sexta-feira, 24 de julho de 2020

Tradução comentada do livro Asclepius encontrado em Nag Hammadi

Por Fra. I.L.I.V.

Tradução do livro Asclepius, ou Asclépio, encontrado em Nag Hammadi. Essa é minha tradução feita a partir da tradução para inglês de James Brashler, Peter A. Dirkse e Douglas M. Parrott. Meus comentários estão sempre separados em outro parágrafo e entre sestenidos (#). As divisões, numeradas em seções, não existem no texto, eu as coloquei para dividir didaticamente os assuntos.

Biblioteca da Sociedade Gnóstica
Biblioteca Nag Hammadi

Asclepius 21-29
Traduzido por James Brashler, Peter A. Dirkse e Douglas M. Parrott

1

"E se você (Asclépio) deseja ver a realidade desse mistério, deve ver a maravilhosa representação da relação sexual que ocorre entre o homem e a mulher. Pois quando o sêmen atinge o clímax, ele salta. Neste momento, a fêmea recebe a força do macho; o macho, por sua vez, recebe a força da fêmea, enquanto o sêmen faz isso.

# Que o leitor leia com a mente aberta sem relacionar preconceitos ou outros conceitos modernos, lembre que essa é uma obra antiga, antes que as coisas que se dizem hoje sobre o assunto existissem ela já existia. Aqui não se trata de "magia sexual", nem "yoga sexual", nem sequer "alquimia sexual", que são relações e equivalências erradas com práticas de outros povos. O segredo disso está restrito, e continua restrito a altos iniciados, tudo que vazou desse segredo é incompleto porque possui graus e as pessoas que vazaram não chegaram ao último, comunicam só até onde receberam. #

"Portanto, essas pessoas (os incrédulos) são blasfemadores. Eles são ateus e ímpios. Mas os outros não são muitos; antes, os piedosos contados são poucos. Portanto, a maldade permanece entre os (muitos), desde que aprendem sobre as coisas o que é ordenado não existe entre eles, pois o conhecimento das coisas que são ordenadas é verdadeiramente a cura das paixões do assunto, portanto, o aprendizado é algo derivado do conhecimento.

#  Esse segredo nunca é transmitido em mundos astrais ou mentais ou espirituais, pelo contrário, só é trasmitido de um para um, sempre no plano material que é onde se o realiza. Seus maiores expositores jamais o entregaram, nem publicamente nem em suas ordens, ou porque nunca receberam todo ou porque não quiseram ou porque não foi permitido. Os exemplos mais famosos são Paschal Beverly Randolph, Krumm Heller, Aleyster Crowley e Samael Aun Weor. Destes só Heller recebeu completo, talvez Beverly tenha recebido, mas não trasmitiu todo assim como Heller também não. Crowley como muitos descobriu uma parte e recebeu outra, mas não o todo. E Samael saiu da ordem de Heller muito antes de receber completamente. Estes dois últimos por vazar segredos, apesar de já publicados seriam expulsos das respectivas ordens, pois não souberam guardar nem o inicial, que fariam com os verdadeiros segredos? O exemplo desses quatro se aplica a demais autores e fundadores de ordem. Ainda que bem intensionados na maioria dos casos, não duvido, nem estes, nem outros poderiam expor esses segredos, pois é impossível divulgar, porque não podem ser descritos, como veremos. Ou seja, por um motivo ou por outro é impossível divulgar. E quem recebe completo já foi suficientemente provado e jamais divulga. Os que não concordam ou não suportam as provas de fidelidade abandonam seus professores e ficam tentando advinhar o resto. Logo caem na armadilha de relacionar com os segredos do oriente (que já estão publicados, basta saber procurar), seja pelas semelhanças da prática, dos símbolos, ou das figuras, etc.. #

"Portanto, o mistério da relação sexual é realizado em segredo, para que os dois sexos não se desonrem na frente de muitos que não experimentam essa realidade. Pois cada um deles (os sexos) contribui com sua (parte própria) para gerar. Pois se isso acontece na presença daqueles que não entendem a realidade, é ridículo e inacreditável, e, além disso, são santos mistérios, de palavras e ações, porque não apenas não são ouvidos, mas também não são vistos.

