sábado, 26 de março de 2022

AS CIÊNCIAS ANTIGAS NA PRÁTICA - parte 7

Tudo que vimos até aqui é uma psicologia (e conscienciologia), algo que pode ser praticado por qualquer pessoa desde que queira de fato e se dedique. Há muitos meios de avançar nisto, e ir incluindo a auto- observação minuciosa, o autodesenvolvimento, a autotransformação, etc., que são complementos, embora difíceis e cheios de meandros que exigem um conhecimento e orientação precisos, podem ser alcançados até um certo nível. Sim até um certo nível, pois chega-se a um limite, chamado de estanque, porque é onde o processo estanca, primeiro ele paralisa, a pessoa não consegue ir além, depois há um retrocesso, uma queda a estados anteriores, novamente inferiores. Todos os mais avançados praticantes sabem o que é isso, pois inevitavelmente chegam nesse ponto e uns, por falta de conhecimento (e de orientação completa), até mesmo se desesperam.

Por que isso acontece não vem ao caso aqui, pois seria muito longo falar de todos os processos naturais e psíquicos envolvidos. O fato principal é que a psique, por sua natureza atual, sente-se e se vê como algo separado e em oposição: eu e o mundo, minha mente e as mentes dos outros, minha consciência (sim, obviamente ela se apossa, enganada que é em seu ponto de vista, até da consciência), a consciência que sou e a Onisciência. Mas o fato é que esta divisão de fato não existe, essa separação é apenas virtual, é o ponto de vista da mente e da consciência da mente. Acontece que do ponto de vista da consciência-da-consciência ainda aparentemente vai existir essa separação pela constatação indireta, por exemplo, de que eu não consigo estar consciente do que está na consciência de outro, ou de que não tenho consciência do conteúdo da onisciência.

Mas isto é apenas um condicionamento da mente que faz com que a consciência se volte antes sobre a consciência da mente do que da consciência de si mesma, ou melhor, da consciência da consciência. E mesmo se penetrando na consciência pura não teríamos pleno acesso a outras consciências, pois embora todas ligadas pela fonte estão individualizadas em suas extensões e apenas se estivesse com o consciente na fonte seria possível apreciar as duas condições simultâneas. Também não fica ciente da onisciência por inteiro (realmente impossível para a "nossa" consciência). Mas a verdade é que nossa consciência é emprestada, ela tem origem e ela é um "raio" da Onisciência, não existe separação. Só que ela enxerga no tempo, ou seja, em sucessão de momentos e objetos da consciência, enquanto que a onisciência enxerga na eternidade, ou seja, na simultaneidade de todos os "instantes" e de tudo que existe, tudo em todos os tempos é objeto da onisciência. 

Essa barreira parece intransponível. Mas a onisciência tem ciência de ambas os modos, portanto, além de enxergar na eternidade ela enxerga também no tempo. O que nos possibilita, quando em comunhão com ela (pois é o nosso estado e natureza real, original e eterno), participar da onisciência que enxerga instantes (sejam sucessivos, sejam simultâneos) neste tempo.

Isto é difícil de entender e de imaginar, para a maioria das pessoas, mas um modo bem mais simples tem sido ensinado por séculos: a comunhão com Deus, o negar-se a si mesmo e ser um com o Pai. Esta é uma bela maneira de descrever esse processo e de forma muito simples. Então o passo mais elevado nessa parte deste processo é reconhecer a sua unidade com o Criador, com o Eterno, com o Onisciente, com Deus, e negar-se a si mesmo, ou seja, que se é um eu separado (dos outros e de Deus), negar a separatividade, que é ilusória. Mas como?

Falar é fácil, mas como fazer isso? Existem meios. E isto é o assunto de um nível de prática mais aprofundado e orientado, que vai desde o nível de confiança e entrega incondicional até o nível de auto sacrifício total. 

No primeiro a pessoa já reconheceu por meio da experiência (e alguns pela observação e razão) que chegou a um limite, que não pode libertar-se por si mesma, não pode salvar a si mesma, precisa de um salvador, que tenha uma força superior, que vença essa barreira, esse limite, essa prisão (dos sentidos, do mundo, da existência material e fenomênica, etc.). Então ela conhece o libertador e confia inteiramente a ele essa tarefa. O libertador é o Logos do Onisciente, a razão, o intelecto e a manifestação fenomênica do Incriado, de Deus mesmo. Nós conhecemos tudo isso já, na História: "E o verbo (Logos) se fez carne (matéria) e habitou no meio de nós e vimos a sua glória"... (sua realidade por trás da forma, etc., veja João 1.1-14). O verbo de Deus é vida, vida só surge de vida, e só ele pode dar a vida eterna, isto é, restabelecê-la, mediante a entrega voluntária de sua vida a ele.

E quando essa decisão é tomada e realizada, se diz que ele mesmo, que antes apenas batia à porta, agora vem habitar dentro do nosso ser. Sim, pois ele não forçará, não entrará e habitará em você sem sua permissão, não violará sua liberdade de escolha, por isso precisa decidir. E quando o fizer e ele habitar dentro de você, isto significa que o Logos, que é Vida e Luz (veja o mesmo trecho de João), fonte eterna, flui no lugar de sua vida transitória e de sua consciência provisória. Há uma nova vida, a vida Verdadeira, e uma nova Luz, a verdadeira consciência eterna, uma nova criação dentro de você (chamado de nova criatura e de novo homem). Mas isto não é tudo, este deve ainda ser desenvolvido, deve crescer e o velho eu-separado iludido (chamado de velho homem) deve diminuir. E nisso há uma parte que depende de nós, por isso precisamos de ajuda uns dos outros, por isso todo ensino, práticas, vivência, convivência...

Já no último nível citado há a rendição total a esta nova vida em nós, há rejeição de todo pensamento "próprio", de toda vontade "própria", de todo amor, apego e identificação habituais às coisas deste mundo e desta vida, até o pleno florescimento da mente verdadeira, do outro em mim, o novo homem, a nova criação, o Cristo, a mente de Cristo em mim. Esse processo é a gestação e formação até o pleno conhecimento e pleno desenvolvimento de Cristo em nós que é a imagem perfeita de Deus, ou seja, a manifestação "visível" do Eterno, invisível, em nós mesmos, sendo assim feitos filhos, como ele é Filho, se tornando um com ele assim como ele é um com o Pai. 

E isto é todo um processo que precisa ser aprendido, vivido e realizado, é a parte mais preciosa de tudo que estudamos e praticamos e ensinamos, pois queremos que todos cheguem à plenitude, sem passar por erros, enganos e sofrimentos desnecessários nessa caminhada. Por isso, a partir deste ponto, entramos num caminho além do psíquico, além do consciencial normal; entramos num caminho espiritual, supra consciencial e hiperconsciencial (pois chamamos de supra consciente e de hiper consciente, não de subconsciente e inconsciente como a psicologia normal: se estamos inconscientes dessas outras partes de nossa própria consciência é porque não acessamos a ela por nos isolarmos na ilusão da mente separada, devido a seus condicionamentos mundanos e pontos de vista limitados).

Precisamos adquirir uma nova visão, pois não basta entender isso, é preciso ver, e vendo compreender corretamente e assim realmente saber, não porque lemos ou ouvimos alguém dizer, mas por vivenciar toda essa realidade por nós mesmos, até a plenitude do conhecimento (epignosis). 


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