de suas vestimentas e acessórios, ele pode dirigir sua atenção assim “eu preciso saber o que Fulano está trazendo e como está usando”, então ele dirige sua atenção a Fulano e o vê usando um relógio e um tablet e acessando o blog, e como faz isso escrevendo o endereço na caixa de diálogo, então ele vê que Fulano apertar o enter e assim por diante. A atenção é a ferramenta que usamos para dirigir a consciência ao que queremos e ou precisamos conhecer, ver, presenciar, experienciar, etc..