quinta-feira, 1 de abril de 2021

DE HERMES A TAT: DISCURSO UNIVERSAL Diálogo perdido IIB Título perdido - comentado - parte 2

 10 É no vácuo que os objetos móveis devem ser movidos, oh! Trismegistos? - Contenha a língua, Asclépios. Absolutamente nenhum dos seres são vazios, em razão mesmo de sua realidade: pois um ser não poderá ser alguém, se não estiver repleto de realidade: ora o que é real nunca poderá tornar-se vazio. - Mas não existem certos objetos vazios, oh! Trismegistos, como um jarro, um pote, almofarizes e outros semelhantes? - Oh! Que erro imenso, Asclépios, o que é absolutamente cheio e repleto tome-o por vazio! 
[Aqui mais um princípio que será discutido a seguir, não existe vazio, espaço vazio, vácuo absoluto em lugar nenhum nem em coisa alguma]

11 - Que dizes, oh! Trismegistos! - O ar não é um corpo? - De fato. - Esse corpo não penetra através de todos os seres e não preenche todos pela sua extensão? Todo corpo não é constituído pela mistura dos quatro elementos? Todas essas coisas que dizes vazias, são portanto repletas de ar; se estão repletas de ar, o são também dos quatro corpos elementares e eis-nos diante de teu engano: essas coisas que dizes plenas são vazias de ar, seu espaço se encontra reduzido por outros corpos de modo que não tem mais lugar para receber o ar. Essas coisas então que dizes vazias, devem antes ser chamadas de ocas, não vazias, pois do próprio fato de sua realidade estão cheias de ar e de sopro. 
[O mesmo vale para tudo, o que parece vazio pode estar  cheio de forças, energia eletromagnética, calor, vibração, luz, matéria escura, ou outros. Na ciência hermética toda matéria é formada de quatro elementos, ar, fogo, água e terra, movimento, temperatura, coesão, e solidez, respectivamente. Esses quatro estao presentes em diferentes proporções em qualquer corpo, o ar e o fogo também possuem corpo, no hermetismo, os corpos aéreos e ígneos.]

12 - Esta proposição é irrefutável, oh! Trismegistos. O lugar no qual então se move o universo, que dizemos que ele é? - Um incorpóreo, Asclépios. - Mas o que é incorpóreo? - Um intelecto, que contém inteiramente a si próprio, livre de todo corpo, infalível, impassível, intangível, imutável em sua própria estabilidade, contendo todos os seres e os conservando no ser, do qual são como os raios, o bem, a verdade, o arquétipo do espírito, o arquétipo da alma.
[Observe que ele reconhece que o espaço sideral não é corpóreo como a atmosfera que é cheia de ar, mas incorpóreo, porém não da mesma natureza do movente, afinal não é o espaço entre as esferas que causa o seu movimento como demonstrado anteriormente. Esse incorpóreo é um tipo de intelecto, pois pode conter todos os existentes, ele é "infalível, impassível, intangível, imutável" e ele contém todos os seres e os conserva NO SER, "do qual são como os raios, o bem, a verdade, o arquétipo do espírito, o arquétipo da alma".]
- Mas Deus, então, o que é? - É aquele que não é nenhuma dessas coisas, mas que por outro lado é para essas coisas a causa de sua existência, para tudo e para cada um dos seres. 
[Deus, que necessariamente precisa ser de natureza diferente dos outros existentes (corpos movidos, almas moventes e do incorpóreo no qual tudo se move), como também ficou demonstrado anteriormente, difere também destes por ser o causante e não causado. Deus é a causa dos corpóreos, dos incorpóreos, dos movimentos, das almas e espíritos moventes, da existência e das essências.]

13 Pois ele não deixou lugar algum ao não ser; a todas as coisas que existem vêm e são a partir de coisas que existem, e não a partir de coisas inexistentes: pois não é da natureza das coisas inexistentes vir a ser, mas sua natureza é tal que elas não podem ser qualquer coisa, e em contrapartida as coisas que são não poderão vir a não ser, jamais. 
[Não seria necessário qualquer comentário se não houvessem pessoas que fingem não ver e não entender algo tão óbvio (céticos, ateus, materialistas, por exemplo). É óbvio que se há tudo isso, se há multiplicidade, diversidade, tudo vem do também existente. Tudo que existe vem de outro existente, jamais de algo inexistente, que não existe; e por outro lado, qualquer coisa que exista não pode jamais tornar-se inexistente, é impossível ao que existe ou existiu em algum momento ser inexistente, o existente só pode passar a ser outro existente, é a própria natureza da realidade.]

14 Que queres dizer com "não ser jamais"? - Deus, então, não é intelecto, mas é a causa da existência do intelecto, e não é sopro, mas é a causa da existência do sopro e ele não é luz mas é a causa da existência da luz. 
[Deus não é resultado é causa, e causa primordial, primária, princípio, diferente das coisas, fenômenos ou manifestações causadas, não pode ser percebido, pois foge a natureza das percepções que são terciárias, ou seja, de natureza diferente dos objetos percebidos, mas tambem sendo causadas, no caso, por outros causados, secundários.] 
De modo que é sob esses dois nomes que é preciso adorar a Deus, pois pertencem somente a ele e a nenhum outro.
[Deus (com D maiúsculo e singular) e Bem]
Pois nenhum dos outros seres chamados deuses, nem os humanos, nem os daimons podem em qualquer grau que seja, ser bons, salvo Deus somente. Ele apenas é isto e nenhum outro: todos os outros seres são incapazes de conter a natureza do Bem, pois são corpo e alma e não possuem lugar que possa conter o Bem.
[Mentalidade e materialidade não podem conter o Bem, pois a primeira é caída e a segunda (essa matéria, dessa natureza caída) é consequência da queda. A mente criada, causada por Deus é livre, pois foi criada para liberdade, portanto, suas escolhas não são causadas por Deus, se fossem não seria livre. Portanto mal, queda, materialidade, são causadas secundariamente pelas escolhas da mente em sua liberdade, ou seja, são nossa criação e suas consequências.]

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