domingo, 16 de fevereiro de 2020

As cinco vias eficazes 5 - Via Empeirikae


2 Via Empeirikae

Outra é a via da experiência,  chamada via do empirismo ou via empírica (ou mística por uns outros). Esta via confia mais nos sentidos, nas percepções e em tudo que constitui a experiência empírica. Uns vão um pouco além da experiência material, observando as experiências mentais e por meio de análises tiram suas conclusões. Outros vão aindam na direção de experiências metafísicas (se é que podemos realmente chamar assim). Mas alguns vão além disso e terminam confundindo experiências mentais com espiritualidade.

Nós identificamos esta como via da experiência porque ela ambrange toda experiência, seja através dos sentidos ou a chamada extra-sensorial; seja material, mental ou espiritual (quando há alguma); seja da vida cotidiana ou as chamadas paranormais e metafísicas. Está esta via impregnada em várias tradições filosóficas, sempre identificada como empiria, indo desde o ceticismo empírico até à análise metafísica empirista. Há também os que a negam, afirmando que nenhuma experiência pode mostrar qualquer realidade ou negando que possam existir fatos empíricos (podemos chamá-los de empiristas negativos, mas de fato não são empiristas, pois adotam uma postura apenas para negá-la). Nesta via também predomina o aspecto thelema, mas aqui ele é regido por nous (consciência), é nous que recolhe as experiências apesar da vontade ser a que busca as experiências, ela as busca para a consciência.

Esta via está na base da via científica, pois a parte experimental da ciência se baseia em sua quase totalidade no que pode ser percebido ou observado, experimentado. A ciência moderna que surgiu na ordem rosacruz e foi exteriorizada e sistematizada por Bacon, um rosacruz, e outros, não tinha a intenção (nem nunca teve antes de sua sistematização) de excluir as investigações mentais e espirituais, pelo contrário, esse era o centro, e suas principais descobertas estavam nesse campo (que infelizmente teve que ser escondido e muito realmente se perdeu).

A ciência acadêmica desde seu início estava envolvida em pesquisas como as nossas, de natureza também mental e espiritual, mas logo foi perseguida pelo papa da época. Só após um acordo Descartes pode continuar suas pesquisas e escritos, sob a condição de que se restriguissem ao campo da fysis, ao campo material, e que a parte relativa à alma e ao espírito fossem deixadas à autoridade do vaticano.

Infelizmente e sem saber os cientistas de hoje, com seu preconceito em relação à metafísica e tudo que seja similar, apenas obedecem tacitamente a esse acordo da época. E embora critiquem a igreja de Roma não fazem mais do que obedecê-la (como uma criança, que embora saiba que o bicho papão não está no armário, ainda não se atreve a abri-lo e ri dos que vão investigar o que há realmente nele). Assim os cientistas que não aderiram a esse acordo e continuaram suas pesquisas ocultamente foram perseguidos e mortos e os que sobreviviam eram tachados de místicos (e até tidos como bruxos e feiticeiros algumas vezes). Se o mundo da ciência acadêmica fosse racional como declara ser, seria no mínimo estranho que esse pensamento continuasse até hoje, mas o fato é que continua, e mesmo ciências desse tipo já consagradas (como a psicanálise, a parapsicologia, algumas áreas da neurociência e principalmente a metafísica) são vistas como duvidosas, especulações e excluídas do campo da ciência. Mas essa resistência vem diminuindo e cada vez a ciência avança nesse sentido, com experimentos, dados e teoria que vão desde pequenas evidencias na parapsicologia até grandes demonstrações na física como a origem do universo e a existência do criador.

Isto é assim em parte porque realmente os campos ou vias do conhecimento humano são todos submetidos mais à paixão e ao gosto do que à razão, mas também porque o campo científico também não abandonou as preferências empíricas de sempre, ou seja, das impressões sensoriais, quase tidas como verdade incontestável nessa área. Assim a tendência empirista permance mais forte em todos os campos, porque as impressões dos sentidos são as mais fortes e as que mais incitam os desejos e paixões humanas. Os que se voltam à ciência normalmente já abraçaram a convicção empirista mesmo antes de se tornarem cientistas, não vendo que é apenas mais uma forma de filosfia e de ver a suposta realidade que pretende investigar.