# Aqui não há lugar para o esperto, o malicioso, o de pensamentos impuros. O segredo só pode ser compreendido pelo pobre de espírito, pelo simples de coração, pelo realmente bem intencionado, que ama ao próximo e a Deus sobretudo. Porque o segredo não é ouvido, porque não é falado, nem é  visto, porque não é escrito nem demonstrado, precisa ser compreendido. E só o que purificou o coração consegue compreender. Ele vai sendo entregue grau a grau em 21 gradações. Mas o segredo está sempre dentro de outro. O símbolo não é da coisa em si, mas de outro símbolo. Temos até o símbolo do símbolo do simbolo. E aqui temos o clássico exemplo do triplo simbolismo. A união sexual e a conjunção dos elementos formando um só ser é símbolo do casamento alquímico do Rei e da Rainha, que na tradição cristã rosacruz ainda é símbolo duplo: do casamento da igreja, noiva de Cristo, com o Cristo, o rei, em seu significado macrocósmico; e do casamento da alma com o espírito em seu significado interior, microcósmico. Assim aqui a união de dois em um e a fusão das substâncias em uma manifestação concreta que é o símbolo do amor do casal que é o símbolo do amor a Deus. O segredo é que o amor fervoroso leva à união, ao tornar-se um só com a pessoa amada como no ato sexual de duas pessoas que realmente se amam muito. Esse amor acende e flameja ardentemente e acima do desejo sexual que é deixado para trás; assim deve ser o amor a Deus sobre todas as coisas a fim de se reunir a ele, um amor forte, fervoroso, acima de todo amor. Não estou dizendo aqui como se faz isto nem como se usa o amor do casal para conhecer esse amor, pois estaria revelando a parte principal do segredo. Este segredo só pode ser entregue a quem ama a Deus sobre todas as coisas porque este fará a vontade de Deus, não usará este poder em benefício próprio ou injusto. E o problema é justamente esse, mal começam a desfrutar do poder muitos já o usam egoisticamente, a grande maioria, e então são cortados, se fecha a porta para eles e depois morrem sem terminar seus projetos e tudo o que conseguiram é deixado para trás e disputado entre ladrões e aproveitadores e gananciosos. O perigo não está no ato sexual, está no que se pode gerar e por outro no que fatalmente se gera na união e relação sexual. O perigo não é só o mal que se pode fazer aos outros e ao frágil equilíbrio desse mundo onde há também caos, mas fatal e principalmente para si mesmo. #

"Mas, se há ignorância e o aprendizado não existe na alma do homem, (então) as paixões incuráveis ​​persistem nela (a alma). E um mal adicional vem com elas (as paixões), na forma de uma ferida incurável. E a dor constantemente roe a alma, e através dela a alma produz vermes do mal e fede. Mas Deus não é a causa dessas coisas, pois enviou aos homens conhecimento e aprendizado.

# A questão é muito simples, tão simples que ninguém percebe. Mas por que não percebe? Porque tem um coração impuro, uma mente impura, cheia de desejos, projetos e ganância. Um espertalhão jamais descobre coisa alguma. O malandro pensa desxobrir tudo com sua malícia, desconfiança e arrogância, pois se acha ou muito inteligente, ou muito esperto, ou muito capaz. Já se condenou a colher os frutos de sua ignorância por isso, fadado a insistir nas obras do erro e em muitos erros, orgulhosamente se torna um cabeça dura, cada vez mais acreditando na própria maestria de que se convenceu. Se receber (ou descobrir ou roubar) e praticar antes de estar preparado e purificado para tal o aprendizado não existe e as paixões carnais tomam conta e se vestem até de auto convencimento de santidade iludindo o praticante, que quanto mais pratica mais se vitima às próprias alucinações. Não é Deus que faz isso, é o próprio orgulhoso que põe vendas nos próprios olhos.#

2

"Trismegisto, ele os enviou para homens sozinhos?"

