sábado, 10 de outubro de 2020

UMA MEDITAÇÃO URGENTE PARA ESSE TEMPO - primeira parte

A Ordem nesse tempo recomenda a leitura e releitura dos capítulos 1 e 2 do Evangelho de João. Este livro é altamente iniciático, a verdadeira iniciação é um novo início, um novo nascimento, algo tem que morrer para algo nascer, e é nesse sentido que João explica claramente a trajetória do iniciado. Uma obra de arte que atravessou milênios, à custa de muito sangue e muitas vidas, que se entregaram, para não negar sua fé, mas também para não entregar aos perseguidores seus livros e irmãos. Agora que a temos com tanta facilidade, poucos ainda lhe dão devida atenção e valor, ou ainda os que compreendem o verdadeiro sentido dessa obra. 

Não há mais tempo nem energia, para quem está ainda ligado a esse mundo e a essa natureza, quase que exclusivamente, para ainda se dedicar a longas cadeias de iniciações sucessivas e longos anos de práticas e treinamentos para pouquíssimo resultado. Se o poder do Altíssimo está sendo oferecido gratuitamente a todos os que verdadeiramente o querem servir e agradar, por que ainda teríamos que buscar, treinar e confiar nos nossos fracos poderes, nossas fracas capacidades e nossas mui limitadas possibilidades? Por que não ir direto à fonte?

No Evangelho de João é descrito de forma magistral o processo de beber dessa fonte, não apenas chegar até ela. O leitor aprenda a ler, a observar, a meditar, a notar, a prestar atenção, a entender, a compreender, a recordar,  a decidir e a viver em si mesmo essa obra maravilhosa.

Vamos aqui estabelecer alguns pontos esclarecedores a serem notados.


O princípio

O primeiro ponto são as definições no capítulo 1, as revelações, quem é o princípio, o que ele fez, o que são o Verbo, a vida, a luz; qual é a ação do verbo; observe todas essas coisas. João está dialogando aqui não apenas com Moisés, mas com toda a filosofia helênica e grega. Ele está explicando o que é o princípio do qual falou Moisés na primeira frase de Gênesis e esta respondendo a toda filosofia grega o que é o Logos, aliás quem é, pois mostra que o Logos, o Verbo, tem consciência, vontade e atividade próprias. Leia lá, especialmente do verssículo 1 ao 5 e do 12 ao 14, o 18...


No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
João 1:1-5


O Logos, palavra grega usada na filosofia para indicar o Princípio gerador, iniciador de tudo; tudo não pode ter surgido do nada... Era discutido entre os filósofos, se este princípio é consciente ou mecânico, se era pessoal ou impessoal, se a criação era intencional ou fruto de alguma lei interna... João responde que o Logos, o princípio, era o Deus já anunciado por Moisés, quando diz Bereshit barah Elohim, "no Princípio criou Deus"; consciente, inteligente, pessoal, com vontade própria. Ele identifica o princípio inicialmente como sendo o próprio Deus e depois diz que tudo foi feito por ele. Se olharmos bem as frases isso nos responderá muitas coisas...

Ele ainda identifica o Verbo como Luz e Vida. A luz criada veio da Luz viva. Vida só pode vir de vida, não de coisas sem vida, nenhuma das coisas não vivas gera a vida, nunca gerou e nunca gerará, vida só vem da vida.

Veja que antes essa vida era a luz dos homens, mas parece que em algum momento deixou de ser. É como Sophia quando olhou para as trevas, ou seja, a sabedoria em trevas não pode compreender, deixa de ser sabedoria. Quem está nas trevas não vê, não compreende...


A testemunha

Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; 

Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.
João 1:12-14


Observe que é dado de graça, mas a todos quantos o receberam. Ele não força a entrada, ele não está presente em quem não o recebe, nem em quem não o quer ou o nega, ao contrário do dizem os pseudo-gnósticos ou gnósticos heréticos e neo-gnósticos, nem todos têm o Cristo dentro, mas todos os que o receberam e somente estes. E a estes é dado o poder de serem feitos filhos de Deus, também um pouco diferente do que diz a maioria dos cristãos modernos, não os fez já filhos, mas deu o poder de se tornarem como falavam os primitivos, a partir disso, de ter recebido esse poder pois foi feito templo de Cristo, do Verbo de Deus, dentro de si mesmo, renascido, no espírito, do Espírito de Deus, pela vontade de Deus. Isto está muito claro. Assim fomos feitos testemunhas. Quem testemunha dentro de nós? A consciência, que é uma propriedade do espírito, que é o espírito. Nossa consciência testemunha nossa mente e o que é recebido nela e através dela. Mas agora recebemos a mente de Cristo e pelo espírito testificamos, nós fomos assim feitos testemunhas vivas, nós estamos vendo agora a verdade que veio habitar entre nós, nos tornamos conscientes de uma nova mentalidade em nós, a mentalidade da Verdade viva...