A metafísica na academia está restrita ao campo da filosofia e mesmo assim com muitas reservas. Mesmo entre as ordens esotéricas hoje, raras são as que se dedicam à ciência metafísica, na verdade só fazem declarações metafísicas que não passam muitas vezes de crenças e suposições tidas como revelações acessíveis somente aos mais supostamente elevados, ou seja, dogmas. A verdadeira metafísica é uma ciência antiga e esquecida e seus poucos praticantes isolados ainda hoje são vistos como místicos, num sentido um tanto distorcido e até depreciativo dessa palavra. Assim também temos que confessar que, apesar dos avanços, a metafísica praticada hoje está mais para a esfera da empiria do que do rigor do método científico. E ainda, na visão popular a metafísica geralmente está mais ligada ao campo da fé, à religião e ao esotérico.

Nós entretanto, pensamos diferente e temos a pretenção de devolver à metafísica o seu lugar como ciência, pelo menos em nossa ordem.

Mas mesmo assim boa parte da metafísica hoje estaria restrita ao campo empírico apenas, não por impossibilidade de aplicação do método científico, mas pela maioria das experiências e experimentos ainda serem realizadas estritamente a nível pessoal e mental (o que ainda está novamente em grande parte no campo do sensível e muitas vezes dificilmente poderíamos classificar como metafísica). O mundo contemporâneo carece de cientistas imaginativos e criativos que possam elabolar não só hipóteses, mas principalmente experimentos capazes de testá-las, que possam ser comprovadas não apenas por experiências pessoais, mas demonstráveis (nós também temos evidências e experiperimentos neste sentido e pretendemos divulgar amplamente assim que forem concluídos).

A via empírica é a mais amplamente usada pela humanidade, ainda que não se dê conta disso. Todos baseiam sua noção de verdade e de realidade acima de tudo na sua própria experiência ao longo da vida, tendo a razão, em maior ou menor grau, apenas como um coadjuvante na análise e julgamento do que pode ser tomado como certo, verdadeiro e ou realidade.

A limitação dessa via é obviamente a mesma limitação de nossos sentidos, de nossas percepções (sensoriais ou não) e de nossas capcidades de expansão dos mesmos. Ainda que expandíssemos ao máximo nossas capacidades sensoriais e perceptivas ainda haveriam muitos fenômenos e dimensões inteiras de realidade que ficariam fora de nosso alcance. Nosso tempo de vida também é um fator limitante. Porém, um certo aumento dessas capacidades já nos é suficiente para avistarmos muitas realidades que apontam para a verdade mais importante e nos dão as diretrizes pelas quais podemos nos conduzir rumo a inteira verdade. Por esse ponto de partida também a via empírica tem muita importância e influência nas outras.

O problema das limitações também se deve à interpretação que pode ser dada à experiência, e também a atribuição de "verdade em si" que normalmente se dá a ela. Muitos enganos surgem disso. Na verdade essa via, por parecer, para a maioria, a mais confiável, é a causa dos grandes erros, divisões, sectarismos, novas seitas e ordens, fanatismos, etc., pois para muitos eles têm a prova de seus desígnios, teses, doutrinas, etc. através de experiências pessoais ou coletivas. Quando analizamos o surgimento de alguma novidade esdrúxula nesse campo quase sempre vamos encontrar uma experiência pessoal tida como superior ou metafísica como seu início.

O maior problema dessa via hoje talvez seja o de querer provocar as experiências mentais (que são confundidas com expirituais) artificialmente. Para isso são usados meios fisiológicos e materiais, resultando no que chamo fisiologismo espiritual e no já conhecido materialismo espiritual. São usados meios como meditação, yoga, hiponose, mantras, sons, ondas magnéticas, elétricas, sonoras, aromas, luzes e cores, exercícios, e inúmeros outros artifícios para provocar efeitos fisiológicos no corpo e que afetam o funcionamento da mente. O que isto tem a ver com espiritualidade? Ninguém sabe, mas no conceito deles toda espécie de mentalismo e manobras mentais ou corporais e outras coisas absurdas são vistas como espirituais. É claro que tudo isso é análogo ao uso do alcool ou qualquer outra substância, só está alterando o funcionamento do corpo para influenciar a mente. É a maior fonte de engano a muitos séculos.