"Sim, Asclépio, ele os enviou a eles sozinhos. E é justo que lhe digamos por que somente aos homens ele concedeu conhecimento e aprendizado, a atribuição do seu bem.

"E agora ouçam! Deus e o Pai, mesmo o Senhor, criaram o homem subsequente aos deuses, e ele o levou da região da matéria. Como a matéria está envolvida na criação do homem,  [...] as paixões estão nela. Portanto, elas fluem continuamente sobre seu corpo, pois esse ser vivo não existiria de outra maneira, exceto se tivesse tomado esse alimento, já que ele é mortal. Também é inevitável que desejos inoportunos, que são prejudiciais, habitem nele. Para os deuses, desde que eles surgiram de uma matéria pura, não precisam de aprendizado e conhecimento. Pois a imortalidade dos deuses é aprendizado e conhecimento, uma vez que eles surgiram da matéria pura. A (imortalidade) assumiu para eles a posição de conhecimento e aprendizado. Por necessidade, ele (Deus) estabeleceu um limite para o homem e o colocou em aprendizado e conhecimento.

# Observe a pergunta inicial de Asclépio. Ele não perguntou se  Deus criou o homem para ser sozinho, mas se o enviou para estarem sozinhos. O que é isso? No mundo original, todos estão em comunicação com todos, não existe separação, não existe limitação do pensamento ao um pensador, nem do conhecimento a um conhecedor. O que um pensar todos "ouvem", o que um conhecer todos ficam conhecendo. Na natureza celestial, não há separação. Mas por uma razão (que é assunto de outros livros do Corpus Hermeticum) Deus isolou o humano enviando para estar só nesse mundo da matéria, ou seja, separado, isolado mentalmente.

# A criação do homem (também assunto de outros livros) é depois da dos deuses. Esses deuses (escrito com letra minúscula e no plural) se refere sempre e invariavelmente no Corpos Hermeticum aos primeiros seres criados, ou seja, é exatamente o mesmo que as hierarquias angélicas na tradição judaica e na cristã. Os primeiros seres criados, não são deuses criadores como Deus, mas auxiliadores que atuam segundo a vontade de Deus, não segundo a própria vontade (os que atuam fora dessa vontade são chamados daimons, espíritos malígnos, anjos maléficos, ou seja, anjos caídos, não espíritos de pessoas, nem que encarnam como pessoas).

# Observe que a matéria não é considerada má em si ou por si como no gnosticismo primitivo, mas se torna envolvida nas paixões por causa do homem, e num processo de retroalimentação um torna a contaminar o outro, pois as paixões contaminam a matéria carnal, e a carne sustentando esses registros das contaminações torna a contaminar o homem em outro momento, como qualquer objeto que seja contaminado por virus e bactérias.

# Os deuses também são de matéria corporalmente, mas de outra vibração, estão em outro nível  de existência. Nesse nível que estão há imortalidade e esta mesma leva a conhecimento e aprendizado, pois são imortais e suas mentes não são sozinhas, isto é, todas se intercomuniacam, não há separação além da corporal. Já os humanos estão separados corporalmente e mentalmente. Por necessidade Deus estabeleceu todos os limites para os humanos, para que não se perdesse completamente, mas tivesse a oportunidade de retorno ao estado anterior, puro e não separado, e ainda pudesse escolher seu destino. Assim, desde o formato e tamanho dos corpos a todos os seus poderes e ambiente foi delimitado por Deus numa medida justa, mas que também não impedisse a possibilidade de escolher Deus e o bem e de retornar à dimensão eterna com Deus através do que escolha aprender e conhecer, Deus e as coisas celestiais ou o mundo e as paixões mundanas.#

"Com relação a essas coisas (aprendizado e conhecimento) que mencionamos desde o início, ele (Deus) as aperfeiçoou a fim de que, por meio dessas coisas, ele pudesse restringir paixões e males, de acordo com sua vontade. Ele trouxe o seu (homem) mortal existência na imortalidade, ele (homem) tornou-se bom (e) imortal, como eu disse, pois ele (Deus) criou (a) natureza dupla para ele: o imortal e o mortal.

