sexta-feira, 15 de março de 2013

Como somos gnósticos

A luz se manifesta do mundo de várias formas de acordo com os observadores, com as superficies, com a atmosfera, com o ângulo, etc. Com a luz espiritual ocorre algo parecido. A luz é impessoal, como sabemos “o sol nasce pra todos" e “a chuva cai do mesmo modo sobre os justos e sobre os injustos". Mas nisso mesmo reside a diferença, o justo não vê a chuva da mesma forma que o injusto nem a recebe da mesma forma. Bem assim se dá com a luz, cada um encherga de uma maneira diferente embora se nomei as coisas com o mesmo nome; na verdade esse fato é a origem de quase todas as confusões. Assim também é com a luz espiritual. Todos a recebem de alguma forma, todos a tem, mas poucos são capacitados para ver em sua inteira claridade, em sua força, em sua intensidade, em suas nuances, matizes, aspectos, seus detalhes, seus poderes, etc. E mesmo alguns que vêem em mais detalhe podem não saber o que fazer com isso... Para o bom entendedor, meia palavra basta.

Dessa maneira as diferentes formas de conhecimento e suas combinações resultam em perspectivas diferentes e modos de olhar diferente. Esse modos de olhar vão formar as lentes pelas quais enxergamos e essas perspectivas vão forma as diferentes explicações do que se acredita estar vendo, nossas projeções. Assim nascem as diferentes formas de religiões, ciências, filosofias, esoterismos e artes. O problema é que aos poucos o modo de ver ganha certa importância demasiada, mas logo depois, na história, se perde dando lugar ao exagero do ponto de vista, da explicação, ou seja, vira doutrina e a doutrina se torna mais importante que a realidade. Então a luz tem que ser novamente reestabelecida; o fogo de Prometeu tem que ser trazido novamente, atualizado para a nova mentalidade.

Se hoverem seres divinos superiores como as várias doutrinas apregoam, mesmo que fossem apenas extraterrenos, nós em comparação a eles somos como macaquinhos ou formigas, em inteligência, moral, tecnologia, arte, etc. Não é que tais seres sejam frios e impiedosos conosco ao ponto de ficarem assitindo como a um experimento, mas que nosso carater, digamos moral, tem uma espécie de programa que eles já sabem bem no que resulta mesmo quando ainda resida um pequeno traço desse programa. nós para ekles somos previsíveis como um computador é previsível para um especialista em computadores. Nós não estamos “prontos” para a verdade nem para uma realidade tão superior à nossa, mas não se costuma dizer que “quando o dicípulo está pronto o mestre aparece”? Se hover então um ser ou seres superiores que possam nos ajudar necessariamente é assim que acontece, e por esse programa em nosso carater conter um elemento muito perigoso, poderoso e incontrolável é que eles permanecem ocultos para a grande maioria. Não precisamos admitir a metade dessa idéia que fala de seres superiores para concordar com a outra metade, a de que somos seres com uma inteligência, apesar de variada em níveis dentre seres humanos, muito limitada em suas capacidades, sua racinalidade, força e principalmente no carater ético e moral.

Nosso grau de egoísmo normalmente é tal que beira a idiotia, disso sabe qualquer meditante experiente ou iniciado, e ainda filtramos nossa experiência de si mesmo projetando uma percepção que só costuma captar o nobre, o elevado, a tal ponto que qualquer um tem de si uma imagem que o coloca acima do mediano pelo menos, é claro: vivemos numa espécie de psicopatia que nos faz acreditar que conhecemos uns aos outros e que sabemos como os outros são só de olhar nos olhos, semelhante a uma intoxicação por cocaína, nos sentimos assim, visionários, conhecedores, adivinhos, conselheiros, superiores. E ainda vendo apenas o que nos interessa em nós. Na verdade é assim com tudo, só vemos, só enxergamos de acordo com nossos interesses, com nossa intensionalidade distocida projetamos uma imagem do mundo, das pessoas e de si mesmos. Isto é o normal, mas imagine aqueles muito humildes ou modestos, aqueles que se acham nada ou se acham um lixo, pode-se confiar em tais? Que diremos daqueles que se odeiam (não incluo aqui os que estão insatisfeitos consigo mesmos e querem mudar nem aqueles que reconhecem a baixeza humana normal e querem superar, estes são os buscadores sinceros, no mais alguém que odeia a si mesmo no geral oculta o carater de ogro selvagem)!.

