quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O PRINCÍPIO DA MULTIPLICIDADE [DA UNIDADE]



Na nossa casa você não precisa de mais nada
Você não precisa de ninguém
Você só precisa de você
Você só precisa descobrir você

Então verá que você não existe
Que não existe ninguém
Que não existe nada
Então verá que tudo é você mesmo

Para o não iluminado há “o mundo e eu”
Para ele há Buda e Nirvana, e o Samsara
Mas para o iluminado “eu”, “o mundo”, “Buda”, “Nibbana” e “Samsara”
São uma coisa só

Eu, Buda, Nibbana e Samsara: tudo um

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Resumo das ideias básicas do sistema


Por Fra. I.L.I.V.

1.    A consciência em si é vazia como um espelho, porém luminosa. Aqueles que não meditam não veem sua luminosidade própria, ao buscar observar a consciência não a veem de fato, mas aos objetos que estão nela, como se veem imagens refletidas num espelho. O pesquisador treinado, ao observar constantemente a ponto de já enxergar ou mesmo produzir momentos de pura consciência vazia, vê, ainda que de forma imprecisa e incompleta, apenas esse vazio e, só às vezes, essa luminosidade que para uns no início chega até a parecer simplesmente a ausência de tudo e para outros o oposto, a completude. Esta é a consciência por trás de todos os fenômenos, que contem todas as coisas e fenômenos, que comtempla todas as ideias e relações da mente. Embora ela pareça pessoal, própria, isolada, isto é apenas um engano provocado pela nossa identificação com os objetos da consciência. Quando o meditador larga esse apego ou essa identificação errônea ou pelo menos quando se identifica com a consciência em si ele percebe por si mesmo esse engano. Deixando de lado essa forma de pensar ou de ver ou esse engano ele percebe que ela em si, ou seja, fora os objetos em seu fluxo, é vazia e luminosa, aberta ao que puder surgir e não uma coisa ou um fenômeno só mas uma sucessão de consciências conscientizadas, ou seja um fluxo de ínfimos instantes de consciência sustentadas conscientes pela vontade motivada pela afeição. Como um espelho refletirá o que for possível de estar em frente a ele e seja suscetível à luz. Portanto ela é a mesma em todo e cada ser vivo, o que muda de um ser para outro é o que aparece nela, as experiências, os “conteúdos” (melhor dito, o fluxo dos conscientizados pela consciência e não o fluxo mesmo da consciência). Entretanto nos seres essa vontade e essa afeição podem ser dispersadas em objetos e fenômenos e distorcidas pelo prisma dos objetos escolhidos e fenômenos de afeição.

Isso nos leva a algumas consequências importantes. A mais importante delas é a de que a diferença entre os seres é justamente aquilo que é mortal, transitório, transformável. E justamente essas coisas, por tomar um ponto de vista equivocado, são as quais se apega (uma distorção cega ou doentia da afeição original) e por isso sofre. No topo dessas coisas está a própria abrangência da consciência quanto aos conscientizados, a intencionalidade e o afeto. Cada ser tem sua história, suas experiências, e as únicas coisas que são unicamente suas são suas ações desencadeadas por essas três elementos combinados, a consciência em seu fluxo e relações, ou seja, o que e como ‘percebe’; o afeto em sua seleção daquilo que lhe toca, de como lhe toca, de como se sente em relação a; e a intencionalidade da consciência que fica geralmente oculta, por sua rapidez, do crivo da consciência mesma distraída pelos objetos e fenômenos, sendo apenas vislumbrada a posteriori como reação ao conscientizado e sentido, ou às vezes como impulso, instinto ou necessidade.

Mas para o meditador experiente acostumado a perceber que a intencionalidade é simultânea à consciência, há (1) uma liberdade da consciência da prisão do condicionado, do mundo fenomênico (antes tido com existente por si mesmo), de suas impressões e afeições condicionadas (sentimentos, sensações, feelings) e, portanto, uma visão mais clara e lucida, desobstruída de tais distorções; e quiçá o acesso as condições originais. Pode haver também assim (2) uma libertação em relação ao experimentado antes como fato fixo inalterável e existente por si mesmo (fosse fenômeno, coisa e seu fluxo). Ele pode alterar as impressões, a consciência ou mesmo o que antes tinha como objeto e ou fenômeno. No primeiro desses processos se baseia o processo do despertar, do conhecer e do ver por si mesmo. No segundo se baseia a transformação de si mesmo, da vida e do karma do praticante. Ambos os processos (1 e 2) são acelerados pela atenção constante e quando dirigidos para uma purificação mental (desobstrução das condições originais). A purificação mental e a lucidez consciente, por outro lado, são acelerados num crescente retroalimentando com os dois processos.