"E aconteceu assim por causa da vontade de Deus que os homens sejam melhores que os deuses, pois, de fato, os deuses são imortais, mas somente os homens são imortais e mortais. Portanto, o homem tornou-se semelhante aos deuses, e eles conhecer os assuntos um do outro com certeza. Os deuses sabem as coisas dos homens, e os homens sabem as coisas dos deuses. E eu estou falando sobre os homens, Asclépio, que alcançaram aprendizado e conhecimento. Mas (sobre) aqueles que são mais vaidoso que estes, não é apropriado dizermos algo básico, pois somos divinos e estamos introduzindo assuntos sagrados.

# A forma como Deus delimitou a vida do ser humano na matéria já tem toda madicina para que o mal gerado na mente humana não possa se manifestar em toda sua potência e que as paixões sejam domadas e reduzidas, seja pelas limitações materiais e mentais, seja pelo conhecimento e aprendizagem espontanea, seja pelo sofrimento que vem das consequências das más paixões por seus pensamentos e ações. O humano é o que possui as duas naturezas e pode escolher entres elas, os deuses não, uma vez caídos não podem retornar (há controvérsia entre autores sobre isso, mas a tradição não afirma possibilidade de rerorno a deuses...). A época em que foi escrito esse livro a diferença da frequência vibratória de deuses e humanos não era tão distante quanto hoje de modo que a comunicação inter-planos era mais fácil, ocorriam mais aparições, materializações, bem como nossas visitas conscientes lá eram mais frequentes entre os iniciados. Mas ontem e hoje ainda isso está na dependência de aprendizado e conheciemnto de nossa parte, aprendizado envolve comportamento, moral, emoções, habilidades, etc. e conheciemento envolve as atividades da consciência, intelecto, intuição, comunhão, compreensão, inteligência, etc.. Tudo isso pode se adquirido, treinado e desenvolvido. Quando ele diz "somos divinos" fica bem claro que se trata dos que alcançam aprendizado e conheciemento ou se introduzem nesses assuntos e assumem esse papel de aprendizes em busca do conhecimento, não toda e qualquer pessoa como prega a "nova-era". Divinos aqui não tem o sentido bíblico (que se refere apenas a Deus ou às pessoas da triunidade), mas no sentido oriental, de divo, diva, que vem de deva, ou seja, esses deuses criados, poderia em nossa cultura ser traduzido como angelicais, o que reforça novamente a importância do aspecto moral e emocional, especialmente o amor e dedicação incondicionais. Só há comunicação com anjos quando há comunhão, sintonia com eles. Essa comunicação é um objetivo nobre, é um de nossos objetivos, mas não quando não se quer ser trasformado primeiro, para a própria edificação, mas para o bem da humanidade. Sobre isso é falado adiante. #

3

"Desde que entramos no assunto da comunhão entre deuses e homens, Asclépio, aquele em que o homem pode ser forte! Pois, assim como o Pai, o Senhor do universo, cria deuses, assim também o homem, esta criatura mortal, terrena e viva, aquela que não é como Deus, também cria deuses. Ele não apenas fortalece, mas também é fortalecido. Não apenas ele é deus, mas também cria deuses. Você está surpreso, Asclépio Você é outro incrédulo como os muitos?

# Aqui o texto toma acentuada diferença do que foi achado anteriormente que tece pormenores sobre o ato sexual, a união dos líquidos seminais, a participação dos dois sexos e a concepção humana. Essa parte pode ter sido retirada desse texto, pois ele pertencia a cristãos que talvez só praticassem esse tipo de relação sexual para reprodução (com mistura de fluidos). E muito provavelmente estes praticavam não o derrame seminal, mas a contenção (tanto os solteiros, sem relação ou qualquer tipo de ato sexual, quanto os casados, com ou sem relação sexual, ou seja, a economia do orgasmo para ambos os sexos). Mas esse texto também não entra em tantos detalhes sobre esse assunto como o achado anterior a este. Neste já passa para a questão seguinte, chamada criação dos deuses, parte em que pode haver suspeita de acréscimo (por a tradição ter sido trazida ao Egito de hebreus ou outros semitas), isso é questão não só para estudiosos, mas dentro da tradição, na verdade o significado da primeira parte também se reflete nesta, trata da mesma coisa, sendo que a primeira apresentou o modo e esta apresenta o resultado. O que importa aqui não o que é dito ou como é dito, mas ao que se refere, o significado inciático.