Logo em seguida ele identifica o Verbo, o criador, como sendo Jesus Cristo. Yeshua, o Salvador, Jesus, é o Verbo a partir do momento em que o Verbo se fez como um de nós e habitou entre nós. E quem é este? A quem está se referindo? A Jesus, o ungido de Deus, ou seja, O Cristo, não Um, mas O Cristo. Não se iluda com mentiras, a palavra Cristo, não se refere a um ser, uma pessoa, um campo de força, nada parecido, a palavra Cristo significa simplesmente ungido, é apenas um título, um adjetivo, Jesus jamais recebeu o Cristo como dizem os luciféricos e satanistas enganadores, ele É o Cristo, o Mashiach, Messias, que significa a mesma coisa, ungido. 

Receber o Cristo e receber Jesus é a mesma coisa, é receber uma pessoa, o Verbo de Deus, a Verdade, a Luz e a Vida, que são uma pessoa, não uma coisa ou uma força ou uma energia, e sim uma pessoa, uma consciência, com uma mente, e uma personalidade. Que vem "habitar" entre nós, traduzindo ao pé da letra "tabernacular", entrar na tenda sagrada simbólica no Antigo Testamento, agora revelado, no acampamento, no templo, nós, em nós, dentro de nós, pelo espírito, dentro do nosso corpo e de nossa mente. A glória do Pai, o Filho, vem habitar em nós, cheio de graça, pois não é por nosso merecimento, é decisão "eu quero receber Jesus Cristo dentro de mim". E cheio de Verdade, ele é a Verdade. A Verdade também é uma pessoa, Jesus, o Verbo feito pessoa. Isto é a primeira iniciação real, é entender isso, por esse conhecimento, vem o entendimento e por esse entendimento vem a decisão, e pela decisão a recepção e pela recepção a percepção gradativa da Verdade, o "conhecer e prosseguir em conhecer", essa é a verdadeira gnosis. Conhecer a Verdade e por isso ser libertado...

Depois vemos João narrar o testemunho de outro João, o Batista. As frases são muito reveladoras, pois João testemunha de Jesus como vindo depois dele, e João realmente era mais velho que Jesus e seu ministério vem após o de João, mas também que Jesus já existia antes dele. Temos novamente a razão pela qual Jesus é o iniciador. E como agora é diferente do passado: pois a revelação é dada por um que vem da parte do Pai. Esse testemunho é maior do que o de todos os profetas, pois é de quem veio do Pai e daquela realidade. 


E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça.
Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.
Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.
João 1:16-18


Observe que a plenitude também é recebida, não é atingida, trabalhada, se recebe gradativamente, graça por graça. Isto se dá nao através de fórmulas, métodos, leis, cerimônias, mas de uma relacionamento com ele, que é a Verdade. A lei formal dada por Moisés é uma coisa, a graça e a verdade de Jesus Cristo é outra coisa. Jesus não é simplesmente mais um ensinador que veio trazer regras e informações, ele não vem trazer simplesmente mais instruções ou leis, mas sim graça e verdade. A verdade nunca pôde ser sequer vista e agora ela pode ser recebida, vista e até tocada, quem compreender isso está a um passo de percebê-la. A verdade não é algo dito ou visto ou sentido, é algo recebido, do qual quem recebe se torna consciente, a verdade é algo testemunhado, assistido, vivido. Ele sendo o filho único, ligado ao Pai, um com o Pai é a testemunha fiel, única que pode revelar, transmitir, a verdade que o Pai é! 

Isto tudo, na tradição cristã, constitui um passo, não é algo distante, para depois de uma jornada ou muitas tarefas ou muitos passos, é para agora, já, é só uma tomada de posição, uma decisão. Você abre mão da direção que ia, vira para a direção contrária; abre mão de si mesmo e de suas obras e entrega tudo a outro, bem mais sábio, competente e poderoso, e entrega sua vida à sua direção. Por isso este é chamado por nós a via pistis, ou seja, a via da confiança, confiar a outro a sua obra necessária. Isto seria difícil se o outro fosse uma pessoa comum, mas já sabemos que não é qualquer um, mas o Logos, o construtor e mantenedor de nossos espíritos, mentes e corpos.

Em seguida veremos algo mais nesse passo, nessa etapa, nessa iniciação, o nascer da água. A água representa a palavra de Deus, ou seja, mais uma vez representa a Verdade, e a Verdade, viver a verdade, ver a verdade, é o Verbo de Deus. É preciso conhecer essa água, submergir nela, beber dela...






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