sábado, 26 de setembro de 2020

As Ciências Antigas na Prática - parte 5

 

Antes de cotinuar tenho que dar uma justificativa a todos que não entendem porque comecemos a diciplina prática pela consciência e até aqueles que são de outras escolas e começam por práticas mais ativas. A questão principal aqui é que a maioria das escolas tradicionais inciam pela parte do conhecimento teórico e é isto que causará uma mudança do estado de consciência no inicio, apesar de muito pequena, mas também se está começando pela consciência, embora indiretamente. 

Casado a isso ou um pouco depois, muitas escolas se dedicam aos processos que envolvem a vontade porque é um fator de grande importância sem o qual não se avança. Nós entendemos que uma vontade robusta ou bem desenvolvida sem consciência bem desenvolvida à altura não é útil, pelo contrário é prejudicial e inclusive é a causa de muitos desvios. 

Os mais religiosos partem do exercício do amor, da caridade, do praticar o bem, da compaixão, esse também é a outra face de um processo cego, pois assim como vamos descobrir que nunca estivemos de fato conscientes antes, vamos descobrir também que nunca tivemos de fato vontade própria, só vontade condicionada, e nunca amamos de fato nada nem ninguém, pois o amor não tem nenhum interesse, nenhuma espera de troca, é incondicional, não depende de reações e resultados nem tampouco espera por esses. Começar por esses processos tem cristalizado auto engano nos estudantes. Enquanto que nas traduções ou escolas que comecam pela consciência isso não acontece e seus efeitos colaterais são muito menos danosos (por exemplo, menos danosos que o auto engano, a arrogância, a mitomania, a avareza, superstições, etc., que podem ocorrer começando peleos outros dois processos). Efeitos colaterais de se iniciar pela consciência são, nos casos graves, ceticismo exagerado, orgulho ou perfeccionismo (convenhamos bem menos perigosos a si e a outros dos que aqueles acima citados).

Em suma, assim como o autodomínio na observação e medição acurada do comportamento de substâncias é uma habiIdade implícita nos requisitos para ser um bom químico, na alquimia psíquica esse pré-requisito tem que ser aprendido e treinado, não podemos simplesmente esperar que as pessoas que venham até nós já tenham essa capacidade de consciência, nem fazer como no passado em que se testava quem já possuía e dispensava quem não possuía, como umas escolas onde simplesmente era vista como uma pessoa que não serve para seguir no processo das ciências do traancendente. 

Hoje todas as escolas verdadeiras (e mesmo as erradas e as maléficas) ensinam em algum momento a expandir e ampliar a consciência, pois reconhecidadmente se chega a um ponto do qual não se ultrapassa sem isto. 

Por outro lado, muitas escolas que comecam pela expansão e despertar da consciência inciam pela chamada meditação formal primeiro já que essa é um treino intensivo para o viver desperto diário. Nós também entendemos que é um intensivo e por isso mesmo também vemos como inconveniente para começar, pois seria pedir que alguém que nunca se exercitou começasse com exercícios pesados, pessoas, longas distâncias, etc.. Mas também entendemos que uma coisa alimenta a outra, a atenção plena diária também é um treino para o momento intensivo, onde se penetra mais intimamente nas camadas mais superiores da consciência. 

Para mim pessoalmente conhecer a verdade ou a realidade diretamente é muito mais eficaz do que um mero conhecimento de si mesmo, ou seja, é preciso ir muito mais além do si mesmo se a pessoa quer saber a verdade. Nas escolas que fazem como nós, sua justificativa, porém, é muito mais delicada que a minha e, espero, mais convincente: não é através de prática, treinos, processos forçados ou o que seja que chegamos ao conhecimento verdadeiro e sim pelo conhecer mesmo, pelo conhecer verdadeiro, portanto, não basta uma mudança de perpectiva, ou potencialização de capacidades, é preciso conhecer o conhecimento certo eficaz. 

Deixe-me expressar melhor por um simile: não é possível conhecer o ambiente fora de uma sala se você premanece dentro dela apenas abrindo uma janela, dessa forma sua visão permanecerá apenas de um lado da casa e ainda assim parcial, só até onde a vista alcança. É preciso abrir a porta da sala e sair andando por todos os lados e distâncias. Estar mais consciente e com uma atenção treinada é como abrir uma porta, mas só o  pesquisar as coisas certas, a verdade, liberta. Ou seja, tem que sair pela porta. Se ficar na sala com a porta aberta olhando as coisas, continua preso, não mudou nada a não ser que alcançou avistar mais um pedaço daquela paisagem, mas não vai fazer parte dela. 

Abrir a janela e a porta é bom. Mas nunca se contente com isso. É preciso ser corajoso e dar o primeiro passo, sair da prisão do condicionado, dessa visão da natureza decadente, ir além.  

Os processos e práticas anteriomente ditos são ferramentas, muitissimo úteis, mas precisam ser usadas para o trabalho certo. No primeiro momento se começa a distinguir as partes (mente, fenômenos mentais, consciência, objetos da consciência, etc.), ver o funcionamento, mas isso não é o centro, o principal é descobrir a verdade e se começa tomando consciência das características da realidade (depois vamos falar sobre quais são), como ela funciona e porque é assim. 

As pessoas não costumam entender que nesse sentido não existe olhar para dentro ou para fora, meditar, nesse sentido não é olhar para fora, nem para dentro! Elas não entendem que enquanto vêem dessa maneira não estão despertando, estão só trocando de ilusão. Estão se separando da realidade, olham assim: aqui estou eu e aqui está a realidade que eu estou conhecendo. Perde-se tudo. Está se colacando fora da realidade. A realidade é uma só, não é separação. Você já experienciou essa realidade?


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