# E independente desta parte ter sido adicionada ou não, de haver uma parte que pode ter sido retirada ou se tratar do original que não tinha tal parte, que seria assim uma adição, nesse texto encontramos o mesmo significado (tanto que nesse texto essa parte foi preservada por quase dois milênios e a outra não).

# É preciso entender que na linguagem cifrada da tradição hermética a palavra "deuses" (com "d" minúsculo e no plural) sempre se refere simplesmente aos primeiros seres criados por Deus (com "D" maiúsculo e no singular). Ou seja, o equivalente em nossa cultura às hierarquias angélicas (anjos, arcanjos, serafins, querubins, ofanins, etc.). Mas muitas vezes também significa o estado ao qual podemos chegar, como habitantes da dimensão eterna, nas esferas celestiais, com corpos incorruptíveis e imortais, como os anjos. Sendo esse o penúltimo texto do Corpus Hermeticum, esse detalhe já foi demonstrado nos outros textos, faz parte de iniciações anteriores. #

"Trismegisto, eu concordo com as palavras (faladas) para mim. E eu acredito em você como você fala. Mas também fiquei surpreso com o discurso sobre isso. E decidi que o homem é abençoado, pois desfruta desse grande poder. . "

"E o que é maior do que todas essas coisas, Asclépio, é digno de admiração. Agora está claro para nós a respeito da raça dos deuses, e confessamos junto com todos os outros que ela (a raça dos deuses) vem de uma matéria pura. E seus corpos são apenas cabeças. Mas o que os homens criam é a semelhança dos deuses. Eles (os deuses) são da parte mais distante da matéria, e ela (o objeto criado pelos homens) é da (parte) exterior do ser dos homens. Não são apenas elas (o que os homens criaram) cabeças, mas (são) também todos os outros membros do corpo e de acordo com a sua semelhança, para que o homem interior seja criado à sua imagem, da mesma maneira, o homem na terra cria deuses à sua semelhança. "

# O sexo sempre está a criar algo. Como no homem independe do ele faça os líquidos seminais e espermatozóides estão sempre sendo renovado e a mulher independente do que faça está sempre já preparada com todos os óvulos e órgão e seu ciclo se mantém (e isto por si só já nos é um grande ensinamento...), nas outras esferas de existência algo já foi criado e sempre está se renovando e se desenvolvendo. Todo ato sexual sempre está ceiando algo aqui e nas outras esferas. Não apenas todo ato, toda atitude sexual (inclusive a abstinência total) é uma ação sexual criadora, o sexo, a função sexual, inerente a nós, não para de criar, para bem ou para mal, para saúde ou doença, para renovação ou devreptude... nunca pára. Cabe a nós saber e decidir o que fazer para o nosso bem e da humanidade. E aqui Asclepius está sendo instruído sobre isso. Hermes mostra que a matéria prima dos deuses, de que são construidos, sua substância, não é deste mundo, dessa materia degradável, tempor al, decadente, caída, mas de uma matéria pura, isto é, não misturada, imaculada, original... E que seus corpos são apenas um aspecto de si mesmo, mas o que os homens criam é apenas uma semelhaça desses corpos, nem se igualando sequer ao aspecto corporal real. Não é apenas essa parte que naturalmente criamos e que temos como cabeça, mas podemos ir bem mais além, criando todos os outros membros, um corpo completo, ou seja, plenamente daquela mesma natureza, que atue conscientemente naquele plano.

