sexta-feira, 11 de setembro de 2020

AS CIÊNCIAS ANTIGAS NA PRÁTICA - parte 3

É preciso nos concentrarmos inicialmente (1) nas práticas (2) que  sejam realizáveis para iniciantes e (3) que produzam resultados efetivos com segurança. Se atenha nesses três princípios se você está começando e você estará mais seguro contra as emboscadas e falsificações. 


Pois, se a prática não for realizável por você de que adiantará? E se ela for realizável, mas não produzir os resultados pelos quais se está praticando, é perda de tempo (e muitos se dedicam a tais tipos de práticas em muitas ordens). Muitos não estão nem treinando, estão perdendo tempo, pensando que estão "meditando". E por último: mesmo que produza resultados, se for por meio arriscado, ou danoso, ou prejudicial (e uns pensam insensatamente que vale a pena), não vai adiantar, porque não progride aos mais elevados estágios de penetração, ao contrário dos meios corretos, afasta dos efeitos e estados sutis cada vez mais e leva a imitações grotescas dos resultados reais, falsificações.  


Se você decide praticar, não vai adiantar sentar numa sala com várias praticantes uma vez por semana por meia ou uma hora ou seja que tempo for, novamente está perdendo tempo. Mesmo que atinja bons sentimentos e alguma paz, isso não é nada comparado ao que você realmente deve atigir; pense nas dores, cãibras e demais incômodos que vai ter, além das lutas internas que não deveria ter! Se você decide que vai praticar, as práticas são uma constante,  elas devem ser feitas diariamente. 


O assunto não é brincadeira, muitos dizem que meditar não tem como ser perigoso, mas o fato é que a depender do que se esteja chamando de "meditar" e do tipo de prática e intensidade, pode ser muito perigoso; para algumas pessoas em especial, algumas práticas podem ser tremendamente perigosas. É muito pessoal e depende muito do tipo de "meditação"...


Há dois tipos bem distintos de grupos de práticas que são chamadas meditativas, as contemplativas e as reflexivas. No geral as primeiras predominavam no oriente, são as práticas de concentração, passivas; enquanto as dos segundo tipo são as analíticas, ativas. Freud descrve bem quando o paciente está numa atitude mental ou noutra, entre as características na primeira ele tem a face relaxada e no segundo há contrações especialmente no entrecenho. Isso ilustra bem o que ocorre em cada tipo quanto ao esforço, físico e mental, atividade ou não. 


Um grande erro de quase todos os iniciantes e da maioria dos tais professores de meditação é o esforço ou ensinar a se esforçar (e alguns ainda dizendo que não é para se esforçar) quando a meditação é do tipo contemplativa. E a confusão e insistência é em relaxamento quando a meditação é do tipo reflexiva. Aliás é bom que se diga, nada tem a ver com relaxamento, se esse ocorre, e muitas vezes ocorre, é como efeito colateral, não como causa ou pré-requisito. 


Existem também elementos em comum entre esses dois tipos de meditação, apesar da diferença, e ambas podem ser feitas numa só sentada (não vamos entrar nesses detalhes ainda). Mas as diferenças em termos de procedimentos e objetivos são muito grandes. Por isso é melhor dizer que as duas se completam em vez de dizer que uma é correta e a outra errada ou que um é melhor ou mais produtiva ou mais nobre que a outra. Existe uma grande ignorância até da maioria dos praticantes sobre como se realiza um ou outro processo. Isso seria impressionante se não fosse mais impressionante o fato de que as pessoas não costumam pesquisar em diversas fontes diferentes e ler em vez de ouvirem o primeiro careca de fala mansa dar suas "instruções milenares" a respeito e sairem dizendo o que é e até mesmo praticando.


Existem inúmeras práticas diferentes e cada suposto mestre ou guru gosta de inventar a sua própria maneira ou várias e às vezes até dar entrevistas para alguns canais onde dirá como "nós" isso ou aquilo, seja do que se chamem, praticamos a milênios, como se fosse assim tão simples. Mas a verdade é que você precisará praticar muitos modos diferentes desses dois tipos que falei até encontrar um meio confortável e efetivo para você. E isso, cada um, por semanas ou meses, só para testar ou se familiarizar com eles. Portanto a meditação formal não tem outra maneira de ser feita senão diariamente, se não quer perder tempo, é claro. 


E não existe reflexão que não precise de concentração, nem concentração que não precise em algum momento de reflexão, de análise. Como você poderia ler um livro e entender o que está escrito sem concentração e reflexão? Do mesmo modo é o que se tem chamado de meditação: você não realiza as etapas do processo nem chega a seu fim se não for treinado nas duas capacidades.


Ha práticas avançadas que só os muito experientes conseguem treinar (não é nem realizar ainda em muitos casos). Algumas podem ser até fatais se feitas por inexperientes. Mas é claro que não se fala muito nisso, nem se divulga essas práticas por isso mesmo...


Como é na prática


Porém, se você sentar todos os dias um tempo e se dedicar plenamente à meditação (o que se chama meditação formal é isso) você ainda não vai conseguir ir muito além de uma luta com sua própria mente ou descobrir que ela é bem mais ativa e independente de você do que jamais teria imaginado.


Para ter sucesso em qualquer tipo de meditação o segredo é que tem que meditar o dia inteiro sem parar. Sim. Isto mesmo. 


Mas é assim: você precisa estar atento, consciente, presente, de instante a instante. Isto é meditar o tempo todo. Mas não pense que é fácil. Também não pense que é dificil. Tudo que tem a fazer é permanecer atento de momento a momento, consciente de tudo, interiormente e exteriormente, mas especialmente ao que se passa nos sentidos, na mente e na consciência. Consciente da mente e dos fenômenos mentais, e finalmente consciente da consciência e de tudo que se passa nela. Quem deve estar consciente? A consciência, ela é o observador. E de que deve estar consciente? De tudo que se passa nela, os objetos da consciência: a mente e os objetos mentais, tudo que passa pelos sentidos e os fenômenos mentais, dentro da mente, imagens, sons e todas as demais sensações, sentimentos, lembranças, pensamentos, desejos, planos, imaginações, posturas, ações, decisões... tudo.


Esta prática não é simplesmente um exercício, ela já é a realização: a plena atenção e a plena consciência. Ela não pode ser treinada, automatizada, porque ela não é feita pela mente, não se condiciona, não se mecaniza (porque é da consciência) pelo contrário, você precisa lembrar a todo instante de permanecer nesse estado, que é chamado vigilância ou atenção plena. Tem que lembar de estar atento. Tanto que alguns estudiosos dessa prática a chamaram de lembrança ou recordacão de si mesmo. Mas não é bem adequado esse nome porque não é exatamente um si mesmo o que é lembrado e sim uma observação constante a ser executada e lembrada, a ação e a vontade de estar atento e consciente. Outros chamam vigilância porque você precisa estar em vigilância constante para não perder a atenção, pois sua mente vai divagar e se distrair, ela tem sua mecanicidade condicionada por longos anos, e você tem que voltar à consciência de novo e de novo. Nós chamamos de despertar ou acordar porque a mente sempre vai voltar ao estado de distração, sono e "sonho acordado", se você não voltar instante a instante à atenção. Você precisa despertar a consciência para que não seja esquecida, levada pelos devaneios, distraída e perdida de seu foco, estar consciente da consciência.


Continua...


frateriliv@gmail.com

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