quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Ordem e Escola

Esta ordem é também uma escola. No sentido tradicional de escola e de ordem. Ela é uma escola de pensamento, uma escola filosófica, mas principalmente científica e de vida. Acima de tudo somos uma escola de ciências antigas e tradicionais, uma das raras e pequenas sobreviventes, mas podemos dizer que nesse meio, no qual somos uma, temos afinidade com muitas e até abrigamos a algumas em nossa estrutura de estudos, enquanto estudo.


E ela é uma ordem porque não é só uma academia de conhecimentos e de ciências. Quando você estuda ciências antigas não é como estudar "ciências sociais" onde há aquisição de conhecimentos, uma bagagem de teses de diferentes escolas, métodos, pensamentos, cujo material principal são letras, idéias, hipóteses (mal nominadas como teorias), etc.. É mais parecido com psicologia, no sentido de que se conhecem várias abordagens, vários métodos, várias teorias, mas, como em psicologia, também se tem que saber aplicá-las num sentido prático que trás resultados objetivos. Após esses estudos, entretanto, terá que escolher uma ou algumas abordagens e se aprofundar nelas, mas sabe que vai ter que estudar aquilo pelo resto da carreira pelo menos. Ou melhor ainda, podemos dizer, é como a psicanalise: vai receber uma formação teórica, conhecer várias teorias, práticas, escolas, mas vai também ter que praticar sob supervisão e também ser analizado e vai passar a vida nesse processo de estudar, analizar e ser analizado. Ou seja, vai ter que provar todo o escopo do estudo, pelo lado do analisado e pelo lado do analista, e a trajetória do pesquisador, assim também é nosso estudante. Cada etapa do aprendizado depende da anterior, entãobse avança gradualmente e para receber tal novo grau é preciso escolher e tomar compromissos (éticos, morais, metodológicos, etc.).

Nós temos uma uma metodologia própria, e temos descobertas próprias, e teses próprias, uma filosofia de trabalho e objetivos a serem atingidos, metas de cada etapa na direção e na consecução da meta final, o que caracteriza uma escola que se diferencia de outras quanto ao conteúdo de cada uma dessas categorias. E temos sequência gradativa dependente, de conhecimentos, práticas e resultados que devem objetivamente serem aprendidos e realizados. 

Essa sequência em graus de conhecimento e profundidade de conhecimento, de experiência e habilidades práticas, e de resutados alcançados (logicamente gradual e cada etapa dependente da etapa que a antecede), é muitas vezes um processo cumulativo, o que caracteriza toda ordem.


Qual o meu papel?


Eu estudei, pratiquei... E realizei algumas coisas. A mim foi confiada uma tradição. É um direito muito especial, que é ao mesmo é uma responsabilidade muito grande, de transmitir, ensinar, esclarecer, desfazer as confusões, retirar as cortinas... Enfim, transmitir da mesma maneira o que eu recebi e avançar do ponto em que estava.

Só há três possibilidades depois disso, ou largar tudo e fazer outras coisas, ou seguir com a escola ensinando e transmitindo para outros ou, havendo uma descoberta nova e ou uma nova tese, criar uma nova escola, que mantem tudo da anterior, mas organizada de acordo com a nova tese ou descoberta. E as três opções são muito comuns. Se não fosse assim não haveria a liberdade de desistir, abandonar; não haveria continuidade das tradições verdadeiras e predominariam as imitações, fraudes, enganos; e por último, não apareciam novas escolas verdadeiras que mantivessem as tradições anteriores e troxessem as inovações necessárias e de cada época.

No meu caso, por um tempo tive que permanecer em manifestações da segunda opção, mas por fim também cheguei, graças a Deus, a descobertas e às minhas próprias teses, ganhando assim o direito, como qualquer que foi graduado professor, estabecer uma escola autêntica, com base na mesma formação, compromissos, tradições, mas também nas novas descobertas e teses, como qualquer escola filosófica ou científica.


E o que ganho com isso?


Muitos pensam que enlouqueci com isso, porque mudei completamente nesse percurso, outros mal informados vêem uma grande contradição. A escola muda as pessoas, transforma as pessoas. Mas não pense que é a pessoa ou a instituição que faz isso. É o conhecimento, é saber a verdade que transforma, e que liberta...

Algumas pessoas pensam que são as informações, teses, teorias, enfim, conteúdo, o que deve ser transmitido o que constitui o miolo das escolas, e que esse saber seria o que liberta. Este é o problema! Até para alguns professores que também receberam essa responsabilidade, mas ainda estão com a idéia de iniciantes, que iam aprender informações, conteúdos, "verdades" prontas; que iam analizar, como na tradição da filosofia acadêmica e passar adiante (o que dificilmente fazem na academia, diga-se de passagem). Mas não é assim. O que temos que passar adiante são os meios. Ou seja, a minha responsabilidade é transmitir não só os métodos, mas também seus resultados. Os meios para que as outras pessoas atinjam com segurança e por si mesmas seus objetivos, comprovações e a proposta da escola e me certificar que elas estejam alcançando. Toda produção literária, descobertas, teorias, teses, descrições, são secundários, mas são uma ferramenta metodológica, para entender, compreender e realizar o que a escola propõe. As informações são, na verdade, o efeito colateral de se aplicar o método, pois obtém-se descobertas e entendimentos. É isto que ganhamos, e o amadurecimento e relações entre tudo isso que se obtém através do estudo, da prática e das realizações, é o que se chama sabedoria. 

O que eu ganho com todo esse "tempo gasto" como dizem é liberdade, consciência da verdade e amor por essas duas coisas, liberdade e verdade, cada vez maior.


Quais são essas transformações?


Os meios e seus resultados quando são praticados e interpretados corretamente são a verdadeira missão da escola. Aí sim, os resultados transformam as pessoas, libertam, esclarecem, iluminam, despertam e a pessoa se torna produtiva, pois tem um conhecimento que nem sequer imaginava que pudesse caber em sua consciência (mas ela vai também descobrir que a consciência é infinita em alguma etapa de sua caminhada). 

Foi no meio desses procedimentos e descobertas que me tornei outra pessoa, que me converti, que fui transmutado, que encontrei o sentido da vida e o meu propósito, etc..

As transformações também não são o objetivo, mas o instrumento indispensável para que se liberte das limitações do corpo, do tempo, da matéria, da incompletude, das ilusões e enganos, etc., para que a pessoa conheça a verdade e seu propósito e seu próprio viver e ser eterno em todas as suas dimensões e possibilidades. Estes sim, podem fazer muito mais pelos outros, e realmente têm e sentem o dever de ensinar e nele também se realizam.







Nenhum comentário:

Postar um comentário