Mas com certeza o pior disso é que temos alguns desses “programas”, não apenas um, e que apesar deles serem automáticos, nós acreditamos piamente que nós é que nos controlamos e o pior que somos assim porque queremos e decidimos ser. E não há nada que convença a um ser humano do contrário. A não ser certas práticas, a meditação e certos processos iniciáticos. Processos esses que permitirão que o indivíduo veja por si mesmo e como se estivesse em “câmera lenta”, os detalhes de vários mecanismos e programas, que são os condicionamentos, que agem por si sem que “ele” tenha qualquer participação. Sabemos que esse desvio pode chegar ao ponto da escravidão quase total por desviar a intencionalidade: é como se um louco fosse convencido de que todas as pulsões que surgem em sua mente são sua verdadeira essência e que ele deve atender todas as suas “vontades”. A intencionalidade é a força mais poderosa que existe, por causa dela não podemos mudar as coisas ao bel prazer, mas isto é explicado em outro ensaio. Aqui basta dizer que a nossa intensionalidade condicionada, por sua vez, condiciona o modo como percebemos e como sentimos e pensamos sobre o percebido. Por nossa intencionalidade estar completamente programada pelo descaso de milhares de aoens e biológica e culturalmente condicionada por milhares de gerações, não a podemos mover muito, nem alterar muito os fenômens que constituem a nossa vida. É preciso compreender as leis naturais sob as quais essa fenomenalidade é regida. A gnose tambem é o conhecimento dessas leis.

As manifestações da luz, ou melhor, a maneira como recebemos a luz origina, como foi dito acima, os diferentes modos de conhecimento, e dentre estes nascem as diferentes perspectivas. A luz é o que chamamos conhecimento, sabedoria, iniciação, iluminação, mas ela mesma é gnose. A luz ao mesmo tempo é tamém a consciência. Mas não a consciencia como estamos acostumados a conhecer, o que chamamos consciência é geramente a consciência de alguma coisa, não “a consciência mesma” ou “em si”, mas os objetos da consciência, ou seja, seu conteúdo, os fenômenos. Aquele que não aprendeu a meditar ao olhar para a consciência normalmente apenas olha para seu conteúdo. Essa consciência a que me refiro talvez seja impossível uma pessoa definir para outra claramente, como temos a intenção de ser entendidos (como não se pode explicar um sabor, fazendo com que o outro saiba exatamente apenas por ouvir), mas ela pode ser entendida a partir de comparações e símiles e pela diferenciação daquilo que ela não é. Isso apenas dará uma visão aproximada para que possamos entender. Para saber temos métodos, e também estudos para isso, mas isso ainda não é gnose. Não basta aplicar métodos, é indispenável atingir alguns resulatados a médio e longo praso. Gnose é experimentar essa consciência, conhecer por si mesmo, se dar conta dela no nível empírico, olhar diretamente para ela, conhecê-la e reconhecê-la.

Essa é a parte principal de nosso trabalho, o ponto de partida e também o ponto de chegada. Encontrar e reconhecer essa luz em sua verdadeira natureza dentro de si mesmo é o primeiro ponto, e ela será vista como uma fagulha no meio de tudo ou uma estrela no meio da escuridão. Porém ao final do trabalho, de toda caminhada, o adepto vê essa luz em tudo, que ela de tudo participa, que a tudo forma e a tudo contém, que ela é a única realidade, “tudo é luz”.

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