# A segunda metade do texto fica clara agora. Os deuses estão longe dessa materialidade humana (apesar de seus corpos exercerem mais poder sobre essa matéria do que os próprios humanos, com corpos de matéria da terra, podem). Esses nossos corpos densos são apenas o exterior do ser humano. Mas agora note bem, nós podemos criar algo mais do que criamos normalmente: "para que o homem interior seja criado à sua imagem, da mesma maneira, o homem na terra cria deuses à sua semelhança."

# Claro que ele não está falando de ídolos, estátuas estáticas, ele está falando da criação de outro tipo de corpos, semelhante aos deuses, ele está falando também, por outro lado, da criação do homem interior. Vemos aí dois elementos mostrados ao longo do Corpus Hermeticum que necessitam ser trabalhados, a parte imaterial, moral, intelectual, mental, etc., e a parte material, desde o corpo de matéria da terra até os corpos sutis semelhantes aos dos seres celestiais, aqui chamados deuses, em seus vários níveis, ou seja, em suas hierarquias e planos.

# Observe o que é falado aqui. Esse enigma pode até parecer claro para quem já recebeu a iniciação ou a informação deste arcano, mas precisamos ir ainda um pouco mais adiante. O iniciado está apenas no início, precisa desenvolver o assunto até o fim...

# O que ele chama de cabeças? Por que usou essa palavra? Uma parte dessa meditação podemos adiantar como ponto inicial, que a "cabeça" dos corpos nós já temos, usando a mesma linguagem simbólica, mas o resto do corpo e seus membros precisamos fabricar (cabeça também tem o sentido de comandante, chefe, principal, capitão, é a parte principal, a que comanda, nesse caso a consciência, ainda que limitada em outras esferas). Quando saímos com nosso corpo mental, por exemplo, numa dimensão mental, podemos apalpar a realidade daquele nosso corpo, mas apesar disso não podemos dizer que atingimos uma elevada dimensão mental, pelo contrário, existe muito mais acima e aquela consecução é frágil e passageira; nem tampouco podemos dizer que aquele nosso corpo é igual ao dos deuses, nem que o dominamos como eles dominam os seus. Precisamos desenvolver corpos, usando a nossa matéria e a matéria de nosso homem interior, matéria prima encontrada nessas outras esferas. Vejamos...#

"Trismegisto, você não está falando de ídolos, está?"

"Asclépio, você mesmo está falando de ídolos. Você vê isso novamente, você mesmo, Asclépio, também é um descrente do discurso. Você diz sobre aqueles que têm alma e tamanho, que são ídolos - aqueles que provocam esses grandes eventos. Você está dizendo sobre aqueles que profetizam que são ídolos - aqueles que dão aos homens doenças e curas [...] que eles.

# Em outra tradução é usada a palavra "estátuas" no lugar de "ídolos" e realmente parece atribuir a estes ações. Mas lembremos do que na verdade está tratando, de corpos (que serão construídos por nós). Não se espante como Asclepius, pensando no significado literal, como os profanos que adoram deuses e estátuas, aqui será revelado um ensinamento espitual, portanto não se trata de ídolos, estátuas, matéria, mas, com descreve Hermes, poderes, capacidades, e de onde elas vêem, não de corpos de estátua, mas de seres, com alma, corporalidade e poderes. Veja que Asclépio é tido até como descrente por não ver ainda de imediato isso. Corpos de estátuas são apenas uma metáfora, um símbolo, dos corpos reais que servirão de veículos para nossa alma e espírito em outros planos, para que possamos habitar conscientemente também naqueles. Assim como são os corpos daqueles seres que entregam as profecias e as curas... Essas "estátuas", ou seja, esses corpos, sutis quando comparados a matéria densa, mas bem reais e palpáveis nas outras esferas, são construídos em outros mundos, e tem muito mais poderes que esses corpos materiais e são eles que nos possibilitaríam essas curas, profecias, eventos e visões, falados por Hermes...

# Em seguida começam as profecias sobre o fim do Egito, mas como veremos, elas também têm um duplo sentido e consequentemente uma dupla realização...#

Continua...

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