domingo, 27 de setembro de 2020

AS CIÊNCIAS ANTIGAS NA PRÁTICA - parte 6

Depois de ter se tornado prático nos passos anteriores, aí sim, você pode começar a ter um tempo de prática mais intensivo. É só escolher um tempo e um lugar e contemplar da mesma maneira que nas situações do dia a dia, só que completamente dedicado a isso, a observar do ponto de vista correto, do ponto de vista da consciência. Isto já é todo o processo, já está "meditando", ou seja, fazendo a parte prática da concentração, o resto, o aprofundamento e permanência da concentração mesma, são resultados. Os objetos de concentração podem variar conforme o que se quer treinar ou penetrar, isto é, conhecer profundamente.

Essa é a primeira prática da qual todas dependem, em seus dois aspectos, do viver prático diário de instante a instante e do treinamento intensivo ou prática formal. Tudo que se aprende fora desse estado está muito mais sujeito a ilusões, projeções, enganos... É como sonhos turvos... Mas quando estiver nesse estado de desperto, acordado, vai perceber que está de fato vivo, existindo, que antes esteve sempre sonhando, dormindo, a não ser por alguns poucos segundos que ocorrem espontaneamente às vezes. 

Todas as escolas, filosofias, religiões e ordens verdadeiras têm essa prática. Até os maléficos a praticam, pois sabem que o resultado de outras práticas depende da habilidade nesta. 

Yeshua nunca disse orai e vigiai, mas sempre vigiai e orai: pois uma oração distraida, desatenta, desacordada não passa de reza automática, um ato mecânico. Espero que você pratique. Espero que esteja sempre retornando a este estado despertando cada vez em nível mais elevado e completo.

Você pode usar também alguns dispositivos para evitar a mecânica dos condicionamentos e a queda no estado de distração, devaneio, sono e topor. Vou citar alguns exemplos. 

Você pode, sempre que notar que está  em distração ou desatenção, perguntar sinceramente para si: "eu estou consciente agora?" "Estou atento agora?" "Estou presente aqui agora?" (Não deixe a mente responder mecanicamente, procure investigar atentamente seu estado anterior, o atual, e volte à atenção presente). Obviamente que a primeira pergunta é a melhor. Mas cada caso é um caso. Pode usar as três até e repetir... vai ajudar a consciência a se destacar dos obstáculos com que se envolve (essa "grudar" ou "apagar" da consciência no objeto se chama "identificação", é o que atrai e prende a consciência, se identificar com as coisas, emoções, situações, percepções, o ideal no início é chamado "desidentificação", isto é, a consciência deixar de se identificar com as coisas e fenômenos, com os objetos da consciência, mas com o tempo se deve começar a se dedicar mais à "não-identificação" que é o perceber sem se identificar com o percebido; são processos pelos quais se deverá também apenas passar, mais recomendado para os já com tempo de trabalho nisso tudo). 

Outra maneira é concentrar-se nos próprios olhos e em tudo que vê e seus movimentos (esta é fácil para mim, pode não ser para você, a maioria acha mais fácil sempre está voltando a atenção para a respiração ou as batidas do coração). 

Mas o melhor é voltar a atenção para a consciência mesma, ou seja, a consciência mira a si mesma, o que está acontecendo nela e seus conteúdos (pode ser difícil, só é possível para os que distinguiram bem as partes já). Isto para o vivenciar diário.

Mas para a prática formal, a princípio também, é mais fácil ter algo para voltar a atenção sempre. A maioria hoje usa as técnicas orientais de voltar à respiração, por exemplo. Mas muitos não se dão muito bem com atenção voltada a fenômenos corporais, então pode passar direto para os fenômenos mentais. Observa-se assim a mente e os fenômenos mentais (pensamentos, sentimentos, lembranças, desejos, sensações, projetos, etc.), mas consciente de que é a consciência que está observando, não deixar a mente imitar isso (pois além de errado gastará grande esforço). 

Pode-se também ter um objeto ou um desenho pequeno ou um totem (um objeto pequeno que se procura conhecer todos os detalhes e memorizá-los), uns gostam de se concentrar num ponto, outros numa chama, ou num pequena lâmpada de led, muitos foram os místicos que usaram com muita eficiência bandejas, bacias, tachos bem polidos, brilhantes. Se concentrar num brilho qualquer como fazemos quando crianças também é muito bom. 

O importante nesse tipo de exercício é que você não vai conseguir ficar muito tempo concentrado então tudo que tem a fazer é estar sempre notando quando houve distração e voltando, paciente e delicadamente, ao objeto.

Por último, um dos meus preferidos, contar. Você pode contar respirações, batidas do coração, pulsações do corpo ou de um metrônomo, contas de um colar, combinar respirações e contas de um colar... 

Em todos esses exercícios muda-se o objeto, mas o procedimento é o mesmo. Exceto naquele em que o objeto é a mente ou a própria consciência. Neste caso ja não estaremos apenas fazendo um treinamento de concentração, estaremos fazendo o mesmo que deveríamos vivenciar a todo instante, a consciência dos processos mentais e da consciência. Um verdadeiro intensivo complero. Então quando ocorrer a distração o procedimento é o mesmo, volta-se ao objeto de concentração. 

Mas como permanecer nessa concentração é que não é tão simples como com os outros objetos. Então para isso é preciso que esteja familiarizado com os processos automáticos da mente, e para isso ocorra deve ser a primeira coisa que vai observar, ou seja, vai deixar de se identificar com a mente como se ela fosse completamente sua (o que de fato não é, se fosse você controlaria plenamente) e vai observá-la com a consciência, plentamente atento e plenamente consciente e deixá-la agir (ela vai agir como sempre age, tudo que tem a fazer é observar isso, não julgar, não condenar, não reprimir, não interferir, não reagir, não seguir (isto tudo a princípio, pois ainda está começandoa conhecê-la). E quando se distrair é porque se identificou com seus processos, então você sai deles e os olha, os vê fluir, ou seja, tudo que tem a fazer nesse começo é vê-los sem se identificar com eles, observá-los, vê-los surgir, crescer, parar, diminuir e sumir ou ser substituído por outro.

Note também que há um espaço entre eles, é pequno, parece pequeno, observe cada vez mais atentamente esse espaço até o momento em que vai poder observar a mente só, sem nenhum objeto, parecido com o que espero que veja também logo, a consciência pura. 

É como um céu com núvens, a consciência é o céu limpo, mas as núvens da mente e objetos metais vêm, inevitavelmente, é só olhar e notar, "nuvem", e vé-la passar ou se disolver e sumir. Isso vai continuar até o dia em comece a haver céu limpo, cada vez mais, ou seja, as nuvens vão parar por instantes, isto é, os fenômenos mentais vão dar uma pausa e você vai conhecer sua realidade mais intima e a realidade mais essencial so seu ser e de todas as coisas, a consciência pura...

Dopois veremos como ter uma prática mais efetiva se separando antes dos obstáculos. E então poderemos ver o que fazemos com isso, como utilizar essa claridade da consciência para descobrir informações, conhecimentos, verdades; como meditar na leitura, em frases; ou em algo que deseje pesquisar ou descobrir...


frateriliv@gmail.com

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