E aqui entramos num perigo talvez maior ainda que vem cada vez mais ganhando espaço nas escolas místicas, ordens e até igrejas, o uso de substâncias, entorpecentes ou não,  alucinógenas ou não, que induzem alguns estados mentais. O fisiologismo espiritual ao longo de séculos tem feito uso de substâncias que alteram as funções do corpo, especialmente do cérebro, provocando as chamadas experiências místicas, espirituais, ou qualquer que seja o nome que se a esse auto-engano. Obviamente isto leva a mesma espécie de confusão, ainda mais associada as sensações e emoções ocasionados por essas substâncias que chamamos simplesmente drogas, sejam ilícitas ou não, sejam prejudiciais ou não, que se encarregam de todo o auto-engano. Algumas vezes as interpretações "espiritualistas" são orientadas por alguma espécie de líder, outras vezes até dispensando a interpretação tendenciosa desses. As interpretações geralmente já foram lançadas antes na mente das vítimas. O líder geralmente já preveniu antes o que a pessoa vai passar e já deu sua explicação. Ora, se os acontecimentos da vida cotidiana são passíveis de vários tipos de interpretação, e a grande maioria é errada, imagine as experiências subjetivas provocadas por substâncias e que podem até serem induzidas (pelas mesmas substâncias, por sugestão anterior, por hábitos, por tudo isso junto, etc.).

Não podemos esquecer daqelas que são provocadas por substâncias internas, como da própria bioquímica do cérebro e das glândulas endócrinas sendo auterada por algum meio (exercícios, práticas sexuais, dietas, etc.). Este meio é também cada vez mais acreditado hoje em dia, numa área bastante atraente para muitos, a sexual. Muitos crêem que algumas determinadas práticas sexuais podem levar a experiências espirituais e até que são indispensáveis para alcançar consciência, despertar, salvação, suposta construção de corpos espirituais através de práticas sexuais, evolução espiritual e moral, etc., enfim, esperam resultados espirituais através de práticas fisiológicas. O modismo que leva ao auto-engano pode variar de época em época, mas o princípio é sempre o mesmo. Este sempre se repete, seja com novas invenções ditas tradicionais, seja pelas mesmas de sempre ou seja pela somatória de varias delas.

A tendência humana é sempre crer no que os sentidos parecem mostrar, não percebendo que se trata, antes de tudo, de uma sensação e finalmente uma percepção, não um acesso direto a uma realidade em si. Pior ainda no campo do suprassensível, onde existe muitas vezes uma sensação de realidade bem mais ampliada, e muitas vezes diante de uma alucinação ou sonho.

O maior exemplo disso talvez sejam as falsas memórias, falsas lembranças que temos em sonhos (e às vezes até em vigília), ou o engano das falsas experiências de regressão de memória em que se toma a capacidade da mente coletar experiências de outras mentes como uma lembrança pessoal, ou quando se toma uma fantasia sob hipnose como uma clara lembrança. Esses erros grosseiros também demonstram que os que apresentam isso como ciência não têm o mínimo critério ou rigor científico, o que só contribui mais ainda para que a ciência metafísica seja difamada e desacreditada como ciência. Por outro lado cada seita vê nesses experimentos mal feitos uma oportunidade de "comprovar" suas teses e doutrinas e por vezes termina investindo nisso e consequentemente na falsa imagem dessas como sendo ciência, parapsicologia, metafísica, comprovações, etc..

Entretanto a experiência é indispensável na vida cotidiana e nos padrões de realidade que adotamos, e se bem usada tem importante papel como via do conhecimento da verdade. Seu ápice são as experiências transcendentais compartilhadas, em que todos os participantes chegam à testemunhar exatamente as mesmas coisas, e quando elas podem ser apoiadas na lógica e em experimentos realmente científicos (com duplo cego, grupo controle, registros não presenciais, etc.) que podem ser validados por cálculos, estatísticas e sejam irrefutáveis racionalmente. Neste  caso elas invariavelmente vão apontar também para a realidade da via central e o que já foi acima relatado como conclusão comum a todas as vias.

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